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25/11/2001 - 10h51

Culinária da Copa-2002 preocupa a Fifa

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JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Folha de S.Paulo

Carne de porco, de cachorro ou de boi? Eis a questão. Após a discussão sobre segurança, é a vez de a culinária causar dor de cabeça para a organização da Copa-2002.

Segundo o Kowoc _Comitê Organizador da Coréia do Sul_, a Fifa quer interferir nos hábitos alimentares do país. A entidade máxima do futebol estaria fazendo pressão para que, durante o período de disputa do próximo Mundial, entre 31 de maio e 30 de junho do ano que vem, carne de cachorro não seja vendida em restaurantes sul-coreanos.

Não deve conseguir. "Primeiro, porque é uma questão cultural", diz Yun Jung Im, conhecida por Paula no Consulado da Coréia em São Paulo, onde trabalha como tradutora. "Depois, porque não é todo mundo que come cachorro, como algumas pessoas imaginam. E, se na Coréia tem gente que gosta de [comer] cachorro, no Japão comem carne de baleia e de cavalo. Por que só falam dos hábitos alimentares da Coréia e não reclamam dos do Japão?"

É a mesma tese defendida pelos principais membros do Kowoc. "Uma coisa é ser contra os maus-tratos a animais, com o que evidentemente estamos de pleno acordo. Outra seria proibir a carne de cachorro durante o Mundial, o que pode ser visto como interferência externa a um costume [sul-coreano], que, na verdade, nem é tão comum assim", explicou Lee Yun-taek, co-presidente do Kowoc, por intermédio de sua assessoria de imprensa.

Comum ou não, o simples fato de se comer carne de cachorro na Coréia serviu para lotar a caixa postal da Fifa. Pelo menos 12.467 cartas foram enviadas à sede da entidade, em Zurique, protestando contra o consumo de carne de cachorro num dos países co-anfitriões da Copa de 2002.

Devido à "pressão popular", como definiu Andreas Herren, um dos porta-vozes da Fifa, o presidente Joseph Blatter decidiu se mexer. O dirigente suíço mandou uma carta ao Kowoc que causou mal-estar na Coréia. Apesar de não ter se referido diretamente ao consumo de carne de cachorro, pediu todos os esforços para que o país asiático pare de fazer crueldade com cães e gatos.

Só que, de acordo com o Kowoc, os maus-tratos aos animais são coibidos no país. "Nunca ouvi falar dessa história de torturarem gatos ou cachorros [antes de comer" porque seriam afrodisíacos], desabafou Yun-taek. "Isso tudo não passa de lenda."

Já Chung Mong-joon, o outro co-presidente do Kowoc, mantém uma postura diferente. É mais brando nas declarações. O dirigente, que é membro do Parlamento coreano, disse que concorda com a necessidade de coibir com toda a força atos de crueldade contra animais.

E avisa: "Já existe um grupo interministerial [envolvendo os ministérios da Agricultura, Saúde e Bem-Estar] discutindo o assunto. A preocupação não é só da Fifa, é nossa também."

Mas daí a proibir a carne de cachorro vai uma certa distância. Mesmo que seja por apenas 31 dias, período de duração da Copa.

Yun-taek, que esteve no Brasil no início do mês promovendo o torneio na Coréia, chegou a dizer que "cada um terá a opção de comer o que quiser".

Quem não quiser carne de cachorro, portanto, pede outro prato. "A cozinha coreana é internacional. Com certeza, o turista estrangeiro terá muitas opções diferentes. Na Ásia, a Coréia é conhecida como a porta do Oriente. Isso já mostra que não temos uma cultura tão fechada, como algumas pessoas podem imaginar."
 

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