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01/03/2006
-
09h54
FÁBIO TAKAHASHI
da Folha de S.Paulo
Apesar dos protestos na universidade, a Arquidiocese de São Paulo manterá seu poder de decisão na PUC-SP. A avaliação é da própria reitora da instituição, Maura Bicudo Véras.
A ação da igreja na PUC se intensificou no último dia 10, quando o cardeal dom Cláudio Hummes, que ocupa o principal cargo da universidade, alterou a formação da Fundação São Paulo (mantenedora da instituição), para que a igreja ficasse com a função de acabar com um déficit mensal de R$ 4,3 milhões.
A ação foi vista por representantes de professores, funcionários e alunos como uma intervenção da igreja na instituição, o que abalou sua autonomia. O Conselho Universitário (principal órgão da PUC) repudiou as demissões.
A Arquidiocese nega que a medida tenha sido uma intervenção, pois a reitora permanece na secretaria-executiva da fundação --apesar de ela não possuir mais o poder de decisão. Considerando o corte feito pela reitoria, a universidade perdeu 30% dos docentes e funcionários.
Em entrevista à Folha, Véras afirma ser preciso um posicionamento claro das funções dela e da igreja para que o plano de reestruturação possa ser posto em prática. Leia a seguir trechos da entrevista com Véras, 63, concedida na noite da última sexta-feira.
Folha - Como fica a PUC após os cortes?
Maura Bicudo Véras - Ainda estamos em meio ao processo [de adequação]. A situação está controlada em muitos cursos, mas é possível que haja carência em outros. O importante é que a PUC continua sendo uma universidade muito importante no país.
Um indicador claro de qualidade é que uma boa universidade normalmente tem um professor para cada 30 alunos na graduação. Na PUC, tínhamos um para cada 11 e, agora, é um para cada 14. Nossas salas não ultrapassam 50 alunos. A pós-graduação strictu sensu [mestrado e doutorado] mantém um professor para cada 12 alunos. E, mesmo com toda essa crise, foi mantida a procura pelos nossos cursos. No último vestibular, houve 4.500 matrículas, mesmo número do ano passado.
Folha - Haverá novos cortes?
Véras - Ainda precisamos fazer alguns ajustes, não necessariamente no corpo docente. O que precisamos é aumentar a receita. Estudamos a criação de 15 cursos [na graduação]. Alguns já estão em processo de aprovação. Estão adiantados os cursos de tecnologia superior, de dois anos e meio de duração. Também deveremos ter uma graduação em gerontologia. Para o próximo vestibular do meio do ano, em junho, queremos ter mil novas vagas [no ano passado, foram 200].
A segunda parte desse plano é a Cogeae [coordenadoria responsável por cursos como especialização e MBAs], que hoje representa 12% da nossa receita. Atualmente, temos 12 mil alunos nesses cursos. Queremos dobrar isso até o final do ano. Também vamos aumentar parcerias e convênios.
Folha - Mas como os novos cursos podem gerar receita extra se há uma demanda maior de docentes?
Véras - Em 2005, elaboramos um procedimento para que houvesse uma maximização da carga de trabalho dentro da sala de aula. O professor-mestre, por exemplo, tinha 40% da jornada dentro da sala de aula e 60% fora. Hoje ele vai ficar 50% na sala. Quando se cria um curso, pode-se trazer alunos com os mesmos docentes.
Folha - A secretaria-executiva da Fundação São Paulo continua igual [com dois padres e a reitora, em que ela é voto vencido]?
Véras - Estou me empenhando em manter o diálogo com a nossa mantenedora. Terá de haver esse diálogo. Para a nossa pauta de trabalho, precisa haver clareza dessa convivência entre mantenedora e mantida. Espero que seja assim: a mantenedora nos mostra o montante de recursos que teremos e nós o administramos.
Folha - Simbolicamente, o que representou esse processo?
Véras - Foi um impacto inusitado, nunca tivemos uma situação parecida com essa. Agora, é reconstruir a normalidade institucional. Temos de dar um tempo para que recuperemos a alegria da PUC. Vai demorar um pouco, mas acredito na superação.
Folha - A senhora pensou em renunciar?
Véras - No dia do Tuca, isso ficou explícito [em 22 de dezembro, ela convocou uma reunião no teatro da PUC. Dom Cláudio Hummes havia ameaçado fazer uma intervenção na universidade, pois os cortes até então representavam apenas 50% da meta]. Tomei a decisão [de ficar] naquele dia. A comunidade não merecia que eu desistisse. Se fui eleita, é porque represento um projeto.
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Apesar dos protestos na universidade, a Arquidiocese de São Paulo manterá seu poder de decisão na PUC-SP. A avaliação é da própria reitora da instituição, Maura Bicudo Véras.
A ação da igreja na PUC se intensificou no último dia 10, quando o cardeal dom Cláudio Hummes, que ocupa o principal cargo da universidade, alterou a formação da Fundação São Paulo (mantenedora da instituição), para que a igreja ficasse com a função de acabar com um déficit mensal de R$ 4,3 milhões.
A ação foi vista por representantes de professores, funcionários e alunos como uma intervenção da igreja na instituição, o que abalou sua autonomia. O Conselho Universitário (principal órgão da PUC) repudiou as demissões.
A Arquidiocese nega que a medida tenha sido uma intervenção, pois a reitora permanece na secretaria-executiva da fundação --apesar de ela não possuir mais o poder de decisão. Considerando o corte feito pela reitoria, a universidade perdeu 30% dos docentes e funcionários.
Em entrevista à Folha, Véras afirma ser preciso um posicionamento claro das funções dela e da igreja para que o plano de reestruturação possa ser posto em prática. Leia a seguir trechos da entrevista com Véras, 63, concedida na noite da última sexta-feira.
Folha - Como fica a PUC após os cortes?
Maura Bicudo Véras - Ainda estamos em meio ao processo [de adequação]. A situação está controlada em muitos cursos, mas é possível que haja carência em outros. O importante é que a PUC continua sendo uma universidade muito importante no país.
Um indicador claro de qualidade é que uma boa universidade normalmente tem um professor para cada 30 alunos na graduação. Na PUC, tínhamos um para cada 11 e, agora, é um para cada 14. Nossas salas não ultrapassam 50 alunos. A pós-graduação strictu sensu [mestrado e doutorado] mantém um professor para cada 12 alunos. E, mesmo com toda essa crise, foi mantida a procura pelos nossos cursos. No último vestibular, houve 4.500 matrículas, mesmo número do ano passado.
Folha - Haverá novos cortes?
Véras - Ainda precisamos fazer alguns ajustes, não necessariamente no corpo docente. O que precisamos é aumentar a receita. Estudamos a criação de 15 cursos [na graduação]. Alguns já estão em processo de aprovação. Estão adiantados os cursos de tecnologia superior, de dois anos e meio de duração. Também deveremos ter uma graduação em gerontologia. Para o próximo vestibular do meio do ano, em junho, queremos ter mil novas vagas [no ano passado, foram 200].
A segunda parte desse plano é a Cogeae [coordenadoria responsável por cursos como especialização e MBAs], que hoje representa 12% da nossa receita. Atualmente, temos 12 mil alunos nesses cursos. Queremos dobrar isso até o final do ano. Também vamos aumentar parcerias e convênios.
Folha - Mas como os novos cursos podem gerar receita extra se há uma demanda maior de docentes?
Véras - Em 2005, elaboramos um procedimento para que houvesse uma maximização da carga de trabalho dentro da sala de aula. O professor-mestre, por exemplo, tinha 40% da jornada dentro da sala de aula e 60% fora. Hoje ele vai ficar 50% na sala. Quando se cria um curso, pode-se trazer alunos com os mesmos docentes.
Folha - A secretaria-executiva da Fundação São Paulo continua igual [com dois padres e a reitora, em que ela é voto vencido]?
Véras - Estou me empenhando em manter o diálogo com a nossa mantenedora. Terá de haver esse diálogo. Para a nossa pauta de trabalho, precisa haver clareza dessa convivência entre mantenedora e mantida. Espero que seja assim: a mantenedora nos mostra o montante de recursos que teremos e nós o administramos.
Folha - Simbolicamente, o que representou esse processo?
Véras - Foi um impacto inusitado, nunca tivemos uma situação parecida com essa. Agora, é reconstruir a normalidade institucional. Temos de dar um tempo para que recuperemos a alegria da PUC. Vai demorar um pouco, mas acredito na superação.
Folha - A senhora pensou em renunciar?
Véras - No dia do Tuca, isso ficou explícito [em 22 de dezembro, ela convocou uma reunião no teatro da PUC. Dom Cláudio Hummes havia ameaçado fazer uma intervenção na universidade, pois os cortes até então representavam apenas 50% da meta]. Tomei a decisão [de ficar] naquele dia. A comunidade não merecia que eu desistisse. Se fui eleita, é porque represento um projeto.
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