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30/01/2003 - 08h34

Petrobras ignora "inclusão" e só apóia elite do esporte

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
enviado especial da Folha ao Rio

O governo Lula quer usar o esporte como instrumento de inclusão social, mas é na elite que começa a investir.

A Petrobras, estatal presidida pelo petista José Eduardo Dutra, anunciou ontem, na primeira entrevista coletiva de patrocínio esportivo da nova gestão, a criação de uma equipe de vela.

Pelo contrato, assinado entre a empresa e a FBVM (Federação Brasileira de Vela e Motor), ficou acertado que a entidade receberá R$ 550 mil. Com o dinheiro, serão ajudados nove atletas de ponta, que se preparam para o Pan de 2003 e a Olimpíada de 2004.

No ano passado, quando criou o Programa Petrobras Esportes Náuticos, a estatal auxiliava 30 iatistas. "Estamos na reta final para uma Olimpíada e é natural que o investimento agora fique focado em quem tem mais chances de medalha", disse Walcles Osório, presidente da federação.

Robert Scheidt, hexacampeão mundial da classe laser, concorda com Osório. "Tudo bem que tem a coisa do social, mas o que é que a gente pode fazer?", perguntou o iatista, depois da coletiva, à Folha. "O governo tem que patrocinar quem está no topo. São pessoas que chegaram lá por seus próprios méritos e podem ganhar medalhas para o país."

Acrescentou que "quem está em cima pode servir de exemplo para o garoto que vem de baixo".

A federação admite que, com a verba do governo -foi a segunda que mais recursos ganhou com a Lei Piva, em 2002, perdendo apenas para o basquete-, poderia ter se preocupado mais com projetos sociais ou mesmo em ajudar a formar novos valores.

O problema, segundo Osório, é que o departamento ligado à juventude foi deixado às moscas. "Tinha uma pessoa que nem era remunerada e não tinha tempo suficiente para cuidar do setor."

Indagado se em 2003, com o novo contrato com a Petrobras, a situação pode mudar, disse ser difícil. "O dinheiro é exclusivamente para a preparação destes nove atletas [selecionados a partir de um índice olímpico], para que façam uma grande Olimpíada."

Em 2002, quando a Petrobras iniciou a parceria com a FBVM, o patrocínio era de R$ 975 mil, mas R$ 244 mil ficaram com a IMG, a agência do COB. A cada um dos 30 atletas ajudados pelo projeto cabiam cerca de R$ 24 mil -agora, em média, cada um dos nove receberá R$ 59 mil.

"É uma ajuda muito importante, dá para pagar a alimentação, cuidar da preparação física e comprar material para o barco ficar cada vez melhor. Para ser campeão olímpico, você não pode bobear um segundo", disse João Signorini, o Joca, da classe finn.

Com a nova verba, o iatista, que tem ajuda do Iate Clube do Rio, ganhará o triplo do que em 2001 para se preparar para Atenas.

"Mesmo para o Robert [Scheidt], que tem outros patrocínios, o apoio da Petrobras faz muita diferença, ainda mais que a gente compete muito no exterior e o dólar não pára de subir."

Scheidt, Torben Grael e Marcelo Ferreira, os três que devem receber o maior filão do patrocínio, teriam, graças a ele, um aumento de cerca de 20% a 25%. "Nada mais justo. Temos quatro classes classificadas para Atenas e estamos em vias de colocar mais duas. São atletas que se sacrificam pelo Brasil", concluiu Osório.
 

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