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14/01/2001 - 04h04

Escolaridade determina a discriminação

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  • da Folha de S.Paulo

    Estudo do pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Sergei Dillon Soares sobre a discriminação no mercado de trabalho mostra que é na escola, e não no mercado, que o futuro de muitos negros é selado.

    Soares comparou a renda de homens brancos, que definiu como grupo padrão, com a de homens negros, mulheres brancas e mulheres negras. Ele calculou o efeito da educação, da colocação profissional e do salário na diferença desses grupos com relação aos homens brancos.

    No caso dos homens negros, Soares concluiu que 73,5% da diferença salarial em relação a um homem branco é explicada pela formação inferior desse grupo minoritário.

    A diferença salarial não explicada por nenhum outro motivo a não ser a discriminação pura e simples no mercado de trabalho é responsável por apenas 18% da diferença entre esses dois grupos.

    Isso significa que um homem negro, mesmo que apresente a mesma formação e esteja na mesma profissão de um homem de cor branca, vai receber menos para exercer a mesma função.

    Ao fazer o mesmo cálculo em relação às mulheres brancas, Soares concluiu que o único fator que leva a mulher branca a ganhar menos do que o homem branco no Brasil é a discriminação salarial no mercado de trabalho.

    "A mulher já tem escolaridade melhor e ocupa os mesmos cargos do que o homem, mas ganha menos. Talvez exista um acordo tácito no mercado de trabalho de que as mulheres precisam ou merecem ganhar menos", diz.

    O grupo que mais sofre os efeitos da discriminação no mercado é o de mulheres negras. Em relação ao salário dos homens brancos, 47,3% da diferença pode ser explicada pela formação inferior. Outros 45%, segundo o estudo, são explicados pelo mesmo tipo de discriminação que sofrem as mulheres brancas: apenas salarial.

    Soares afirma, com base no comportamento da renda média mensal de cada um desses grupos na última década, que há uma tendência, ainda lenta, de diminuição da desigualdade entre gêneros no Brasil.

    "Se esse comportamento for linear, a tendência é que em 30 anos não existam mais desigualdades salariais entre homens e mulheres", afirma Soares.

    Ele ressalva, no entanto, que o mesmo não pode se dizer em relação às diferenças por cor.

    "A diferença salarial entre homens negros e brancos chegou até a aumentar, e o que explica essa diferença é, principalmente, a formação que os negros recebem. Os homens e mulheres negros podem até se equiparar salarialmente entre eles, mas continuarão a receber menos que os brancos se essa tendência não for interrompida", explica o pesquisador.

    Isso significa que a distância entre a massa salarial das mulheres negras em relação à dos homens brancos tende a diminuir. Isso deverá acontecer, no entanto, por causa da diminuição da desigualdade entre gêneros dentro da população de cor negra.

    Outra conclusão do estudo de Soares é a de que, quanto mais alto for um cargo que um negro ocupa, maior será a discriminação enfrentada por ele.

    "Existe uma visão do que seja o lugar do negro, que é o de exercer um trabalho manual. Se ele ficar no lugar a ele alocado, sofrerá pouca discriminação. Mas, se tentar um lugar ao sol, sentirá o peso das três etapas da discriminação (formação, salário e colocação no mercado)", conclui ele no estudo.
     

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