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07/04/2003 - 08h33

Com chuvas, a "curva do Sol" apavorou pilotos no GP Brasil

FÁBIO SEIXAS
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

da Folha de S.Paulo

Interlagos nunca viu tanta confusão. Aliás, já viu sim algo parecido, mas há muito tempo atrás. Em 1977, para ser mais exato. Época em que na pista estavam monstros do automobilismo, como Emerson Fittipaldi, Niki Lauda, James Hunt, Carlos Reutemann, Ronnie Peterson e José Carlos Pace.

Em que Interlagos era muito maior, mas também tinha uma curva chamada 3.
Era no final da Reta Oposta, onde hoje fica o setor G, as arquibancadas mais populares e, por isso mesmo, mais animadas.

Naquela corrida, um recapeamento mal feito fez descolar pedaços do asfalto no trecho. Resultado: um cemitério de carros se formou no local, sete pela memória de testemunhas da corrida, oito pelo livro de estatísticas. Um deles era o Brabham de Moco, como Pace era chamado -o brasileiro morreria dois meses depois em um acidente de avião.

Ontem, em Interlagos, outra curva 3 resolveu fazer seu cemitério. A curva que agora fica no começo da Reta Oposta, ex-curva do sol, ontem rebatizada curva da chuva, da drenagem, do trator e do medo. Michael Schumacher, mais ilustre visitante da barreira de pneus do local, confessou que sentiu "medo" no acidente, que poderia ter tido consequências muito mais graves.

O tal do trator, na verdade um guindaste, estava na área de escape da curva na operação de retirada do Williams de Juan Pablo Montoya, que rodara duas voltas antes. Por muito pouco o alemão não atingiu o carro rival e o veículo de serviço.

Schumacher, mais que qualquer outro, assume o discurso de que a profissão é feita de riscos e que não pensa nisso quando está no carro.

Dessa vez, porém, assumiu. "Mas vários pilotos rodaram lá?", foi a pergunta seguinte à revelação. A resposta foi seca: "Isso não muda o medo que senti".

Uma falha no sistema de drenagem, que foi inclusive objeto de reforma para este GP, cerca de 25% da pista sofreu alterações, criou um verdadeiro rio no setor. Para piorar, naquela área do autódromo a impressão era que chuva caía mais intensamente -talvez não só uma impressão, já que a dimensão do autódromo, mais de uma vez, proporcionou corridas meio secas meio molhadas.

Era o caso ontem. O termômetro eram os pneus Bridgestone da Ferrari. Com pista muito molhada, como no começo da prova, condições ideais para os carros calçados pela Michelin. Pista menos molhada, segundo parte da prova, melhor rendimento para a escuderia italiana. Na curva 3, porém, empate: ruim para todos.

Na contabilidade fatídica, seis carros, seis pilotos, pela ordem, Justin Wilson, Antonio Pizzonia, Montoya, Schumacher, Jos Verstappen e Jenson Button. O cemitério atraiu ainda outros quatro, que escaparam: Ralf Schumacher, Jarno Trulli, Mark Webber e Heinz-Harald Frentzen. No total, dez ocorrências, cena rara de destroços reunidos pateticamente atrás dos pneus pelo trator.

Mais de um piloto classificou o trecho não apenas como rio, mas rio com correnteza. A explicação faz sentido. A dificuldade desse tipo de condição para um carro de F-1 é chamada aquaplanagem.

Em alta velocidade, o carro perde aderência pois uma fina camada de água separa os pneus do asfalto. Se as ranhuras da borracha perdem a capacidade de retirar a água da frente, o carro flutua sobre a lâmina, e o piloto perde o controle.

"Meu carro passou por uma correnteza e flutuou para fora da pista. Depois disso, eu era apenas um pouco mais que um passageiro. Enquanto eu rodava, pude ver a BMW do Montoya no lugar que eu iria ocupar", declarou Pizzonia, cinematográfico.

Depois da última vez que uma curva 3 vitimou tantos pilotos, Interlagos, coincidência ou não, perdeu o GP Brasil para o carioca Jacarepaguá. Só voltaria a abrigá-lo novamente a partir de 1990, quando não choveu.
 

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