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28/03/2001 - 23h01

Lei do passe tira 30% da receita dos clubes

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da Folha de S.Paulo

Com o fim do passe, abolido na última segunda-feira, os grandes clubes de futebol brasileiros vão perder nos próximos anos cerca de 30% de sua receita, de acordo com estudo feito pelo escritório de advocacia Demarest & Almeida, de São Paulo.

Os negócios envolvendo compra e venda de jogadores representavam até a última semana a maior fonte de renda dos clubes do Brasil, superando as receitas advindas de patrocínios e da venda de direitos para a TV, que vêm crescendo nos últimos anos, mas que ainda não fazem sombra ao comércio de atletas.

O trabalho da área de direito desportivo do escritório, que atende a 15% das 500 maiores empresas multinacionais com negócios no Brasil, demonstra que a partir de agora os clubes terão que promover uma revolução econômica para se adaptar às novas regras do governo e, consequentemente, do mercado.

"É muito importante que os dirigentes se conscientizem de que os clubes precisam agora profissionalizar todos os seus setores", disse o advogado Leonardo Serafim dos Anjos, um dos coordenadores do estudo.

Ele prevê um período de transição difícil para os clubes, mas afirma que o fim do passe, decretado por uma medida provisória publicada anteontem, foi benéfico para o futebol do Brasil.

O empresário J. Hawilla, dono da agência de marketing esportivo Traffic, a maior do país, no entanto, diz que a MP é falha por ter promovido uma mudança abrupta nas regras do jogo.

"De uma hora para outra, os clubes perderam uma grande fonte de renda. Para o investidor de futebol também foi ruim, já que ele, se entrar em clube, terá que reforçá-lo, mas perderá esse ativo não podendo negociá-lo no futuro", disse Hawilla.

O levantamento do escritório comparou a estrutura financeira de grandes clubes de futebol do Brasil, da Inglaterra e da Itália.

O que mais surpreendeu no trabalho, feito a pedido de investidores, foi a participação da TV na receita dos grandes clubes, apenas 6% do total. A previsão, no entanto, é que até 2005 eles devam chegar ao patamar dos 30%.

"Os negócios com a TV estão crescendo, mas ainda são baixos com relação à Europa e precisam se profissionalizar ainda mais no Brasil, talvez com a entrada de mais emissoras no futebol", diz Serafim dos Anjos.

No ano passado, o Clube dos 13, a associação que reúne os 20 maiores times do Brasil, afirmou que o dinheiro da TV respondia, em alguns casos, por até metade do dinheiro arrecadado.

Na Europa, o passe foi extinto em 1995, portanto, os clubes de Inglaterra e Itália não ganham dinheiro com a compra e a venda de jogadores há quase seis anos.

A maior fonte de renda dos times ingleses, por exemplo, praticamente não existe no futebol brasileiro: o merchandising (a comercialização de produtos com a marca dos clubes).

Segundo o estudo, em 1999, na Inglaterra, o Manchester United, um dos times mais ricos do mundo, tinha 35% de seu faturamento advindo do merchandising.

No Brasil, o Flamengo, time de maior torcida, não chega a obter 1% de sua receita anual com a venda de produtos licenciados (veja quadro nesta página).

Para os italianos, a maior fonte de renda está na venda de ingressos para os jogos e nos negócios envolvendo os direitos de TV, que, juntos, respondem a cerca de 60% da receita do poderoso Milan, por exemplo.

Serafim dos Anjos diz que os dirigentes brasileiros precisarão, daqui pra frente, investir em estádios, que poderão ser utilizados para shows, parcerias, merchandising, contratos de TV e negócios na Internet, a rede mundial de computadores. "Não há outro remédio, o passe já era."

Dirigentes ainda acreditam que é possível arrecadar em cima da multa prevista na medida provisória que pôs fim ao passe.

De acordo com a MP, os clubes que revelarem um jogador têm direitos sobre ele por pelo menos cinco anos. Se ele for vendido, o time ganha uma indenização. "Esse não é um bom caminho", afirma Serafim dos Anjos. (JOSÉ ALBERTO BOMBIG)
 

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