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Ipea muda foco de atuação, diz Pochmann
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ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo, no Rio
O presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann, disse ontem que o foco de atuação do instituto mudou e que as análises conjunturais cederam importância para as pesquisas de planejamento de médio e longo prazo.
"A perspectiva de curto prazo é importante para os bancos e para as empresas, mas o país precisa de elementos adicionais a isso", afirmou. Segundo ele, a mudança de foco é uma volta às origens do Ipea, que foi criado em 1964, com a missão de pensar o longo prazo.
Pochmann disse que os técnicos do Ipea continuarão a avaliar a conjuntura, como elemento intrínseco ao planejamento de longo e médio prazos, mas esse deixará de ser o trabalho principal. "A Fazenda e o Banco Central já produzem análises conjunturais no âmbito do governo federal."
Desde que assumiu a presidência do instituto, em agosto último, Pochmann mudou os comandos de cinco das seis diretorias e da área de macroeconomia, no Rio de Janeiro.
Quatro economistas, considerados não alinhados ao pensamento econômico do governo, foram afastados: o coordenador do Grupo de Análise Conjuntural, Fabio Giambiagi, e os pesquisadores Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli.
Giambiagi e Tourinho são funcionários do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e estavam cedidos ao Ipea, por meio de um convênio assinado em janeiro de 2004. Os outros dois são aposentados do Ipea e continuavam prestando serviços como colabores, sem contrato formal.
Os quatro são tidos como neoliberais, defensores da redução de gastos públicos. O novo comando do Ipea é "desenvolvimentista" e defende o aumento dos gastos públicos para acelerar o crescimento.
Marcio Pochmann disse que todas as diretorias reformularão seus planos de trabalho para priorizar o planejamento de médio e longo prazos e que as novas pesquisas serão definidas em conjunto com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ele confirmou que o "Boletim de Conjuntura", publicação trimestral de cem páginas produzida pelo Grupo de Acompanhamento de Conjuntura, será reformulado, mas negou que vá ser substituído por uma "Carta do Ipea", de dez páginas.
"O 'Boletim' será modificado, mas não extinto. A mudança editorial ainda não foi definida. As pessoas que trabalham na área serão mantidas. A maior parte dos cargos de confiança é de funcionários do Ipea. Estão fazendo tempestade em copo d' àgua", declarou.
Cobrança
Pochmann voltou a negar que haja expurgo de dissidentes no Ipea e insistiu em que a dispensa dos quatro se deveu a problemas administrativos.
Disse que os aposentados estavam em situação irregular, sem contrato formal, e que o convênio com o BNDES está próximo do fim.
Segundo ele, Giambiagi e Tourinho terão de apresentar ao Ipea o relatório do trabalho previsto no convênio: uma pesquisa sobre o papel do BNDES no financiamento do desenvolvimento.
"Eles têm que entregar o relatório, pois tem dinheiro publico envolvido. Somos republicanos. Temos de agir dentro das normas. Se as pessoas saem de um lugar para outro com um objetivo, esse objetivo tem que ser cumprido."
Giambiagi não quis comentar a declaração do presidente do Ipea. Mas o BNDES disse, por meio de sua assessoria, que considera que os objetivos do convênio foram plenamente atendidos e que os dois fizeram uma prestação de contas à área de planejamento do banco.
Lessa
Giambiagi foi para o Ipea em 2004, quando Carlos Lessa, seu ex-professor e notório desenvolvimentista, era presidente do BNDES. Lessa saiu ontem em defesa de Pochmann. "Se o convênio terminou, Giambiagi deve retornar ao BNDES. Não vejo perseguição nisso." Lessa diz que Giambiagi é excelente pessoa, mas se tornou ultraconservador.
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