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07/04/2005 - 10h16

Curiosidade e acesso a tratamentos levam voluntários às pesquisas

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S. Paulo
LUANDA NERA
Colaboração para a Folha

A funcionária pública Nair de Alvarenga foi curada de uma displasia nas cordas vocais graças a um tratamento que nunca havia sido usado no Brasil. A recepcionista Renata Soares experimentou um batom, um xampu e um hidratante que ainda estavam em fase de teste. O estudante Charles Gois não tem diabetes, mas tomou um novo comprimido indicado para a doença. O empresário Eduardo Marafanti foi o primeiro brasileiro a testar um novo remédio para leucemia desenvolvido nos EUA.

Assim como eles, muitas pessoas estão se apresentando como voluntários em pesquisas clínicas --estudos científicos que envolvem humanos. E não em troca de dinheiro ou por não terem como pagar pelo tratamento médico.

Elas não são remuneradas por isso, têm planos de saúde e, muitas vezes, freqüentam os consultórios dos melhores especialistas do país.

Receberam informações detalhadas sobre os benefícios e riscos da pesquisa e, pelos mais variados motivos --desde a possibilidade de cura para um câncer até a simples vontade de provar um novo creme contra celulite--, optaram por participar.

De acordo com Greyce Lousana, presidente da Sociedade Brasileira de Profissionais em Pesquisa Clínica, a idéia de que apenas pessoas de baixa renda se submetem a pesquisas clínicas para ganhar dinheiro não procede. "Temos que desmistificar esse estereótipo. Qualquer um que tenha interesse e se encaixe no projeto pode ser voluntário. No caso de doenças mais graves, pode ser a chance de ter acesso a um tratamento de ponta", afirma.

Lousana diz que o mais importante é assegurar-se de que se trata de uma pesquisa idônea. "Os estudos têm de ser aprovados pelos órgãos responsáveis e seguir uma série de exigências. A população deve se informar e exigir que as regras sejam cumpridas", diz.

Os resultados de sucesso são um estímulo a mais para que as pessoas participem, mas, como em toda experiência, há riscos. "O paciente tem de ser monitorado 24 horas por dia. Se ele disser que está caindo um pouco a mais do seu cabelo, aquilo é levado em conta. Os centros de pesquisa têm de ter uma equipe treinada para isso", diz Lousana.

Segurança

Quando soube que os testes com o novo remédio que lhe estava sendo oferecido já estavam em fase final, a estudante Amanda Viana de Souza, 19, sentiu-se mais segura para assinar o termo de consentimento. Há um mês, ela foi internada com uma infecção urinária. "Me explicaram que logo que o estudo terminasse e fosse aprovado, o remédio seria vendido na farmácia. Como já havia tido outros testes, decidi aceitar." Ela conta que, no início, ficou insegura. "Pensei sobre tomar um remédio que nem tem comprovação. Mas a médica me explicou tudo e disse que eu cooperaria para o desenvolvimento de um novo remédio que poderia ser bom para mim também. Aceitei. Sou curiosa", diz a estudante.

Para Amanda, a maior vantagem foi o acompanhamento que recebeu. "Conheci vários médicos e os enfermeiros estavam sempre por perto, medindo a pressão e vendo se eu tinha reações adversas", relata.

A relações públicas Natália Giannattasio, 35, participou da mesma pesquisa que Amanda e também achou que o atendimento foi o principal benefício: "Nunca fui tão bem acompanhada. Médicos e enfermeiros mediam minhas condições vitais em períodos muito menores do que numa situação comum".

Ela diz que o fato de se tratar de um hospital reconhecido contribuiu. "Sabia que estava em boas mãos. E, se eu não me sentisse à vontade, poderia parar. Também acho que a gente precisa dar um crédito para essas pesquisas. Se não, nunca vai haver novos produtos", afirma.

De acordo com Henrique Salvador, diretor clínico do Mater Dei --hospital de Belo Horizonte onde Natália e Amanda participaram da pesquisa--, o acompanhamento constante durante o estudo possibilita um contato mais próximo com o médico. "Quem passa por uma pesquisa costuma ter acesso mais rápido aos avanços da medicina."

Salvador diz que, desde a criação do centro de pesquisas anexo ao hospital, o número de estudos clínicos do Mater Dei vem crescendo entre 40% e 50% ao ano. "O hospital deixou de ser um centro só de assistência para se tornar também um gerador de conhecimento."

Alguns pesquisadores recorrem a anúncios em jornais. O aposentado Domingos Reche, 69, leu na publicação de seu bairro que a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) precisava de voluntários para uma pesquisa sobre exercícios físicos feitos por idosos. Desde o início do ano, ele vai ao local do estudo três vezes por mês e, a cada três meses, é feita uma avaliação com exames laboratoriais e cardiológicos. "Decidi ajudar porque tenho tempo para isso e porque minha saúde melhora. É uma chance que eu não teria se não fosse o estudo."

Quando faltam voluntários, amigos e familiares dos médicos podem ser chamados para ajudar. O estudante de fisioterapia Charles Gois, 29, foi convidado pelo pai da namorada, que é toxicologista clínico, para testar um remédio para diabetes. O estudo tinha que ser feito em pessoas saudáveis. "Meus familiares ficaram receosos, mas eu sabia que ele não me indicaria algo que não fosse seguro", diz Gois, que levou mais quatro amigos para completar o número de voluntários.

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