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26/09/2003 - 08h42

Contrato é arma da TV para ressuscitar os mata-matas no Brasileiro

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FERNANDO MELLO
da Folha de S.Paulo

Um documento de 15 páginas, assinado por todos os principais cartolas do futebol brasileiro em 20 de fevereiro de 2003, é a arma da Globo para implodir o item do Estatuto do Torcedor que veda alteração da fórmula no Nacional do ano que vem.

O "Contrato de Cessão de Direitos Relativos ao Campeonato Brasileiro de Futebol de 2003, 2004 e 2005" será usado pela TV na tentativa de reviver os mata-matas.

A brecha para que o establishment do futebol drible a lei estaria na cláusula sexta do contrato, ao qual a Folha teve acesso: "Obrigam-se os cedentes [clubes] e a CBF a elaborar a tabela e o formato de disputa da competição (...) de comum acordo com a Globo".

Como a TV já tornou pública sua insatisfação com a fórmula de turno, returno, pontos corridos, a peça será usada como instrumento de pressão sobre os clubes. A multa pelo descumprimento da cláusula é de R$ 10 milhões para cada uma das partes infratoras (CBF, Clube dos 13 e os 24 times).

A alegação da emissora é que, como o contrato é anterior à sanção do Estatuto do Torcedor, que passou a vigorar em 15 de maio, a lei não pode ferir um direito previamente adquirido.

A estratégia de Marcelo Campos Pinto, diretor-executivo da Globo Esportes, é inicialmente convencer os cartolas de que a fuga dos torcedores dos estádios e a queda de audiência nas partidas estão diretamente ligadas ao atual regulamento. Com os dados na mão, contará aos clubes que, se for do interesse deles, é possível driblar o Estatuto do Torcedor.

De fato, muitos dos dirigentes ouvidos pela Folha apontaram o veto imposto pelo governo federal como um dos motivos para defenderem a manutenção dos pontos corridos em 2004.

"Temos o direito de mudar, sim, a fórmula do campeonato. A Globo vai lutar por isso, mas precisamos dos clubes", afirmou Campos Pinto, o responsável pela negociação de todos os contratos esportivos da emissora.
Na história recente, a influência da TV nos rumos do futebol nacional tem sido enorme.

Foi por causa da crise financeira enfrentada pela Globo que o calendário quadrienal, com regionais, foi implodido pela CBF.

Foi por iniciativa de Campos Pinto, também, que começaram as discussões sobre o alongamento do Brasileiro para nove meses.

De início, a Globo levantou a bandeira dos pontos corridos e, após conversas com cartolas e com o aliado Ricardo Teixeira, obteve apoio da CBF e da maioria dos clubes. Só mais tarde, a poucos dias da votação no Conselho Técnico que ratificou a adoção dos pontos corridos, Campos Pinto voltou atrás -e, dessa vez, não teve força para vencer.

Agora, com os clubes mais populares do país fora da disputa pelo título, a Globo teme ficar até o fim do ano com um mico --pelo qual pagou R$ 225 milhões.

A partir de agora, ao contrário do que aconteceria no mata-mata, a emissora prevê queda de audiência: Corinthians e Flamengo, seus dois carros-chefes, estão longe da disputa pelo título, cada vez mais perto do Cruzeiro.

Anteontem, a emissora ganhou novos números para sustentar sua tese. Corinthians x Cruzeiro, o jogo que reuniu o líder do torneio e o time mais popular de SP, levou só 11 mil pessoas ao Pacaembu. O vice-líder Santos atraiu 3.500 torcedores à Vila, número parecido ao de Paraná x São Paulo, outro confronto importante da rodada.

A Globo tentará obter também o apoio de Ricardo Teixeira, que publicamente tem dito que a fórmula não será mudada.

Na avaliação de Campos Pinto, com a chancela da CBF nos bastidores, a vitória na guerra declarada contra os pontos corridos será uma questão de tempo.

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