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29/08/2002
-
10h16
da Folha de S.Paulo
Entre as várias razões que poderiam justificar o estudo da matemática na escola, uma das mais importantes é a relação entre o conhecimento matemático e os direitos do consumidor. Vejamos exemplos nos quais a matemática elementar ajudaria o cidadão a filtrar informações apresentadas na mídia sem a devida consistência.
Recentemente, um telejornal realizou uma pesquisa em diversos bairros de São Paulo para saber a aceitação popular dos administradores regionais. Na pesquisa, uma amostra da população era convidada a dar nota de zero a dez para o administrador. A gafe numérica da matéria vem à tona quando o jornalista anuncia os resultados para um administrador regional: "O senhor obteve nota 5 na avaliação popular, o que quer dizer que 50% dos eleitores aprovam sua administração".
Para ilustrar o engano cometido na informação, imagine uma situação simplificada em que votam apenas três eleitores e suas notas para o administrador são iguais a 7, 6 e 2. Neste caso, a média do administrador é 5, mas ele obteve mais de 50% dos eleitores atribuindo nota acima da média ao seu trabalho.
Por outro lado, se as notas dos três eleitores fossem 9, 4 e 2 , a nota média também seria igual a 5, mas agora teríamos apenas cerca de 33% de notas acima da média. Se nessa pesquisa o engano talvez não tenha implicado maiores conseqüências, convido o leitor a investigar o caso do rótulo de um conhecido refrigerante light líder do mercado.
Na embalagem de dois litros desse refrigerante, existe uma informação contraditória que, a princípio, sugere propaganda enganosa. Logo abaixo da indicação de volume do refrigerante, o fabricante informa que dois litros do produto têm 9 kcal.
Ocorre que, no mesmo rótulo, uma tabela de valores nutricionais referentes a 200 ml do refrigerante indica a presença de 0 kcal nesse volume de refrigerante. Fazendo os cálculos com proporção simples, se temos 9 kcal em 2.000 ml do refrigerante, deveríamos ter 0,9 kcal em 200 ml do mesmo produto, e não 0 kcal, como anunciado na tabela.
Como nenhum dos números da tabela apresenta casa decimal depois da vírgula, talvez a empresa justifique a informação como decorrência de uma aproximação de valores, o que ainda assim constitui argumento pouco razoável uma vez que o número inteiro mais próximo de 0,9 é 1, e não zero. Talvez fosse o caso de perguntarmos ao fabricante se um consumidor com dieta severa de calorias estaria ou não ingerindo 0 kcal após tomar cinco ou dez copos de 200 ml desse refrigerante.
José Luiz Pastore Mello é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
Leia mais:
Química: Quando o próprio sangue pode matar
Atualidades: Zimbábue confisca terras de fazendeiros brancos
Biologia: Ciência procura chave da longevidade
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Matemática: A mídia e os erros
JOSÉ LUIZ PASTORE MELLOda Folha de S.Paulo
Entre as várias razões que poderiam justificar o estudo da matemática na escola, uma das mais importantes é a relação entre o conhecimento matemático e os direitos do consumidor. Vejamos exemplos nos quais a matemática elementar ajudaria o cidadão a filtrar informações apresentadas na mídia sem a devida consistência.
Recentemente, um telejornal realizou uma pesquisa em diversos bairros de São Paulo para saber a aceitação popular dos administradores regionais. Na pesquisa, uma amostra da população era convidada a dar nota de zero a dez para o administrador. A gafe numérica da matéria vem à tona quando o jornalista anuncia os resultados para um administrador regional: "O senhor obteve nota 5 na avaliação popular, o que quer dizer que 50% dos eleitores aprovam sua administração".
Para ilustrar o engano cometido na informação, imagine uma situação simplificada em que votam apenas três eleitores e suas notas para o administrador são iguais a 7, 6 e 2. Neste caso, a média do administrador é 5, mas ele obteve mais de 50% dos eleitores atribuindo nota acima da média ao seu trabalho.
Por outro lado, se as notas dos três eleitores fossem 9, 4 e 2 , a nota média também seria igual a 5, mas agora teríamos apenas cerca de 33% de notas acima da média. Se nessa pesquisa o engano talvez não tenha implicado maiores conseqüências, convido o leitor a investigar o caso do rótulo de um conhecido refrigerante light líder do mercado.
Na embalagem de dois litros desse refrigerante, existe uma informação contraditória que, a princípio, sugere propaganda enganosa. Logo abaixo da indicação de volume do refrigerante, o fabricante informa que dois litros do produto têm 9 kcal.
Ocorre que, no mesmo rótulo, uma tabela de valores nutricionais referentes a 200 ml do refrigerante indica a presença de 0 kcal nesse volume de refrigerante. Fazendo os cálculos com proporção simples, se temos 9 kcal em 2.000 ml do refrigerante, deveríamos ter 0,9 kcal em 200 ml do mesmo produto, e não 0 kcal, como anunciado na tabela.
Como nenhum dos números da tabela apresenta casa decimal depois da vírgula, talvez a empresa justifique a informação como decorrência de uma aproximação de valores, o que ainda assim constitui argumento pouco razoável uma vez que o número inteiro mais próximo de 0,9 é 1, e não zero. Talvez fosse o caso de perguntarmos ao fabricante se um consumidor com dieta severa de calorias estaria ou não ingerindo 0 kcal após tomar cinco ou dez copos de 200 ml desse refrigerante.
José Luiz Pastore Mello é professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo
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