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19/12/2004 - 09h10

Empresas de Edemar receberam R$ 2,55 bi

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MARIO CESAR CARVALHO
da Folha de S.Paulo

Enquanto o Banco Santos definhava, as empresas não-financeiras de Edemar Cid Ferreira receberam R$ 2,55 bilhões entre junho de 1998 e novembro deste ano, de acordo com uma planilha eletrônica obtida pela Folha.

O dinheiro foi conseguido com a venda de debêntures das não-financeiras e de créditos de exportação para empresas que recorriam ao Banco Santos porque tinham dificuldades para obter crédito no mercado ou porque buscavam aplicações com rentabilidade acima da média.

Para ter uma idéia do que são R$ 2,55 bilhões, é pouco mais do que a Prefeitura de São Paulo gasta por ano na área de saúde. O Banco Santos e duas empresas financeiras de Edemar estão sob intervenção do Banco Central desde 12 de novembro, por causa de um rombo que pode ir de R$ 700 milhões a mais de R$ 1 bilhão. As empresas do banqueiro que receberam R$ 2,55 bilhões estão fora da intervenção do BC.

A planilha com as operações, intitulada "Garantias "M" em Vigência", era chamada dentro do Banco Santos de "Arquivo X", uma referência direta ao seriado de TV, pelos mistérios que continha. A Folha confirmou a autenticidade do documento com cinco empresas cujas operações estão na planilha.

O documento traz o resultado de 1.278 operações nas quais o Banco Santos condiciona a concessão de empréstimos, financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ou venda de créditos de exportação à aplicação de parte dos recursos nas empresas não-financeiras de Edemar.

A compra de debêntures (títulos de dívida que as empresas lançam para captar recursos) por empresas que tinham dificuldades em conseguir crédito era tratada como uma garantia extra para o banco.

Se a empresa não pagasse o empréstimo, o banco poderia ficar com as debêntures como garantia -daí o título da planilha. Entre outras empresas, aparecem na planilha a CCE, os hotéis Othon e a Varig Logística.

O editor e a casa do agricultor

A empresa que mais vendeu debêntures nas 1.278 operações detalhadas na planilha é a Santospar --foram R$ 983 milhões no prazo de seis anos. A Santospar, como a Folha revelou na última quarta-feira, é presidida por Alessandra de Souza Petri, uma vendedora desempregada que mora numa casa de fundos na Vila Formosa, cujo aluguel é de R$ 400.

Numa procuração obtida pela Folha em cartórios, Alessandra "obriga-se a indenizar e a isentar os diretores (...) de quaisquer responsabilidades, ações, processos e reivindicações, reclamações, demandas e despesas". A Santospar, por intermédio de seu advogado, afirma que ela não é "laranja".

A Quality, que tem como procurador Pedro Paulo de Sena Madureira, recebeu R$ 164,2 milhões. Amigo de Edemar desde 1993, o editor reconhece sua assinatura nos documentos pelos quais tornou-se procurador da Quality e de uma das empresas que aparecem na sociedade, a Duke of Wales.

Sena Madureira, no entanto, não sabe explicar o que faz a empresa. Diz a amigos que a única Quality que conhece é a margarina. Ele é também vice-presidente da Brasil Connects, o braço cultural de Edemar que recebeu R$ 150 milhões da Maremar, empresa da mulher do banqueiro. O dinheiro, segundo ele, foi usado para reformar a Oca (no parque Ibirapuera) e montar a exposição mostrada em Nova York e em Lisboa.

A InvestSantos, empresa que é presidida por Edemar e tem o Banco Santos como sócio, recebeu R$ 251 milhões entre a venda de debêntures e de créditos de exportação, de acordo com a planilha. A antiga sede da InvestSantos, registrada nos documentos da Junta Comercial, é uma loja de produtos agrícolas em Barueri, a Cieracon -- Casa do Fazendeiro.

Problemas para obter crédito

A pergunta óbvia é: por que as grandes empresas compravam debêntures de empresas presididas por uma vendedora desempregada ou que tem sua sede em uma loja de produtos agrícolas?

Havia pelo menos três boas razões, segundo o advogado João Alberto Graça: as empresas tinham dificuldades para obter crédito em outros bancos, o rendimento oferecido por Edemar era atraente e os emissores das debêntures apareciam como coligadas ao Banco Santos.

"Não dá para os advogados dizerem agora que essas empresas não têm vínculo com o Banco Santos. Há inúmeras cartas de diretores do banco nessas operações. Eram eles que diziam o local e a conta da contrapartida", diz.

Um exemplo hipotético ajuda a entender melhor o mecanismo usado pelo banco para remeter dinheiro para as não-financeiras. Uma empresa que tem dificuldades para obter crédito pede R$ 75 milhões ao Banco Santos. Como o risco é alto, o banco exige como contrapartida a compra de R$ 60 milhões em debêntures. A empresa que não conseguia empréstimo nenhum fica com pelo menos R$ 15 milhões e o banco transfere R$ 60 milhões para uma empresa não-financeira de Edemar. Quem envia o dinheiro para a não-financeira é a empresa que tomou o empréstimo, não o banco.

Dois economistas ouvidos pela Folha classificaram o mecanismo de "golpe de mestre".

Como a competência do Banco Central é limitada às empresas financeiras, o advogado João Casillo, que defende empresas que têm recursos retidos no Banco Santos, diz que "esse formalismo protege o banqueiro".

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