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10/06/2001 - 08h38

Contenção de energia pode driblar medo do escuro nas crianças

da Revista da Folha

A combinação infância e escuridão, que sempre deu muito pano para manga, ganhou um aditivo com o racionamento. Os educadores insistem que o ideal é acostumar a criança a dormir no escuro e sozinha desde cedo, mas nem sempre é possível vencer a resistência infantil.

Em boa parte das casas, é comum a manutenção de uma luz acesa para driblar os "fantasmas" noturnos. "Ter medo do escuro é normal. A visão é o principal ponto de referência infantil. Sem ela, a criança fica exposta a sua vida psíquica, a angústias, fantasias, medos", explica Deborah Patah Roz, psicóloga do Instituto da Criança do HC (Hospital das Clínicas). A falta de luz suscita uma sensação de perda do controle, diz ela, e a criança ainda não tem mecanismos para lidar com os sentimentos que isso provoca.

A possibilidade do apagão, porém, pode dar uma mãozinha, reforçando os argumentos pró-mudança do hábito. "Os pais podem começar explicando à criança que o país passa por um problema sério, mostrar as outras providências tomadas na casa e dizer que seria bom que a luz do quarto dela também ficasse apagada depois que ela dormisse", afirma Anne Lise Scappaticci, terapeuta familiar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

É também uma boa oportunidade para começar a explicar o conceito de responsabilidade coletiva. "É essencial que a criança entenda que ela vive dentro de um grupo e que nem tudo pode ser do jeito que ela quer", explica Anne Lise.

Num primeiro momento, ficar no quarto até que ela durma pode ser um boa alternativa. "A luzinha pode ser substituída por conversas, por carinho. Conversando com jeito, a criança entende que não precisa se agarrar à luz, pois está protegida pelos pais", sugere Deborah Roz.

De qualquer forma, forçá-la a aceitar o escuro não é uma boa receita; pode, em casos extremos, virar uma fixação ou um trauma. "É preciso economizar energia, essa é a realidade hoje. Mas esse processo deve ser compartilhado com a criança", afirma ela.

Foi o que fez Naim Kaloussieh, pai de Michelle Pedase Kaloussieh, 6, ao trocar as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, mais econômicas. "Ele colocou uma no meu quarto e outra no do meu irmão. Assim, durmo tranquila e não sinto medo", conta.

Rodrigo de Alencar Alói, 6, está se virando de outro jeito. Desde o início da crise, seu pai apaga a luz do corredor e do abajur toda noite. "Eu sinto medo, então durmo logo para esquecer. Aí, sonho e não fico pensando que estou no escuro."

Nem os mais crescidinhos estão livres do problema. Maurício Pepe, 11, pede que o irmão fique em seu quarto até adormecer. Detalhe: o irmão tem apenas 3 anos. "Acho que isso acontece porque eu assisto a muito filme de terror", acredita. Das três luzes que a mãe deixava acesas, duas foram cortadas.

"Às vezes dá medo, mas estou me acostumando a isso", diz.

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