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31/08/2006
-
11h42
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo
De acordo com o psiquiatra Aderbal Vieira Jr., co-responsável pelo ambulatório de dependências não-químicas do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp, um vício pode ser identificado por dois aspectos: o uso disfuncional de algo, que tanto pode ser uma droga como um jogo, e a incapacidade de se separar daquilo espontaneamente. "É diferente de quem faz muito alguma coisa, mas pára quando quer."
No fim dos anos 90, pesquisadores norte-americanos mostraram que a música também pode causar o problema.
A equipe, liderada por Mary Florentine, professora de audiologia na Northeastern University, aplicou a um grupo de 90 pessoas um questionário para saber como elas se relacionavam com música alta --as questões eram adaptadas de um exame para diagnosticar alcoolismo. A conclusão foi que cerca de 10% dos entrevistados tinham, em relação à música, o mesmo comportamento que os alcoólatras têm com o álcool.
O estudo não encontrou relação entre o resultado e a idade dos participantes ou o tipo de música que eles ouviam.
Apesar de os adolescentes serem mais associados a barulho, os efeitos do sons no organismo são os mesmos em quase todas as faixas etárias. "Crianças pequenas, abaixo de cinco anos, são mais susceptíveis porque não têm a neuromaturação necessária. Depois dessa faixa etária, é tudo a mesma coisa", afirma Schochat.
Efeito emocional
Para Vieira Jr., a liberação de neurotransmissores é uma explicação insuficiente. "Quando falamos de uma sensação prazerosa com som, não sei se o que está por trás é o efeito físico auditivo ou o prazer estético de uma boa experiência. Acho que é menos um fenômeno fisiológico e mais a mensagem que esse fenômeno passa", diz.
Segundo o psiquiatra, "tudo que é prazeroso pode levar a um vício", e quando a pessoa sente que perdeu o controle sobre a situação, o ideal é procurar um terapeuta para o diagnóstico. Algumas pessoas também conseguem restabelecer os limites sozinhas.
O engenheiro mexicano Fernando Elizondo Garza, do laboratório de acústica da Universidad Autónoma de Nuevo Léon, se dedica a estudar as funções sociais do som e ressalta que a busca por barulho não é necessariamente um vício --pode ser, diz, até como uma forma de se "proteger" de outros ruídos.
Ele cita, por exemplo, que, num local silencioso, sons eventuais como uma buzina podem atrapalhar a concentração. Por isso, há quem adquira o hábito de estudar ou dormir com música: ela gera um fundo acústico que minimiza o impacto dos barulhos do exterior.
O fotógrafo Fernando Contin Pilatos, 28, integra o grupo que só dorme assim. "Já fiz o teste. Não consigo dormir sem o rádio ou a TV ligados", conta.
"Estou certo de que pessoas com esse hábito moram em casas ou bairros onde há muito barulho. Como não podem controlar esses ruídos e têm quase certeza de que não haverá silêncio, preferem dormir com o barulho, mesmo que isso signifique um descanso menor."
Além disso, afirma Garza, o som pode ser uma ferramenta de isolamento, como no uso do tocador de MP3, e de aproximação social, como numa festa. Em outros casos, o próprio som pode fazer "companhia".
"Chego em casa e ligo o som, aí me animo para fazer as coisas, sinto um pique diferente. Acho que também tem a ver com não ficar sozinho", conta a psicóloga Gisele Sydow Kizahy, 34, que também deixa um aparelho de som ligado na sala de espera de seu consultório.
Independentemente dos motivos que levam à busca por barulho, a exposição a sons altos gera danos. "As pessoas precisam tentar evitar a exposição ao ruído quando ela não é "obrigatória", como nos momentos de lazer", diz Schochat.
Além disso, diz ela, é importante fazer exames anuais para avaliar a audição, da mesma forma como muitas já fazem com a visão. Assim, é possível detectar problemas auditivos ainda no início. Se as células nervosas forem afetadas, o problema é irreversível.
Leia mais
Exposição constante a sons altos pode levar à dependência
Vício aparece quando pessoa não consegue se separar
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da Folha de S.Paulo
De acordo com o psiquiatra Aderbal Vieira Jr., co-responsável pelo ambulatório de dependências não-químicas do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp, um vício pode ser identificado por dois aspectos: o uso disfuncional de algo, que tanto pode ser uma droga como um jogo, e a incapacidade de se separar daquilo espontaneamente. "É diferente de quem faz muito alguma coisa, mas pára quando quer."
No fim dos anos 90, pesquisadores norte-americanos mostraram que a música também pode causar o problema.
A equipe, liderada por Mary Florentine, professora de audiologia na Northeastern University, aplicou a um grupo de 90 pessoas um questionário para saber como elas se relacionavam com música alta --as questões eram adaptadas de um exame para diagnosticar alcoolismo. A conclusão foi que cerca de 10% dos entrevistados tinham, em relação à música, o mesmo comportamento que os alcoólatras têm com o álcool.
O estudo não encontrou relação entre o resultado e a idade dos participantes ou o tipo de música que eles ouviam.
Apesar de os adolescentes serem mais associados a barulho, os efeitos do sons no organismo são os mesmos em quase todas as faixas etárias. "Crianças pequenas, abaixo de cinco anos, são mais susceptíveis porque não têm a neuromaturação necessária. Depois dessa faixa etária, é tudo a mesma coisa", afirma Schochat.
Efeito emocional
Para Vieira Jr., a liberação de neurotransmissores é uma explicação insuficiente. "Quando falamos de uma sensação prazerosa com som, não sei se o que está por trás é o efeito físico auditivo ou o prazer estético de uma boa experiência. Acho que é menos um fenômeno fisiológico e mais a mensagem que esse fenômeno passa", diz.
Segundo o psiquiatra, "tudo que é prazeroso pode levar a um vício", e quando a pessoa sente que perdeu o controle sobre a situação, o ideal é procurar um terapeuta para o diagnóstico. Algumas pessoas também conseguem restabelecer os limites sozinhas.
O engenheiro mexicano Fernando Elizondo Garza, do laboratório de acústica da Universidad Autónoma de Nuevo Léon, se dedica a estudar as funções sociais do som e ressalta que a busca por barulho não é necessariamente um vício --pode ser, diz, até como uma forma de se "proteger" de outros ruídos.
Ele cita, por exemplo, que, num local silencioso, sons eventuais como uma buzina podem atrapalhar a concentração. Por isso, há quem adquira o hábito de estudar ou dormir com música: ela gera um fundo acústico que minimiza o impacto dos barulhos do exterior.
O fotógrafo Fernando Contin Pilatos, 28, integra o grupo que só dorme assim. "Já fiz o teste. Não consigo dormir sem o rádio ou a TV ligados", conta.
"Estou certo de que pessoas com esse hábito moram em casas ou bairros onde há muito barulho. Como não podem controlar esses ruídos e têm quase certeza de que não haverá silêncio, preferem dormir com o barulho, mesmo que isso signifique um descanso menor."
Além disso, afirma Garza, o som pode ser uma ferramenta de isolamento, como no uso do tocador de MP3, e de aproximação social, como numa festa. Em outros casos, o próprio som pode fazer "companhia".
"Chego em casa e ligo o som, aí me animo para fazer as coisas, sinto um pique diferente. Acho que também tem a ver com não ficar sozinho", conta a psicóloga Gisele Sydow Kizahy, 34, que também deixa um aparelho de som ligado na sala de espera de seu consultório.
Independentemente dos motivos que levam à busca por barulho, a exposição a sons altos gera danos. "As pessoas precisam tentar evitar a exposição ao ruído quando ela não é "obrigatória", como nos momentos de lazer", diz Schochat.
Além disso, diz ela, é importante fazer exames anuais para avaliar a audição, da mesma forma como muitas já fazem com a visão. Assim, é possível detectar problemas auditivos ainda no início. Se as células nervosas forem afetadas, o problema é irreversível.
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