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09/07/2006 - 07h30

Itália confirma a "regra dos 12" e chega outra vez

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MAURIZIO MATTEUZZI
Especial para a Folha, de Roma

A regra dos 12 nunca falha. A cada 12 anos, a seleção italiana chega à final da Copa do Mundo de futebol.

Foi assim na Copa de 70, no México, quando depois de ter derrotado a Alemanha por quatro a três em uma semifinal mítica, decidida na prorrogação, caiu diante do Brasil no estádio Azteca.

Foi assim em 1982, quando depois de haver eliminado a Argentina de Maradona e o Brasil de Zico com os famosos três gols de Paolo Rossi, conquistou a Copa no Santiago Bernabeu de Madri, vencendo os alemães.

Foi assim em 1994, em Los Angeles, quando a Itália de Arrigo Sacchi perdeu em uma final difícil contra o Brasil.

Será assim em 2006, na Alemanha, quando a seleção de Marcello Lippi enfrentará a França do mágico Zinedine Zidane, no estádio Olímpico de Berlim, em uma partida que terá o sabor de dupla revanche para os italianos, depois da difícil derrota nas quartas-de-final da Copa de 1998, diante de uma seleção francesa jogando em casa, e de perder o título da Eurocopa 2000, na Holanda, em uma final contra a França na qual a Itália se manteve em vantagem até o último minuto do tempo regulamentar e caiu na prorrogação por morte súbita, vítima de um gol de Trezeguet.

A regra dos 12 e as contas a ajustar com os "Bleus" fazem com que a espera pela partida de domingo seja fervilhante, especialmente porque muitos dos jogadores daquelas partidas em 1998 e 2000, tão amargas para os italianos, estarão em campo em Berlim: Barthez, Zidane, Thuram, Vieira, Henri, Trezeguet, de um lado; e Totti, Cannavaro, Del Piero e Buffon, do outro (sem mencionar Nesta, que infelizmente não poderá entrar em campo).

A Itália vive com impaciência a vigília da final. Talvez porque no início as pessoas não confiavam na vitória, já que Totti, o único craque verdadeiro da Azzurra, chegou à Alemanha ainda em recuperação de uma fratura na perna. Mas sobretudo porque a Copa do Mundo coincidiu com o maior escândalo na história do futebol italiano.

Do inferno do escândalo ao paraíso da semifinal com a Alemanha --um dramático 2 a 0 destinado a ocupar, no imaginário italiano, o posto mantido durante 36 anos pela semifinal entre Itália e Alemanha nos anos 70--, passando pelo purgatório de Gana, Estados Unidos, República Tcheca e Austrália.

Mais que uma trama típica da comédia à moda italiana, a trajetória da Azzurra se assemelha a um drama shakespeareano. Basta imaginar que, no domingo, a Itália pode se sagrar campeã do mundo e, na segunda-feira, a justiça esportiva talvez condene ao rebaixamento quatro dos principais times do país --Juventus, Milan, Fiorentina e Lazio--, cancelando os títulos dos dois últimos campeonatos italianos vencidos pela Juventus por meio da "compra" de árbitros, e desmantelando todo o sistema do futebol na Itália. Temos apenas que lembrar que essa Juventus terá oito jogadores em campo na final de Berlim (Buffon, Cannavaro, Zambrotta, Del Piero e Camoranesi, de um lado, e Thuram, Vieira e Trezeguet, do outro).

Contemplar a possibilidade de um título mundial para a seleção italiana e ao mesmo tempo um rebaixamento do Juventus e do Milan (os dois times mais populares do pais) criou um contraste dramático e despertou a fantasia das pessoas.

Nessas noites de verão, as cidades italianas, depois das partidas na Alemanha, têm suas ruas ocupadas por bandeiras tricolores, automóveis, motonetas e cornetas, todos fazendo um enorme barulho, como costumava acontecer em 1982 e também em 1990 --quando a Copa foi disputada na Itália e a Azzurra foi eliminada na semifinal pela Argentina de Maradona, em um jogo disputadíssimo.

Presente ao estádio San Paolo, em Nápoles, torcendo naquela partida, havia um molequinho que fez história posteriormente. Trata-se de Fabio Cannavaro, capitão da seleção italiana atual e possivelmente o melhor zagueiro do mundo.

A contagem regressiva começou, e a tensão está nas alturas. A revanche diante da França, sabem todos, será dificílima, mas a fé dos torcedores é infinita. Às 20h de domingo, a Itália estará fechada; milhões de pessoas acompanharão a partida na TV, e milhões se reunirão diante dos telões instalados em muitas cidades da península. Do Circo Máximo em Roma à Piazza do Duomo, em Milão, de Nápoles a Bolonha, de Palermo a Bolzano, a paixão contagiou a todos, esquerda e direita, governo e oposição.

Como o presidente Sandro Pertini, em 1982, o presidente Giorgio Napolitano estará presente no estádio.

Até mesmo a Lega Nord, partido que defende que a Lombardia e o Vêneto se separem da Itália, não conseguiu resistir, e, ainda que seu líder tenha declarado que vai torcer pela Alemanha, terminou por ceder à pressão do povo, que explodiu de alegria com os gols de Grosso e Del Piero contra a Alemanha e deseja a vitória contra a França.

Na Itália, tudo sempre acaba em política, e depois que Silvio Berlusconi malandramente batizou de "Forza Italia" seu partido de centro-direita, tomando de empréstimo o grito de apoio da torcida à Azzurra, os torcedores de esquerda ou os que desaprovam Berlusconi tiveram de eliminar a expressão de seu vocabulário esportivo.

Mas paixão é paixão, e eles encontraram outras maneiras de manifestá-la. Decerto não será um Berlusconi, que em prazo de três meses perdeu o governo ao ser derrotado pela coligação de centro-esquerda na eleição de abril e pode ver a queda do Milan caso a Justiça confirme o rebaixamento na segunda-feira, que conseguirá deter o amor que o país recuperou pela squadra azzurra.

Maurizio Matteuzzi, italiano, é jornalista do Il Manifesto, de Roma

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