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12/06/2006 - 12h06

Varig já cancelou ao menos 7 vôos hoje, mas nega falta de combustível

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CLARICE SPITZ
da Folha Online, no Rio

Em grave crise financeira e com pouco dinheiro para pagar combustível e manutenção de aviões, a Varig já cancelou ao menos sete vôos hoje.

A empresa confirmou apenas que foi obrigada a cancelar quatro vôos entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo nesta manhã por falta de documento da aeronaves. Dois vôos tinham pouso previsto no aeroporto de Congonhas (SP) e dois no Santos Dumont (RJ).

Segundo a Infraero (empresa que administra os aeroportos brasileiros), entretanto, também foi cancelado um vôo entre Buenos e Rio de Janeiro nesta manhã. Já a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) confirmou que dois vôos entre o aeroporto de Congonhas (SP) e Belo Horizonte foram suspensos.

No final de semana, a Anac afirmou que quatro vôos internacionais deixaram de partir do aeroporto de Guarulhos (SP): um para Miami (EUA), outro para Nova York (EUA), um terceiro para a Cidade do México e o último para Santiago (Chile).

O presidente do conselho de administração da Varig, Humberto Rodrigues, afirmou que quatro aviões da companhia ficaram parados no último final de semana em decorrência de decisão judicial. Na sexta-feira passada, a juíza Karla Moskowitz, da Suprema Corte do Estado de Nova York, determinou que a Varig devolva à Boeing a partir de amanhã sete aviões por falta de pagamento.

Já os quatro vôos foram cancelados hoje por falta de documentação de aviões, e não porque não haveria caixa para arcar com despesas como combustíveis e taxas aeroportuárias. A frota da Varig soma 60 aviões, mas só 46 estão em operação.

"Tivemos alguns problemas operacionais ligados a manutenção, problemas operacionais e corriqueiros, e alguns problemas de ordem meteorológica", disse.

A Anac afirma, entretanto, que a Varig não apresentou nenhuma justificativa pelos cancelamentos até o momento.

Procurada, a assessoria da BR Distribuidora, empresa que fornece combustíveis à Varig, não quis fazer nenhuma comentário sobre o assunto.

Leilão

Os problemas de caixa da Varig são públicos e admitidos pelos seus próprios executivos. O juiz Luiz Roberto Ayoub, que cuida do caso Varig, adiantou o leilão de venda da empresa, realizado na semana passada, em mais de um mês porque não haveria caixa para que seus aviões continuassem a voar.

No leilão, a empresa obteve apenas uma oferta de compra, do TGV (Trabalhadores do Grupo Varig), que propôs pagar R$ 1,01 bilhão pelas operações domésticas e internacionais da Varig.

A Justiça do Rio deve se manifestar hoje sobre uma eventual invalidação da proposta. Sua rejeição deixaria a empresa aérea mais próxima da falência, já que na terça-feira o juiz Robert Drain, da Corte de Falências de Nova York, decidirá se mantém a proteção contra o arresto (apreensão) de aeronaves da empresa aérea.

A proposta da TGV é vista com ceticismo por credores porque prevê, entre outras coisas, que metade do pagamento de R$ 1,01 bilhão seria feito por meio da emissão de debêntures (títulos de dívida privada) e lucros futuros --ou seja, dinheiro que pode demorar a chegar ao bolso dos credores. Além disso, o grupo não informou como vai conseguir os outros R$ 285 milhões que deveriam ser pagos à vista.

Para que a Justiça confirme a validade do leilão, o TGV ainda precisa comprovar que tem condições de fazer o aporte de US$ 75 milhões previsto no edital que será necessário para dar continuidade aos vôos da empresa.

Na sexta-feira, o fundo Multilong Corporation, de um investidor chamado Michael Breslow, surpreendeu e apresentou uma proposta de US$ 800 milhões pela Varig, mas o pagamento seria financiado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Por isso, não haveria nada de concreto nessa oferta, segundo o Ministério Público.

Sem preconceitos

Marcelo Gomes, da consultoria Alvarez & Marsal, que coordena a reestruturação da companhia aérea, pediu na última sexta-feira que o juiz Luiz Roberto Ayoub, que cuida do caso, analise a proposta 'sem preconceitos'.

O juiz conversou com representantes da consultoria Alvarez & Marsal, Ministério Público e credores. Antes de tomar sua decisão, também deve falar com o juiz Robert Drain, de Nova York. Além disso, pediu mais esclarecimentos ao TGV.

Na sexta-feira, entretanto, o juiz deu dois sinais de que poderia rejeitar a proposta. Por meio de sua assessoria de imprensa, Ayoub afirmou que a proposta do grupo de funcionários é 'muito boa' para eles mesmos. Além disso, Ayoub disse que, caso rejeite essa oferta, abrirá novamente a possibilidade de que os outros quatro grupos habilitados para participar do leilão (TAM, Gol, OceanAir e o escritório de advocacia Ulhôa Canto, Rezende e Guerra) voltem a fazer propostas pela Varig.

O desinteresse dessas empresas no leilão refletiu dúvidas sobre se o comprador da Varig teria mesmo garantias de que não herdaria dívidas antigas da empresas aérea, principalmente trabalhistas e previdenciárias.

A Procuradoria Geral da Fazenda Nacional chegou a emitir um parecer favorável à não-sucessão das dívidas, condicionado, entretanto, a que o preço da oferta fosse suficiente para pagar todos os credores.

O preço mínimo inicial fixado pela Justiça para a venda da Varig era de US$ 860 milhões. Ainda que tivesse sido alcançado, o dinheiro já seria insuficiente para arcar com as dívidas da empresa com seus credores, estimadas em R$ 7,9 bilhões.

Recuperação judicial

A Varig está em recuperação judicial desde junho do ano passado. Foi a primeira grande empresa do país a se beneficiar desse processo, que substitui a concordata, já que a Nova Lei de Falências foi aprovada no dia 9 de junho de 2005 e a empresa entrou com pedido no dia 17 daquele mês.

Esse instrumento de recuperação protegeu a Varig de ações movidas por credores, ajudou a empresa a continuar voando, a iniciar um processo de reestruturação e sobreviver até o leilão.

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