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27/06/2004
-
08h13
MARCELO BILLI
da Folha de S.Paulo
Na corrida da estabilização de preços, o Brasil chegou entre os últimos. É possível inclusive medir o atraso: no início dos anos 90, quando a maioria das economias já havia iniciado processos mais ou menos exitosos de combate à inflação, a economia brasileira ainda registrava taxa anual de alta de preços de nada modestos 2.700% --taxa de 1990.
Mesmo em 1993, a pouco mais de seis meses do lançamento do real, a alta, de acordo com as estatísticas do FMI (Fundo Monetário Internacional), ficou em mais de 2.000%. Naquele ano, a inflação argentina, por exemplo, era de 11%, a do Chile, de 13%.
O país chegou atrasado, mas não perdeu a onda de planos, programas e controles que, pelo menos até agora, varreu a hiperinflação e o descontrole de preços de quase todas as economias de relativa importância no mundo.
São vários os motivos que fizeram com que todos os países buscassem, com maior ou menor intensidade, estabilizar os preços. Os processos inflacionários distorcem os preços, corroem as poupanças da população, ajudam devedores, mas fazem com que credores percam dinheiro. Inflação alta também acaba distorcendo as funções de vários agentes econômicos, como aconteceu no Brasil com os bancos, que deixavam de emprestar recursos, dados os riscos do crédito em economias com altas inflações.
Já explicar por que um país como o Brasil demorou mais que a média para matar o dragão inflacionário é mais difícil. As circunstâncias eram diferentes no Brasil, o que ajuda a entender por que, ao contrário de períodos anteriores, a população não saiu às ruas em passeatas contra "a carestia".
O porquê
Nenhum país desenvolveu, como o Brasil, instrumentos tão sofisticados de indexação de preços. O Brasil é dos únicos que tinham opções de investimentos financeiros com rendimentos diários, corrigidos por índices de preços. Isso ajudava pelo menos a parte da população que tinha acesso ao sistema financeiro a proteger seus rendimentos da inflação.
A inflação também ajuda os governos. Durante processos inflacionários é mais fácil gastar mais do que se arrecada, e a alta de preços ajuda a financiar o déficit do governo. "Mas explicar o porquê do atraso não dá. Não existe hoje um estudo empírico que mostre até que ponto os benefícios da inflação superam os custos e quando a pressão social torna-se forte o suficiente para obrigar o governo a agir", diz o economista Sérgio Werlang, do Banco Itaú.
Os economistas não conseguem explicar o porquê, mas o fato, todos concordam, é que a população brasileira já não estava mais disposta a suportar descontroles de preços a partir da hiperinflação do início da década de 90.
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Controle da inflação foi obtido com atraso
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da Folha de S.Paulo
Na corrida da estabilização de preços, o Brasil chegou entre os últimos. É possível inclusive medir o atraso: no início dos anos 90, quando a maioria das economias já havia iniciado processos mais ou menos exitosos de combate à inflação, a economia brasileira ainda registrava taxa anual de alta de preços de nada modestos 2.700% --taxa de 1990.
Mesmo em 1993, a pouco mais de seis meses do lançamento do real, a alta, de acordo com as estatísticas do FMI (Fundo Monetário Internacional), ficou em mais de 2.000%. Naquele ano, a inflação argentina, por exemplo, era de 11%, a do Chile, de 13%.
O país chegou atrasado, mas não perdeu a onda de planos, programas e controles que, pelo menos até agora, varreu a hiperinflação e o descontrole de preços de quase todas as economias de relativa importância no mundo.
São vários os motivos que fizeram com que todos os países buscassem, com maior ou menor intensidade, estabilizar os preços. Os processos inflacionários distorcem os preços, corroem as poupanças da população, ajudam devedores, mas fazem com que credores percam dinheiro. Inflação alta também acaba distorcendo as funções de vários agentes econômicos, como aconteceu no Brasil com os bancos, que deixavam de emprestar recursos, dados os riscos do crédito em economias com altas inflações.
Já explicar por que um país como o Brasil demorou mais que a média para matar o dragão inflacionário é mais difícil. As circunstâncias eram diferentes no Brasil, o que ajuda a entender por que, ao contrário de períodos anteriores, a população não saiu às ruas em passeatas contra "a carestia".
O porquê
Nenhum país desenvolveu, como o Brasil, instrumentos tão sofisticados de indexação de preços. O Brasil é dos únicos que tinham opções de investimentos financeiros com rendimentos diários, corrigidos por índices de preços. Isso ajudava pelo menos a parte da população que tinha acesso ao sistema financeiro a proteger seus rendimentos da inflação.
A inflação também ajuda os governos. Durante processos inflacionários é mais fácil gastar mais do que se arrecada, e a alta de preços ajuda a financiar o déficit do governo. "Mas explicar o porquê do atraso não dá. Não existe hoje um estudo empírico que mostre até que ponto os benefícios da inflação superam os custos e quando a pressão social torna-se forte o suficiente para obrigar o governo a agir", diz o economista Sérgio Werlang, do Banco Itaú.
Os economistas não conseguem explicar o porquê, mas o fato, todos concordam, é que a população brasileira já não estava mais disposta a suportar descontroles de preços a partir da hiperinflação do início da década de 90.
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