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18/09/2003 - 07h49

Conhecer os primeiros socorros evita o pânico

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GABRIELA SCHEINBERG
free-lance para a Folha

A emergência sempre foi vista como sinônimo de pânico. E é justamente o pânico que pode fazer uma emergência tornar-se uma questão de vida ou morte. Mesmo as urgências mais simples, como um corte profundo ou um tornozelo torcido, podem ser resolvidas com calma. Porém é preciso saber como agir. Há procedimentos que devem ser tomados --outros que devem ser rechaçados-- antes de a pessoa sair de casa com destino ao PS.

Em primeiro lugar, trate de manter a calma. "Se a pessoa entrar em pânico, então a situação está perdida. O momento da emergência é o momento de ouro. Tem de tratar da situação com a maior frieza", diz Sérgio Timerman, diretor de treinamento, simulação e pesquisa em emergência do Incor. Em segundo lugar, a pessoa (ou seu acompanhante) deve ter registrado os mínimos detalhes do ocorrido, o que auxiliará o atendimento feito pelo médico de emergência.

É na mão desse especialista que se coloca a saúde ou, nos casos mais graves, a própria vida. Pois esse profissional com tamanha responsabilidade acaba de ser oficialmente reconhecido. Desde o mês passado, a medicina de urgência é uma área de atuação da clínica médica, com direito a especialização.

"O médico de urgência é um clínico-geral habilitado em reconhecer e tratar rapidamente os problemas", explica Timerman. "Só agora o Brasil passou a reconhecer esses profissionais, coisa que o resto do mundo já fez há muito tempo."

Nesse sentido, não é apenas a classe médica que está atrasada. A população em geral, segundo os especialistas, é completamente desinformada sobre o significado da emergência, sobrecarregando o serviço dos prontos-socorros com atendimentos desnecessários. Na unidade Itaim do hospital São Luiz (SP), por exemplo, uma procura frequente é de pessoas com gripe.

"Não há nada que se possa fazer, a não ser esperar que a gripe passe. Mas as pessoas confundem gripe, que é provocada por um vírus, com pneumonia, causada por bactéria, e acabam procurando um pronto-socorro desnecessariamente", diz Danilo Ferreira Nunes, coordenador do pronto-socorro da unidade.

Além disso, reclama Timerman, no Brasil, não existe um número único de telefone para o qual a pessoa possa ligar no caso de emergência, como o famoso 911, dos Estados Unidos.

Entre os grandes hospitais particulares de São Paulo, os números são muito parecidos. Apenas uma minoria --cerca de 10%-- dos que procuram os prontos-socorros é internada. "Cerca de 90% a 95% dos casos têm a situação resolvida com o primeiro atendimento e podem ir para casa", afirma Jovino Baes Júnior, coordenador do Pronto-Atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).

De qualquer maneira, para o médico, em caso de dúvida, o melhor a fazer é procurar um PS e eliminar algumas possibilidades mais graves. "É melhor do que se automedicar incorretamente", afirma Baes Júnior. O médico se refere aos casos mais comuns encontrados em um pronto-atendimento, como vômito, diarréia, gripe, amigdalite e cefaléia.

Para discernir um problema ameno de um mais sério, o ideal é que a pessoa primeiro procure o seu médico de família. Na falta dele, a saída é o pronto-socorro.

Jorge Mattar, coordenador do Pronto-Atendimento (PA) do hospital Sírio Libanês (SP), concorda: "O ideal é tratar de um problema sempre com o mesmo médico, mas muitas pessoas não querem esperar o dia da consulta e, por isso, procuram o PA. O trabalho do PA é reorientar o paciente para o seu médico".

Há, contudo, uma noção entre os médicos de que os pacientes estão usando os sistemas de emergência por comodidade, e não por ter, de fato, uma urgência.

"As pessoas querem resolver o problema sem ter de procurar um consultório médico. Querem uma solução "in loco", ou seja, ser avaliado pelo médico na hora e realizar os exames no mesmo local", diz Ricardo Botticini Peres, coordenador da Unidade de Primeiro Atendimento do hospital Albert Einstein.

Para Nunes, do São Luiz, a definição popular de pronto-socorro é aquele lugar em que o paciente pode ir sem marcar hora. "Hoje, tornou-se uma conveniência para os pacientes irem ao pronto-socorro em vez de irem ao consultório."

Das pessoas que procuram o PA, 70% o fazem por comodidade, diz Aguinaldo Pispico, diretor do Centro de Treinamento de Emergências da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

Por exemplo: uma lesão na pele que começa a incomodar na sexta-feira à noite não exige atendimento imediato. Mas o paciente não quer esperar até segunda-feira para marcar uma consulta com o médico. Então vai até o pronto-atendimento mais próximo e passa o fim de semana tranquilo.

O que deve determinar a procura ou não do PA é o critério da dor. O problema é que não há como padronizar a dor. Por isso, para Mattar, do Sírio Libanês, "o médico tem de respeitar a urgência sentida pelo paciente, mesmo sendo um desconforto menor". E mais: o profissional tem a função de tratar não só o problema médico do paciente como também a sua angústia e ansiedade. "O papel do médico é também o de acalmar o paciente e a sua família. Por isso vá ao pronto-socorro sempre que tiver dúvidas", afirma Nunes, do São Luiz. Se o médico enxergar o paciente por esse lado mais humano, ele entenderá e concordará com esse uso natural do PA, afirma Mattar.

Pediatria

Se, muitas vezes, é difícil decidir quando ir ao PA no caso de um adulto, imagine quando o paciente é uma criança. Talvez por isso metade dos casos pediátricos que aparecem no PA não são urgências, mas problemas que exigem apenas um primeiro atendimento.

E os casos variam muito segundo a época do ano, diz Cid Fernando Gonçalves Pinheiro, responsável pelo serviço de pediatria das duas unidades do hospital São Luiz. No inverno, aparecem mais problemas respiratórios, como bronquites e resfriados. No verão, são os problemas gastrointestinais, como vômitos e náuseas.

"Em qualquer época do ano, há sempre crianças que procuram o PA porque caíram da cadeira, da cama, da escada ou da bicicleta. Nesses casos, é importante mesmo levá-las", diz Pinheiro.

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