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02/05/2003 - 08h41

Acaba legado do 1º negro a ganhar ouro em Olimpíada

GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo

Uma das performances mais antológicas da história da natação perdeu ontem, no Rio, seu último resquício de memória.

Durante o segundo dia de finais do Troféu Brasil, o argentino Jose Meolans, 24, que defende o Pinheiros, cravou 52s83 nos 100 m borboleta e melhorou em 17 centésimos o recorde continental do surinamês Anthony Nesty, obtido nos Jogos de Seul-1988.

Era a única marca sul-americana em provas individuais que pertencia a um atleta negro. Era, também, o último registro nos livros de recordes da façanha que arrebatou o mundo há 15 anos.

"Então quebraram meu recorde? Pensei que ninguém se lembrava mais dele. O nome desse nadador [Meolans] não me é estranho, mas não posso dizer que o conheço. De qualquer forma, achei o tempo muito bom", disse Nesty, ao ser informado do resultado pela Folha ontem à tarde.

"Vim ao Brasil esperando marcar em torno de 53s30, nunca imaginei fazer abaixo dos 53 segundos do Anthony", confessou Meolans após o evento.

A surpresa do novo recordista encontra respaldo no impacto que a marca de Nesty causou ao ser lograda. Em 1988, na Coréia do Sul, ele surpreendeu todos os espectadores ao vencer os 100 m borboleta nos Jogos Olímpicos.

Completou a prova em 53s cravados, um centésimo de segundo à frente do norte-americano Matt Biondi, um dos mais badalados nadadores da história. Deixou a piscina rápido, com pouca vibração. O tempo, à época, figurou como recorde olímpico.

No pódio, ao ouvir o hino do Suriname, tornou-se o primeiro atleta negro de toda a história a conquistar uma medalha de ouro na natação. E, de quebra, estragou os ambiciosos planos de seu principal rival norte-americano.

Biondi chegou a Seul proclamando-se candidato a sete medalhas de ouro. Queria igualar o feito do compatriota Mark Spitz, obtida nas piscinas de Munique (ALE) na Olimpíada de 1972. "Se eu não tivesse cortado as unhas, talvez ganhasse os 100 m borboleta", disse Biondi, que terminou aquela Olimpíada com cinco ouros, uma prata e um bronze.

Na época, Nesty já treinava na Universidade da Flórida (EUA), da qual hoje é assistente técnico, porque seu país dispunha de apenas uma piscina olímpica (50 m) e dez semi-olímpicas (25 m).

Mas, após os Jogos, com o ouro em punho, Nesty seguiu para Paranamaribo, capital do Suriname, e comemorou com os conterrâneos. Foi presenteado com um montante de dinheiro arrecadado entre os 380 mil habitantes do país e enriquecido com uma verba oficial do governo.

O maior estádio da cidade recebeu seu nome, e uma série comemorativa de selos foi emitida.

No ano passado, o ex-atleta visitou o Brasil pela primeira vez. Ele foi convidado pela Federação Aquática Paulista para promover o 1º Torneio Afro-Brasileiro, torneio que buscou aproximar a população negra da natação.

"Ainda não sei como essa marca dos 100 m borboleta durou tanto. Acho que era muito forte para a época. Mas já faz tanto tempo que tudo aquilo aconteceu, é difícil recordar e achar explicações."

A memória de Anthony Conrad Nesty, 34, já começa a falhar, ao mesmo tempo em que os últimos vestígios de suas braçadas na piscinas começam a desaparecer.
 

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