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05/12/2002
-
11h28
da Folha de S.Paulo
A transição do império para a república foi marcada por uma série de transformações importantes nos planos econômico, social e político.
No plano econômico, aprofundou-se a integração e a subordinação da economia cafeeira ao sistema financeiro, sobretudo inglês. No político, a centralização política-administrativa do império cedeu lugar ao federalismo republicano e, no plano social, o fim da escravidão e a intensificação da imigração generalizaram o trabalho livre, criando as condições internas para a propagação do capitalismo.
Mas a transição republicana não fugiu à regra que marca os processos de transição no Brasil: ela também pagou um enorme tributo ao passado. Apesar das transformações, inúmeras persistências teimavam em manter o país solidamente atado à violência e à barbárie de extração colonial.
O fim da escravidão sem a realização da reforma agrária condenou os negros à marginalidade, perpetuando a exclusão social e política em novas condições.
A permanência dos latifúndios e da miséria no campo foram responsáveis pela explosão de conflitos mortíferos como o de Contestado (1912/15) e o de Canudos (1896/97), guerra na qual, como bem constatou Euclides da Cunha em "Os Sertões", as maiores barbaridades foram cometidas pelos "civilizados".
A implantação da república também não significou a universalização da cidadania, pois os direitos civis das camadas pobres e humildes permaneceram solenemente desrespeitados. Esse problema manifestou-se de forma explícita na Revolta da Vacina (1904), quando a população pobre e humilde do Rio de Janeiro, indignada por ser tratada como gado numa campanha truculenta de vacinação, se rebelou e destruiu a cidade.
A discriminação e a violência continuavam a marcar presença, por exemplo, na Marinha brasileira, pois, até 1910, os marujos, quase todos negros, eram amarrados nos mastros centrais dos navios e espancados com chibatas, às vezes até a morte, sempre que cometiam uma infração disciplinar. Só a Revolta da Chibata, motim liderado pelo marinheiro João Cândido, pôs fim a essa manifestação de barbárie que apresentava a Marinha brasileira como uma metáfora do engenho.
Muitas dessas persistências ainda não foram superadas e se mantêm como desafios para a construção de uma verdadeira república entre nós.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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História: A transição republicana e suas transformações
ROBERSON DE OLIVEIRAda Folha de S.Paulo
A transição do império para a república foi marcada por uma série de transformações importantes nos planos econômico, social e político.
No plano econômico, aprofundou-se a integração e a subordinação da economia cafeeira ao sistema financeiro, sobretudo inglês. No político, a centralização política-administrativa do império cedeu lugar ao federalismo republicano e, no plano social, o fim da escravidão e a intensificação da imigração generalizaram o trabalho livre, criando as condições internas para a propagação do capitalismo.
Mas a transição republicana não fugiu à regra que marca os processos de transição no Brasil: ela também pagou um enorme tributo ao passado. Apesar das transformações, inúmeras persistências teimavam em manter o país solidamente atado à violência e à barbárie de extração colonial.
O fim da escravidão sem a realização da reforma agrária condenou os negros à marginalidade, perpetuando a exclusão social e política em novas condições.
A permanência dos latifúndios e da miséria no campo foram responsáveis pela explosão de conflitos mortíferos como o de Contestado (1912/15) e o de Canudos (1896/97), guerra na qual, como bem constatou Euclides da Cunha em "Os Sertões", as maiores barbaridades foram cometidas pelos "civilizados".
A implantação da república também não significou a universalização da cidadania, pois os direitos civis das camadas pobres e humildes permaneceram solenemente desrespeitados. Esse problema manifestou-se de forma explícita na Revolta da Vacina (1904), quando a população pobre e humilde do Rio de Janeiro, indignada por ser tratada como gado numa campanha truculenta de vacinação, se rebelou e destruiu a cidade.
A discriminação e a violência continuavam a marcar presença, por exemplo, na Marinha brasileira, pois, até 1910, os marujos, quase todos negros, eram amarrados nos mastros centrais dos navios e espancados com chibatas, às vezes até a morte, sempre que cometiam uma infração disciplinar. Só a Revolta da Chibata, motim liderado pelo marinheiro João Cândido, pôs fim a essa manifestação de barbárie que apresentava a Marinha brasileira como uma metáfora do engenho.
Muitas dessas persistências ainda não foram superadas e se mantêm como desafios para a construção de uma verdadeira república entre nós.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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