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18/12/2000 - 21h33

Estudantes de comunicação fazem pronunciamento sobre provão

da Folha Online

A Enecos (Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social) divulgou hoje um pronunciamento sobre o desempenho das faculdades de jornalismo no Exame Nacional de Cursos, o provão.

Em razão de boicote ao exame, muitos estudantes entregaram a prova em branco, o que deve abaixar as notas dos cursos. Os estudantes da faculdade Cásper Lìbero já divulgaram que tiraram nota E, contra o A do ano passado.

Leia abaixo a íntegra do pronunciamento:

"À imprensa e a toda a sociedade brasileira,

Mais uma vez, a reprovação dos estudantes de jornalismo de todo o país ao Exame Nacional de Cursos está atestada por um alto percentual de provas entregues em branco, que este ano beirou os 15%, e por um ranking completamente desvirtuado, fruto da adesão dos estudantes das principais escolas de comunicação social ao boicote ao exame.

A Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social - Enecos - , em diversas oportunidades, manifestou-se contrária à aplicação desse equivocado exame, entendendo-o como parte de um projeto para a educação superior que repudiamos por promover, cada vez mais, um ensino tecnicista, meramente mercadológico, que entende a universidade de forma restrita e mecânica, não como uma instituição cuja dinamicidade produz e compartilha conhecimento.

A Enecos é contra o provão porque é a favor de uma avaliação institucional de verdade, construída em conjunto com a comunidade acadêmica, não que seja simplesmente imposta de cima para baixo, o que fere, inclusive, a autonomia universitária. As universidades devem ter papel ativo no processo de avaliação, para que esse seja mais que um caro show de mídia, como o é o provão, mas para que possa, de fato, transformar positivamente o ensino superior brasileiro.

Mas ao invés disso, o MEC aposta num sistema baseado na competição, num ranqueamento tolo cujo maior sentido é privilegiar os conhecidos mercenários da educação, pois eles continuarão a enganar seus estudantes, que, provavelmente, sair-se-ão bem no provão, afinal, estarão sendo preparados para esse fim. Enquanto isso, o MEC se exime da responsabilidade de zelar pela qualidade do ensino superior, assumindo o papel de um mero fiscal, que, em vez de transformar, prefere punir.

É engano crer que esse exame seria útil após reparadas as suas graves falhas técnicas, como a utilização da curva de Gauss para a distribuição de conceitos. Não seria, porque há um conceito de educação e de universidade bem definidos por trás do provão: não é à toa que a pesquisa, a produção de conhecimento e a extensão universitária, esse rico diálogo entre universidade e sociedade são ignorados pelo 'provão'.

A lógica contemplada por esse exame é a do ensino tecnicista, não visando à formação de profissionais
críticos, aptos a, através da sua área de conhecimento, interferirem na sociedade na qual estão inseridos. A única coisa que o 'provão' prova é que o governo federal não está interessado em promover uma real avaliação do ensino superior brasileiro.

A Enecos aproveita para registrar seu desprezo pela opção encontrada por certas universidades a fim de melhorarem seus conceitos frente ao 'provão', tais como isenção de mensalidades e sorteios de carros entre os alunos que obtém as notas mais elevadas no exame.

Esse tipo de iniciativa, assim como os famosos 'cursinhos para o provão', que o MEC encara com tanta naturalidade, só mostram o quão nocivas são as conseqüências dessa política. Tão nocivas que dois estudantes de Santos sofreram represálias e ameaças por terem promovido o boicote ao exame em sua escola. Outra lição em que o 'provão' foi reprovado: a liberdade de expressão.

Por tudo isso, a Enecos pede o fim do provão, e que o senhor ministro da Educação seja capaz de descer do conforto de sua posição autoritária para promover uma real discussão sobre avaliação institucional com as universidades. Só ao final de um processo como esse é que se pode chegar a um (ou mais) modelo a ser implementado. Porque só aí ele terá legitimidade para tal."

Leia também:

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