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27/06/2001 - 20h56

Pega-pega inspirou colégio a implementar aulas de educação sexual

GIOVANA GIRARDI
editora de Educação e Ciência
da Folha Online

Hora do intervalo. Crianças correm pelo pátio da escola brincando de pega-pega. O pegador corre atrás dos colegas e todos gritam: "Corre, não deixa ele te pegar, ele é aidético". Não importa quem seja o pegador, para que todos fujam, basta dizer que ele tem Aids.

A preconceituosa brincadeira, feita por crianças de 7 anos de um colégio de São Paulo há cinco anos, levou os professores a encararem de frente o problema e mostrar às crianças que a doença não é nada disso que elas estavam pensando.

"Aquilo me pegou pela alma e foi aí que a gente viu que não podia deixar de enfrentar o problema. Enfiamos a cara para conseguir ensinar de uma forma tranquila, séria e adequada", conta Nanci Airoldi, coordenadora educacional da 1ª série do Colégio Santa Maria, que ajudou a implementar um programa de educação sexual na escola. Hoje ela vai participar do 5º Educaids (Encontro Nacional de Educadores na Prevenção da Aids) para contar sua experiência.

Nanci afirma que a orientação sexual começa com as crianças pequenas, aos 3 anos. aprendendo coisas simples, como o respeito ao corpo e as mudanças que ocorrem com o passar dos anos por meio de bonecos sexuados com os quais as crianças brincam.

Já na primeira série as crianças desenham o contorno do corpo de um menino e de uma menina em folhas de papel e completam com os órgãos.

Depois os alunos passam a lidar com as defesas do corpo e os vírus. Os professores utilizam círculos de papel vermelhos para representar os glóbulos vermelhos, círculos brancos para os glóbulos brancos e círculos azuis para os invasores do organismo (vírus, bactérias). Primeiro é mostrado como os glóbulos brancos "engolem", por exemplo, uma bactéria que causa dor de garganta e depois, como o HIV, vírus que causa a Aids, engole os glóbulos brancos.

Nanci explica que dessa forma as crianças conseguem compreender com uma linguagem simples o que acontece com o corpo e em seguida aprendem a ter carinho, e não preconceito, com outras crianças ou adultos que estejam doentes.

Para incentivar isso, foi feita neste ano uma parceria com a Casa Vida, do padre Júlio Lancelotti, que cuida de crianças portadoras do HIV. Os alunos do colégio arrecadaram produtos que a entidade estava precisando. E agora estão desenhando quadros com palhaços para enviar para a casa, além de fazerem marcadores de livros com frases contra o preconceito, para dar aos pais.

De acordo com Nanci, a orientação sexual é dada em todas as sérias do colégio, até o ensino médio, com a devida evolução de acordo com a idade das crianças. Na 4ª séria, por exemplo, o assunto já lida com puberdade, masturbação. Na 5ª começa a se falar de gravidez, contracepção. No ensino médio o assunto pula para o aborto.

Ela afirma que apesar de reações negativas de algumas famílias, a receptividade, tanto de alunos, como dos pais, é muito boa. "Os alunos compreendem, gravam tudo e levam para casa", diz.

E ela recomenda para os pais que sempre tenham uma conversa franca com os alunos. "Responder só o que a criança pergunta, o estritamente necessário, mas que seja feito numa linguagem correta, com os nomes certos. Tem de falar pênis, vulva, nada de ficar com sementinha, pirulito, que isso não dá certo. Falar de um jeito apropriado para a idade para que seja natural."

Segundo Nanci, quando a criança pergunta, por exemplo, se a mãe e o pai transaram para ela nascer, ela normalmente se contenta com um sim. Às vezes não é necessário dizer tudo, aguarde a próxima pergunta e responda, mas sem grandes histórias, porque ela também pode perder o interesse.

Nanci Airoldi participa do Educaids neste sábado. O evento será realizado entre os dias 28 e 1º de julho no Centro de Convenções Rebouças - av. Rebouças, 600, São Paulo - SP. Mais informações pelos telefones: 0/xx/11/287-9699/8109.

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