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22/07/2007 - 23h20

Judoca quase cega disputou Pan-2007 pelos EUA

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RODRIGO MATTOS
da Folha de S.Paulo, no Rio

Começa uma das lutas eliminatórias da primeira fase da categoria de meio-leve do judô do Pan, até 52 kg, neste domingo, no último dia de competições do esporte. A norte-americana Grace Ohashi, 18, caminha em linha reta até a lateral do tatame, vira-se em 90 graus e dá mais passos até sua posição para começar a disputa.

Seus movimentos automáticos tem uma razão: a americana é quase cega --só consegue enxergar pontos vermelhos e sombras nas outras cores. Para andar na rua, precisa até de cão guia ou acompanhante.

Mesmo assim, foi capaz de passar pelas seletivas dos EUA de judô e se classificar ao evento continental, superando outras nove adversárias. Descendente de japoneses, conseguiu esse feito graças às técnicas aprendidas em seu país.

"Tento achar a adversária ao ouvir sua respiração", contou Ohashi. "E enfio a mão e tento agarrar sua manga. Então, tento me manter o máximo possível presa à ela."

Ela ainda tenta se movimentar bastante para procurar às rivais. E as instruções do técnico também servem para Ohashi tentar se manter em boa posição em relação à adversária.

Não deu certo em sua única luta no Pan. Logo no início, a rival argentina conseguiu levar a norte-americana por duas vezes para fora da área do tatame onde se desenrola a luta.

Assim, Ohashi sofreu duas punições do juiz: ficou com um koka (quarta maior pontuação) e um wazari (segunda maior pontuação) em desvantagem.

Em seguida, ao ganhar ritmo da luta, Ohashi melhorou e conseguiu até uma punição para adversária porque era mais combativa. Acabou a luta com um yuko (terceira maior pontuação) e um koka. E foi eliminada do Pan.

"Não consigo ver quando saio do tatame", explica ela. "Sempre tento esconder das adversárias a minha deficiência porque elas se aproveitam."

Suas técnicas para combater com quase nenhuma visão foi mais desenvolvida nos últimos três meses. Isso porque nestes período sua vista, que já era ruim desde seu nascimento, foi piorando a cada dia.

Os médicos não conseguiram descobrir o motivo para essa acelerada perda de visão. Ainda tentam fazer exames para detectar o problema. Até agora, já sabem que o problema é neurológico --ou seja, a conexão dos olhos com o cérebro tem alguma deficiência.

Sem uma diagnóstico, Ohashi apenas tomas suplementos de vitaminas para amenizar a perda de visão. E faz planos para continuar no esporte.

"Quero ir para a Olimpíada de Pequim. Espero lutar mais duas Olimpíadas e depois me transformar em uma adulta", conta Ohashi, que descarta participar de Paraolimpíada. A natureza de sua deficiência (neurológica) não lhe dá essa opção.

Antes de "crescer", a judoca usa o esporte para se socializar nos EUA. Chegou há apenas seis meses do Japão. Nasceu em Fukushama, onde se destacou no judô em campeonatos estudantis.

Ao falar sobre seu novo país, diz gostar da cultura norte-americana por ser "mais aberta e mais positiva" do que a japonesa, segunda ela. Mudou-se para Coral Springs, na Flórida, por causa de sua mãe, que ganhou uma bolsa de estudos.

Enquanto conversa com a reportagem, mantém os olhos em um ponto perdido. Até chegar ao repórter, ela foi conduzida por um membro da equipe norte-americana. Quando está só, como em sua entrada rígida no tatame, Ohashi adota truques: "Conto os passos até a posição de luta."

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