Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
08/08/2004 - 08h34

Genética também explica colesterol alto

Publicidade

da Folha de S.Paulo

Nem só a má dieta e muita preguiça explicam os altos índices de colesterol --a genética, sempre ela, também é justificativa para aqueles casos em que uma vida saudável não faz diminuir as taxas de gorduras no sangue.

"O defeito genético ou está onde o colesterol é produzido, no fígado, ou onde é absorvido, no intestino", resume o cardiologista Raimundo Marques do Nascimento, diretor-executivo da Sociedade Brasileira de Cardiologia. "A maioria das pessoas [com colesterol alto] tem algum deles."

A comerciante Célia Caram, 46, passou quatro anos cuidando da alimentação e das caminhadas diárias, mas as taxas de colesterol não caíam o suficiente. Meio comprimido por dia e elas cederam --Célia não abandonou bons hábitos. "Só não faço tanto esforço no fim de semana."

O alto índice de colesterol --cujo dia de combate é "celebrado" hoje-- está ligado à formação, dentro das artérias, de placas de gordura que estreitam a passagem do sangue (aterosclerose). São fatores de risco para infarto do coração e derrame, doenças que mais matam no Brasil.

O mecanismo dos defeitos genéticos que geram as altas taxas foi explicado em 1976 por cientistas norte-americanos, trabalho que rendeu um prêmio Nobel dez anos depois aos pesquisadores.

Segundo os estudos, pelo menos uma a cada 500 pessoas tem níveis elevados de colesterol no sangue em razão de uma doença genética chamada hipercolesterolemia familiar, causada pela deficiência ou má função de receptores de LDL (o colesterol "ruim", veja quadro), que faz com que seja retirado mais lentamente do plasma (parte líquida do sangue).

O problema está associado a 75% dos infartos antes dos 60 anos, mesmo em pessoas que têm hábitos de vida saudáveis.

Em uma outra forma, muito grave e muito rara (1 caso para 1 milhão de pessoas), os receptores podem não existir --o que causa mortes antes dos 20 anos.

O cardiologista Raul Dias dos Santos, médico-assistente da Unidade Clínica de Lípides do Incor (Instituto do Coração) de São Paulo, diz que recentemente colocou uma ponte de safena em uma menina de 13 anos que, portadora da doença rara, tinha índices de colesterol perto de 800 mg/dl.

Santos diz que o ideal é que, diante de uma suspeita da doença, seja investigada toda a família. Foi o aconteceu na casa da nutricionista Laila Shayboun Ghtait, de ascendência libanesa.

Pais, irmãos, sobrinhos, tios e primos possuem a forma heterozigótica da hipercolesterolemia (a mais freqüente) e se tratam com remédios de última geração, dieta e exercícios.

"Todos se cuidam bastante. Nunca tivemos morte na família associada à doença", diz.

Outra forma de defeito genético é o que faz com que os receptores de LDL não sejam reconhecidos, explica Raul Cisternas, do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa e um pesquisador do assunto.

De acordo com Cisternas, o consenso da Sociedade Brasileira de Cardiologia é que pessoas que, aos 20 anos, tenham colesterol total (soma do "bom" e do "mau" colesterol) igual a 200 mg/dl de sangue devem refazer o exame só a cada cinco anos.

Quem tem antecedentes de obesidade, hipertensão e infarto do coração na família, no entanto, deve fazer também as frações de colesterol (medir cada um dos tipos), segundo ele.

Ao atingir a zona de altíssimo risco, de 240 mg/dl, são necessários uma dieta radical, exercícios e, se nada melhorar em seis meses, os medicamentos.

As drogas contra o colesterol rendem hoje US$ 200 bilhões em vendas no mundo, o que explica a disputa de empresas para melhorar as suas formas de apresentação e as associações de medicamentos. O tratamento pode chegar a R$ 150 mensais.

No Brasil, essas drogas são distribuídas de maneira restrita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Nascimento, da sociedade de cardiologia, lembra que vida saudável, apesar de não baixar as taxas quando elas já estão altas em alguns casos, pode prevenir o aparecimento do problema ou, ao menos, fazer com que seja necessária dose menor de remédios.

Ele diz que estudos mostram que os japoneses que vão morar nos EUA (a terra do "fast-food" e da "junk-food") estouram seus índices de colesterol. Pode ser que sempre tivessem a doença, mas não os seus "facilitadores".

Leia mais
  • Estudo indica que brasileiro não trata o colesterol alto

    Especial
  • Arquivo: veja o que já foi publicado sobre o colesterol
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página