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18/04/2001 - 00h39

Banco derruba trunfo da CPI contra a CBF

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da Sucursal de Brasília e
da Folha de S.Paulo

A CPI da CBF/Nike recebeu um duro golpe contra sua tentativa de estender as investigações sobre os empréstimos feitos pela entidade no exterior com o Delta Bank.

Em documento enviado anteontem aos deputados da CPI, por meio da CBF, o Delta, que tem sede nos EUA, confirma ter sido responsável por emprestar quase US$ 30 milhões à confederação, em pelo menos cinco operações, entre 1998 e 2000.

A comissão afirma que os juros foram extorsivos e que há indícios de evasão de divisas nos negócios.

O ofício do Delta, datado de anteontem, é uma negativa à correspondência do advogado Roberto Rosas ao deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), presidente da CPI, no mês passado.

Na carta, Rosas dizia que o banco era responsável apenas por intermediar o negócio: "(...) É preciso que se diga que não faz parte dos serviços do Delta Bank a concessão de empréstimos diretos. O Delta realiza intermediações entre o tomador e/ou investidores no mercado financeiro. A fixação dos juros é negociada com as partes", escreveu o advogado à CPI.

A afirmação de Rosas, divulgada semana passada, deu força à CPI, que encerra seus trabalhos de apuração no final deste mês, para lutar por uma nova prorrogação, já que considera vital saber quem estaria emprestando o dinheiro à CBF.

Na opinião dos deputados, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, pode ter utilizado as operações para enviar dinheiro irregularmente para o exterior, pois em um dos empréstimos chegou a pagar 43% de juros ao ano. Teixeira nega ter feito isso.

Mas Rosas, segundo o Delta Bank, foi contratado apenas para assessorar juridicamente o banco no STF (Superior Tribunal Federal). Ele teria se equivocado em sua carta a Rebelo:

"Com relação aos empréstimos concedidos por nós à CBF, gostaria de confirmar que o Delta Bank Trust Co. concedeu empréstimos diretos à CBF em condições de prazo e de juros compatíveis tanto com o risco comercial do tomador bem como com as condições prevalecentes no momento de cada operação para a captação de recursos no mercado internacional com risco brasileiro", escreveu Newton Bleffe, vice-presidente executivo do banco.

Segundo a Folha apurou, o próprio Rosas enviou uma nova carta à CPI alterando sua versão sobre os empréstimos.

Hoje, a CPI da Câmara pode votar dois requerimentos pedindo a convocação de Bleffe e de Rosas para prestarem esclarecimentos.

Se os documentos não forem aprovados, como quer a "bancada da bola", a CPI praticamente encerra suas investigações no caso e parte para o relatório final.
Inicialmente, os requerimentos estavam previstos para serem votados ontem, mas, segundo o relator da comissão, deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), a Mesa ficou com medo de não haver quórum suficiente para a votação.

A estratégia dos deputados da "bancada da bola" da CPI, assim chamada por conta de sua ligação com a CBF, clubes de futebol e federações estaduais, é argumentar que a última carta do Delta põe fim à necessidade de investigar os empréstimos, pois confirma a legalidade das operações.

"Não vejo necessidade de prolongar essa apuração, mesmo porque o banco é estrangeiro", disse o deputado José Lourenço (PMDB-BA), contrário à convocação de Bleffe e Rosas.

Torres pensa de maneira diferente. "As operações continuam sendo altamente suspeitas. O advogado não daria uma declaração para depois voltar atrás", disse.

O relator afirmou ainda que tem informações de outro executivo do banco afiançando não ter sido a instituição a responsável pelos empréstimos. "Essa investigação não pode acabar assim", disse.

A análise dos requerimentos deverá ocorrer hoje em uma reunião da CPI que definirá ainda prazos para elaboração, entrega e votação do relatório final.
A CPI é formada, no total, por 25 deputados _13 deles são titulares e têm direito a voto.

Pelos cálculos da própria Mesa Diretora, a "bancada da bola" conta com dez deputados no total, somados suplentes e titulares.

"Vamos trabalhar para que os deputados se convençam da importância de aprovar essas convocações", disse Torres.

Com ou sem os depoimentos dos homens do Delta, as investigações da CPI já despertaram o interesse da Procuradoria da República nos empréstimos, conforme revelou a Folha ontem.

O Ministério Público Federal solicitou informações da comissão sobre o caso. Aldo Rebelo disse ontem, no entanto, que elas só poderão ser enviadas aos procuradores após aprovação de todos os membros da CPI.

A Procuradoria também quer dados sobre os negócios da empresa Pelé Sports & Marketing, do ex-jogador e ex-ministro Edson Arantes do Nascimento.

Se não conseguir encerrar totalmente as investigações dos empréstimos da CBF no exterior, a CPI da Câmara perderá um grande trunfo para atacar Ricardo Teixeira em seu relatório final.

Na semana passada, durante o depoimento de Teixeira, os deputados apontaram as doações da entidade a políticos, associações e federações como outro grave problema da gestão do dirigente na entidade, que começou em 1989.

No próximo dia 26, a comissão tomará o depoimento do empresário J. Hawilla, da agência Traffic, parceira da CBF. (FERNANDO RODRIGUES e JOSÉ ALBERTO BOMBIG)

Leia também:

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