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Para bancos, emergentes vão bem, mas especuladores podem sair
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TONI SCIARRETTA
da Folha de S. Paulo
Os mercados emergentes nunca estiveram em uma posição tão privilegiada para enfrentar uma crise financeira internacional, mas correm o risco de perder capitais altamente especulativos que receberam nos últimos meses, caso operações financeiras de alto retorno --e risco-- tenham de ser desmontadas. A avaliação é do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, em inglês), organização que reúne 340 dos maiores bancos do mundo.
De acordo com o IIF, os países emergentes de um modo geral foram alvo nos últimos meses de operações chamadas de "carry trade", em que investidores tomam dinheiro emprestado com juro barato --geralmente no Japão, que tem taxa real negativa-- para aplicar em países com alto retorno, como o Brasil. O banco Morgan Stanley estima em US$ 1 trilhão o volume emprestado no Japão para essas operações.
Na operação, o especulador ganha duas vezes: com a diferença de juros entre os países e com a taxa de câmbio. Isso porque um dos efeitos no país alvo é a valorização de sua moeda --ou seja, o investidor entra no país, converte dólares em moeda local, que valerá mais ainda no momento de repatriação.
"As principais incertezas agora serão o quanto muitas dessas operações de 'carry trade' serão preservadas e o grau de flexibilidade dos mercados financeiros locais em lidarem com isso. A magnitude desse fluxo parece ter sido substancial, dado o enorme e persistente aumento das reservas internacionais nos países emergentes nos últimos meses."
O instituto cita nominalmente o caso do Brasil, que teve aumento de US$ 70 bilhões nas reservas internacionais de janeiro a julho deste ano apenas com o Banco Central absorvendo o excesso de dólares que entrava no país. Diz ainda que o real teve uma valorização de 15% em relação ao dólar devido, entre outros fatores, a essas operações especulativas.
Revertidas essas operações, as moedas e ativos dos emergentes poderiam perder parte do valor acumulado.
Por outro lado, o IIF afirma que os países emergentes, em particular o Brasil, mostraram forte resistência contra a contaminação da crise nas primeiras seis semanas de turbulência nos mercados. "O mercado brasileiro mostrou alguns sinais desse descolamento, com o real seguindo em ritmo forte na fase inicial da crise, enquanto pioravam as taxas da dívida externa brasileira", afirmou o relatório do IIF.
Apesar das preocupações de curto prazo com o fluxo de capitais, o instituto afirma que os países emergentes estão com suas contas externas e fiscais em ordem, altas reservas, economia em crescimento e inflação baixa. A única exceção lembrada é a Argentina, que enfrenta dificuldades por conta da moratória de 2001.
"Por padrões históricos, a recente reprecificação de risco na dívida dos emergentes é relativamente uma mancha pequena."
No longo prazo, o IIF afirma que uma eventual desaceleração da economia americana terá reflexos para os emergentes, particularmente, quanto ao consumo e o preço das commodities. "De fato, o fraco preço das commodities foi uma das formas de contaminação do choque asiático em 1997. Se os preços forem revertidos, será um baque significativo para várias economias emergentes."
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