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30/08/2006
-
09h15
CLAUDIA ROLLI
da Folha de S.Paulo
Com a carta de demissão nas mãos, trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo diziam estar "revoltados" e se sentindo "traídos" pela montadora. Hoje, os metalúrgicos fazem novas assembléias para avaliar a continuidade da greve e podem definir novas formas de protesto.
Instantes antes de participar da assembléia que aprovou greve por tempo indeterminado na montadora, Gilvaldo Luiz dos Santos, 48, foi um dos primeiros a exibir o comunicado e chorar diante do anúncio.
"Nunca dei um cano na fábrica. Faltei quando estava doente e apresentei atestado. O que recebo de troco por ter dado o sangue durante 13 anos? Foi isso?" Metalúrgico do setor de armação, ele conta que foi chamado em uma sala por seu chefe, que informou que, no dia 21 de novembro, ele poderá passar no departamento pessoal.
Santos afirma ser portador de doença profissional adquirida na montadora. "Estou com cirurgia marcada para a próxima semana. Tenho hérnia de disco e posso provar que foi fruto de meu trabalho no setor de fundição durante dez anos."
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informa que, na convenção coletiva assinada com o setor automobilístico, está garantida estabilidade no emprego aos portadores de doença profissional e aos que sofreram acidente de trabalho.
A VW informou que, se houver casos de demissão de pessoas com estabilidade comprovada pela Previdência Social, essas dispensas serão reavaliadas pela companhia.
Funcionária há 22 anos da Volks, a metalúrgica Maria das Graças da Silva Pereira, 53, disse que não sabia como iria comunicar a família sobre a demissão. "Essa é a única empresa em que trabalhei durante toda a minha vida. Daqui sai o sustento de dois filhos e três netas [idades de 12, 8 e 4 anos] que moram comigo em Mauá."
Surpresa com a carta, a metalúrgica informou que não sabe o que vai fazer. "Como vou bater o meu cartão todos os dias, sabendo que no dia 21 de novembro serei demitida? O mais absurdo é que ouvi da chefia que não posso faltar", disse. "Sinto revolta e tristeza."
Há cerca de 15 dias, o metalúrgico Airton Pontes Alves, 46, diz que deu entrada na documentação necessária para requerer a aposentadoria, após 35 anos de trabalho. "Nem imaginava que nesta semana eu teria essa surpresa. Como demitem uma pessoa dessa forma? Não houve planejamento, nem disposição em negociar. Decidiram passar o facão mesmo."
Trabalhadores que não receberam a carta de demissão e que preferiram não se identificar disseram que desde segunda-feira o clima na fábrica é de "apreensão". Sem previsão de encerrar o impasse, a VW distribuiu comunicados internos, dizendo que, "sem acordo, não haverá pagamento de pacote para os que serão desligados".
No total foram distribuídas ontem 1.300 cartas a trabalhadores da produção e 500 a funcionários que estão alocados no centro de formação e estudo da empresa. Esse centro foi criado em 2003, quando a VW anunciou o projeto Autovisão para absorver parte dos funcionários já considerados "excedentes" naquela ocasião. Metade deles estuda no centro. A outra metade está em licença remunerada --eles aguardam em casa, recebendo salário, os planos da VW. Com o anúncio, já sabem: serão demitidos em 83 dias.
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da Folha de S.Paulo
Com a carta de demissão nas mãos, trabalhadores da Volkswagen de São Bernardo do Campo diziam estar "revoltados" e se sentindo "traídos" pela montadora. Hoje, os metalúrgicos fazem novas assembléias para avaliar a continuidade da greve e podem definir novas formas de protesto.
Instantes antes de participar da assembléia que aprovou greve por tempo indeterminado na montadora, Gilvaldo Luiz dos Santos, 48, foi um dos primeiros a exibir o comunicado e chorar diante do anúncio.
"Nunca dei um cano na fábrica. Faltei quando estava doente e apresentei atestado. O que recebo de troco por ter dado o sangue durante 13 anos? Foi isso?" Metalúrgico do setor de armação, ele conta que foi chamado em uma sala por seu chefe, que informou que, no dia 21 de novembro, ele poderá passar no departamento pessoal.
Santos afirma ser portador de doença profissional adquirida na montadora. "Estou com cirurgia marcada para a próxima semana. Tenho hérnia de disco e posso provar que foi fruto de meu trabalho no setor de fundição durante dez anos."
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informa que, na convenção coletiva assinada com o setor automobilístico, está garantida estabilidade no emprego aos portadores de doença profissional e aos que sofreram acidente de trabalho.
A VW informou que, se houver casos de demissão de pessoas com estabilidade comprovada pela Previdência Social, essas dispensas serão reavaliadas pela companhia.
Funcionária há 22 anos da Volks, a metalúrgica Maria das Graças da Silva Pereira, 53, disse que não sabia como iria comunicar a família sobre a demissão. "Essa é a única empresa em que trabalhei durante toda a minha vida. Daqui sai o sustento de dois filhos e três netas [idades de 12, 8 e 4 anos] que moram comigo em Mauá."
Surpresa com a carta, a metalúrgica informou que não sabe o que vai fazer. "Como vou bater o meu cartão todos os dias, sabendo que no dia 21 de novembro serei demitida? O mais absurdo é que ouvi da chefia que não posso faltar", disse. "Sinto revolta e tristeza."
Há cerca de 15 dias, o metalúrgico Airton Pontes Alves, 46, diz que deu entrada na documentação necessária para requerer a aposentadoria, após 35 anos de trabalho. "Nem imaginava que nesta semana eu teria essa surpresa. Como demitem uma pessoa dessa forma? Não houve planejamento, nem disposição em negociar. Decidiram passar o facão mesmo."
Trabalhadores que não receberam a carta de demissão e que preferiram não se identificar disseram que desde segunda-feira o clima na fábrica é de "apreensão". Sem previsão de encerrar o impasse, a VW distribuiu comunicados internos, dizendo que, "sem acordo, não haverá pagamento de pacote para os que serão desligados".
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