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08/03/2003 - 21h36

Guerra pode esfacelar seleção iraquiana de futebol

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Folha de S.Paulo

O futebol iraquiano continua vivo, mas talvez esteja com os dias contados. Se a guerra contra EUA e Reino Unido começar, a seleção do país pode ser esfacelada.

Dos 20 jogadores convocados para defender a equipe, 14 começam a se preparar para participar do iminente conflito no Iraque.

Onze deles fazem parte do Exército iraquiano, quatro dos quais são integrantes das Forças Aéreas de Saddam Hussein. Outros três atuarão como escudos humanos e ficarão em um dos 60 locais estratégicos determinados por Abdelrazak Hashimi, militar que supervisiona a operação.

"É uma pena, porque o futebol é uma das maiores paixões do povo iraquiano. Se começar a guerra, que não está sendo provocada pela nossa gente, todo o país e todos os setores vão sofrer, inclusive o esporte", disse à reportagem, por e-mail, Nashat Naser, supervisor da Associação Iraquiana de Futebol.

A entidade, que tem como presidente Udai Hussein, filho de Saddam, funciona num prédio em Bagdá, na rua do Estado Palestino, onde também fica a sede do Comitê Olímpico Iraquiano. E é lá que Naser comandará uma reunião nesta semana para ver que rumo o futebol do país tomará nas semanas seguintes.

"Tudo depende do que vai acontecer. Seria um erro invadirem o Iraque, mas, se formos atacados, vamos seguir nosso líder e defender o país", afirmou Naser. ´E aí o futebol deve parar, pelo menos enquanto durar a guerra."

Mesmo se ela não tiver início agora, no entanto, o dirigente diz que afetado o esporte já foi.

"Tínhamos dois amistosos programados para março e abril, mas tivemos que cancelar. A Fifa determinou que não podemos receber jogos internacionais porque o clima não está favorável. Só que se não está favorável não é por culpa nossa. O triste é que quem arca com as consequências, mais uma vez, é o povo iraquiano."

E penando ele já está. O embargo da ONU, iniciado depois da invasão do Kuait, em 1990, serviu também para enfraquecer o futebol do país. "Todos os setores foram afetados, e com o futebol não seria diferente. Material esportivo, por exemplo, muitos times não tinham. A maioria jogava como podia", comentou.

O intercâmbio com o exterior também era mínimo. "Que seleção iria jogar contra a nossa?", questionou.

Segundo o supervisor da federação iraquiana, foi a paixão do povo pelo esporte que manteve o futebol vivo. "Em muitos jogos havia 50 mil torcedores no estádio. O futebol é uma das poucas opções de lazer, mas uma das preferidas de nosso país."

Às duras penas, o campeonato local, que chegou a reunir 20 equipes, continuou a ser disputado. E o último, pelo menos de acordo com a federação, teve média de público próxima dos 30 mil torcedores por jogo -como comparação, a média do último Brasileiro não atingiu 15 mil por partida.

Mas em 2003 a incerteza predomina. "Não tenho os números em mãos, mas com certeza de 70% a 80% dos jogadores devem pegar em armas, defender o país se formos atacados. Não dá para continuar com uma vida normal."

E, segundo o dirigente, quem não pegar em armas pode ser usado como escudo humano. "Se um ídolo for atingido a revolta será ainda maior. Mostraremos para o mundo, e não só o islâmico, o que querem fazer com a gente."
 

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