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15/12/2002
-
12h00
Colunista da Folha de S.Paulo
e LÚCIO RIBEIRO
da Folha de S.Paulo
Onde você estava no dia 3 de dezembro de 1984?
A pergunta pode parecer coisa de detetive, mas não é. Trata-se de uma questão histórica. Ou futebolística. Ou histórico-futebolística. É que 3 de dezembro de 1984 é a data do último título de peso do Santos.
Naquele dia, o time venceu o Corinthians por 1 a 0, gol de Serginho Chulapa, e acabou com um jejum de seis anos. Um jejum três vezes menor do que o que pode acabar hoje.
Naqueles tempos ainda não havia CD, computador pessoal e internet. Lula nunca havia se candidatado a presidente (aliás, nem havia eleição), as obras para o aeroporto de Cumbica estavam suspensas por falta de recursos, fazia sucesso a novela "Vereda Tropical", o muro de Berlim estava de pé, e a União Soviética ainda era unida.
A derradeira glória santista já vai tão longe que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), santista fanático, lembra-se do time campeão, mas, do jogo decisivo em si, só do gol de Serginho. "O Santos tinha o grande Rodolfo Rodriguez, o Paulo Isidoro, e os dois Toninhos [Carlos e Oliveira]. Mas não lembro como comemorei aquele título", falou o senador, que viria a concorrer, no ano seguinte, à Prefeitura de São Paulo, rivalizando com Jânio Quadros e FHC. O primeiro já morreu, e o segundo foi presidente duas vezes.
Luiz Schwarcz, hoje dono da editora Companhia das Letras, em 1984 trabalhava na Brasiliense. Ele estava no estádio e comemorou nas ruas. Talvez tenha passado por Cao Hamburguer, diretor do premiado
programa "Castelo Rá-Tim-Bum".
Cao também assistiu ao título de 84 no Morumbi, mais precisamente atrás da meta onde Serginho Chulapa marcou o gol da vitória. Naqueles distantes dias, Cao estava em dúvida entre a música e o cinema. Acabou desistindo da primeira e ficando com o segundo. Sorte do cinema. E da música.
Outro que começava sua carreira de cineasta era André Klotzel, que filmava seu primeiro longa-metragem, "Marvada Carne". Ele lembra que, vendo o estádio cheio, pensava que seu filme poderia ser visto por uma multidão daquele tamanho. Na verdade, o filme teve mais de 1 milhão de espectadores e foi vendido para 15 países.
O poeta Mário Chamie viu o jogo pela TV e, logo depois da partida, foi comemorar num campo de futebol que havia nos fundos de sua casa, na rua Pintassilgo. Naquele tempo, o bairro de Moema ainda não tinha tantos prédios.
Marcelo Tas ainda tinha algum cabelo e encarnava o personagem do repórter Ernesto Varela dentro do programa "Olho Mágico", uma espécie de "Fantástico" mais intelectualizado, pobre e divertido que passava na TV Gazeta.
Seu câmera naquele dia foi Fernando Meireles (que Tas chamava de Valdeci), diretor do filme "Cidade de Deus".
O ator José Rubens Chachá ensaiava a peça "Ubu", que seria encenada pelo grupo Ornitorrinco e se tornaria um grande sucesso em São Paulo. O diretor era o corintiano Cacá Rosset (hoje comentarista esportivo da Record), que tentou convencer Chachá a não ir ao jogo. Mesmo assim, o santista pegou um ônibus ("Estava numa dureza...") e foi ao Morumbi.
Paulo Miklos, vocalista dos Titãs, viu o jogo em casa, pela TV. O grupo fazia sua primeira excursão nacional, impulsionado pelo sucesso da música "Sonífera Ilha" (em vinil).
Enfim, nesses 18 anos de jejum, o mundo mudou, e mudaram os santistas. E, como diz aquele ditado indiano, "um homem não entra duas vezes no mesmo rio". Nem vê duas vezes o mesmo título.
Leia mais: Campeonato Brasileiro
O distante 3 de dezembro de 84
JOSÉ ROBERTO TOREROColunista da Folha de S.Paulo
e LÚCIO RIBEIRO
da Folha de S.Paulo
Onde você estava no dia 3 de dezembro de 1984?
A pergunta pode parecer coisa de detetive, mas não é. Trata-se de uma questão histórica. Ou futebolística. Ou histórico-futebolística. É que 3 de dezembro de 1984 é a data do último título de peso do Santos.
Naquele dia, o time venceu o Corinthians por 1 a 0, gol de Serginho Chulapa, e acabou com um jejum de seis anos. Um jejum três vezes menor do que o que pode acabar hoje.
Naqueles tempos ainda não havia CD, computador pessoal e internet. Lula nunca havia se candidatado a presidente (aliás, nem havia eleição), as obras para o aeroporto de Cumbica estavam suspensas por falta de recursos, fazia sucesso a novela "Vereda Tropical", o muro de Berlim estava de pé, e a União Soviética ainda era unida.
A derradeira glória santista já vai tão longe que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), santista fanático, lembra-se do time campeão, mas, do jogo decisivo em si, só do gol de Serginho. "O Santos tinha o grande Rodolfo Rodriguez, o Paulo Isidoro, e os dois Toninhos [Carlos e Oliveira]. Mas não lembro como comemorei aquele título", falou o senador, que viria a concorrer, no ano seguinte, à Prefeitura de São Paulo, rivalizando com Jânio Quadros e FHC. O primeiro já morreu, e o segundo foi presidente duas vezes.
Luiz Schwarcz, hoje dono da editora Companhia das Letras, em 1984 trabalhava na Brasiliense. Ele estava no estádio e comemorou nas ruas. Talvez tenha passado por Cao Hamburguer, diretor do premiado
programa "Castelo Rá-Tim-Bum".
Cao também assistiu ao título de 84 no Morumbi, mais precisamente atrás da meta onde Serginho Chulapa marcou o gol da vitória. Naqueles distantes dias, Cao estava em dúvida entre a música e o cinema. Acabou desistindo da primeira e ficando com o segundo. Sorte do cinema. E da música.
Outro que começava sua carreira de cineasta era André Klotzel, que filmava seu primeiro longa-metragem, "Marvada Carne". Ele lembra que, vendo o estádio cheio, pensava que seu filme poderia ser visto por uma multidão daquele tamanho. Na verdade, o filme teve mais de 1 milhão de espectadores e foi vendido para 15 países.
O poeta Mário Chamie viu o jogo pela TV e, logo depois da partida, foi comemorar num campo de futebol que havia nos fundos de sua casa, na rua Pintassilgo. Naquele tempo, o bairro de Moema ainda não tinha tantos prédios.
Marcelo Tas ainda tinha algum cabelo e encarnava o personagem do repórter Ernesto Varela dentro do programa "Olho Mágico", uma espécie de "Fantástico" mais intelectualizado, pobre e divertido que passava na TV Gazeta.
Seu câmera naquele dia foi Fernando Meireles (que Tas chamava de Valdeci), diretor do filme "Cidade de Deus".
O ator José Rubens Chachá ensaiava a peça "Ubu", que seria encenada pelo grupo Ornitorrinco e se tornaria um grande sucesso em São Paulo. O diretor era o corintiano Cacá Rosset (hoje comentarista esportivo da Record), que tentou convencer Chachá a não ir ao jogo. Mesmo assim, o santista pegou um ônibus ("Estava numa dureza...") e foi ao Morumbi.
Paulo Miklos, vocalista dos Titãs, viu o jogo em casa, pela TV. O grupo fazia sua primeira excursão nacional, impulsionado pelo sucesso da música "Sonífera Ilha" (em vinil).
Enfim, nesses 18 anos de jejum, o mundo mudou, e mudaram os santistas. E, como diz aquele ditado indiano, "um homem não entra duas vezes no mesmo rio". Nem vê duas vezes o mesmo título.
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