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25/07/2006 - 13h10

Suspensão da Rodada Doha é uma "pausa", diz diretor da OMC

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VINICIUS ALBUQUERQUE
da Folha Online

A suspensão das negociações da Rodada Doha de liberalização do comércio mundial foi "apenas uma pausa", disse nesta terça-feira o diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy.

Lamy disse também à rádio France-Inter que ainda é muito cedo para se falar de fracasso da rodada. "É como no jogo de basquete, uma pausa". " Se as conseqüências ficarem claras para eles (...) então creio que os negociadores americanos, europeus e japoneses podem voltar, com posições um pouquinho mais compatíveis."

O diretor da OMC se recusou a culpar qualquer dos participantes do G6, formado por EUA, União Européia (UE), Japão, Austrália, Brasil e Índia, pela falta de um acordo na reunião ocorrida neste fim-de-semana, em Genebra (Suíça).

A posição de Lamy, no entanto, não foi compartilhada pelas partes envolvidas nas negociações. O comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, culpou os EUA; o secretário de Agricultura dos EUA, Mike Johanns, culpou Brasil, Índia e União Européia. O ministro do Comércio da Nova Zelândia, Phil Goff, culpou, por sua vez, todo o G6.

Na França, a ministra do Comércio Exterior, Christine Lagarde, disse que os EUA "não quiseram fazer o mínimo movimento em seu apoio doméstico à agricultura", referindo-se aos subsídios que o governo americano concede a seus produtores agrícolas.

A culpa, para a qual todos os envolvidos na rodada querem encontrar um alvo nesse jogo de empurra, é pela suspensão um processo de negociações lançadas em 2001 na cidade de Doha (capital do Qatar).

O processo entrou em fase de estagnação já em 2003, depois do impasse a que se chegou na reunião ministerial de Cancún (no México).

A razão do impasse: a recusa dos países desenvolvidos em cortar subsídios e redução de tarifas em seus setores agrícolas e a dos países em desenvolvimento em abrir seus setores industriais e de serviços.

Pouco antes da reunião ministerial de Hong Kong, em dezembro do ano passado, EUA, Japão e UE esboçaram cortes de subsídios e tarifas na área agrícola, mas não chegaram a um acordo sobre os números: os EUA pediram aos países desenvolvidos uma redução média de 66% nas tarifas sobre produtos agrícolas. A última oferta oficial da UE foi de 39%. Já o G20 (grupo de países em desenvolvimento liderado por Brasil e Índia) quer redução de 54%.

A reunião de Hong Kong encerrou com um compromisso de, até junho deste ano, chegar a um esboço de acordo.

Comemoração

A Federação Nacional dos Sindicatos da Exploração Agrícola (FNSEA) comemorou a suspensão das negociações.

"É uma boa notícia para todos os que pensam que o mundo deveria ser solidário e ter uma alma (...) É uma má notícia para os liberais, que são liberais para os outros, mas protecionistas em casa", anunciou a federação, em um comunicado.

O líder camponês e militante antiglobalização francês José Bové, concordou com a federação. "O egoísmo dos EUA e da UE está no centro do problema", disse Bové à rádio France-Inter. Ele criticou ainda "a vontade dos grandes poderes de impor, para benefício de suas multinacionais, suas regras, que são inaceitáveis para a maioria das pessoas no planeta".

Lamy disse concordar com Bové em um ponto: "As regras não são justas. Se as negociações fracassarem, elas continuarão injustas. Se queremos mudanças, temos de retomar as negociações".

Acordos bilaterais

A Índia buscará fechar acordos bilaterais com seus parceiros comerciais, como Japão e União Européia (UE), após a suspensão, por falta de acordo, das negociações da Rodada Doha, disse nesta terça-feira o ministro da Indústria e Comércio do país, Kamal Nath.

O ministro disse que o fracasso da Rodada Doha não vai limitar o crescimento econômico indiano. "Não vejo nenhum setor da economia indiana sendo prejudicado [por essa suspensão]", destacou Nath. "Estamos observando, examinando acordos de cooperação econômica com a UE. Estamos procurando cooperação com o Japão."

Lamento

A suspensão das negociações da Rodada Doha é "lamentável", disse nesta terça-feira o chefe de gabinete do governo japonês, Shinzo Abe. 'Embora a suspensão das negociações seja profundamente lamentável, não há mudança no compromisso do Japão de trazer a negociação de volta aos trilhos para chegar a um acordo', disse.

O país irá buscar acordos bilaterais, afirmou Abe, sem, no entanto, abandonar a busca pela retomada da Rodada Doha.

O ministro do Comércio da Austrália, Mark Vaile, disse que a rodada "está por um fio" e que o fim das negociações desapontaria os agricultores do país, que sofreram "sérias restrições" para colocar seus produtos no mercado europeu.

"É muito, muito importante para nossa indústria agrícola e nossas manufaturas ter mais acesso aos mercados mundiais, e isso irá retardar o processo", disse à rádio Australian Broadcasting. Ele destacou que o maior efeito negativo será sentido pelos países em desenvolvimento. "Esse sistema multilateral é a única esperança de ter maior acesso aos mercados nos países desenvolvidos."

Prazo apertado

As negociações da Rodada Doha têm um "prazo não-oficial" para serem concluídas: 2007, quando expira o "fast track", concedido elo Congresso americano ao presidente George W. Bush. O "fast track", ou TPA (Autoridade para Promoção Comercial), é uma autorização dada ao presidente Bush para, durante cinco anos, negociar acordos comerciais. O Congresso pode aprovar ou rejeitar (em um prazo de 90 dias) os acordos feitos por Bush, mas não pode modificar os acordos.

A expectativa de o presidente Bush conseguir a renovação do TPA, em um ano de eleição no Congresso (que sofre pressão considerável do lobby agrícola no país para a manutenção dos subsídios) e com baixos índices de aprovação popular, no entanto, é baixa.

Com agências internacionais

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