09/01/2004 - 07h00

Cartola, Branco ajuda Brasil a vencer no Pré-Olímpico

RODRIGO BUENO
da Folha de S.Paulo

Desde aquele histórico 3 a 2 do Brasil sobre a Holanda na Copa de 1994, Branco não era tão importante para uma vitória da seleção brasileira.

Chefe da delegação que disputa o Pré-Olímpico no Chile, o ex-lateral-esquerdo foi na quarta-feira ao vestiário e orientou os atletas de Ricardo Gomes. Deu resultado, pois o time melhorou muito no segundo tempo contra a Venezuela e venceu por 4 a 0.

"De cima, eu vejo o jogo melhor. Fui ao vestiário e falei para o Diego que tinha um buraco no meio. Falei para o Paulo Almeida e o Elano saírem mais", disse Branco, que foi apontado chefe da delegação apenas poucas horas antes do início do torneio.

"Estava de férias em Bagé [RS], e aí o presidente [Ricardo Teixeira, da CBF] me ligou. Disse que as férias tinham acabado e que era para eu ir para o Chile. Foi uma surpresa, mas gosto de estar aqui. Sou parte do grupo", afirmou ele, que foge totalmente do perfil tradicional dos chefes de delegação da seleção brasileira: normalmente são políticos ou dirigentes que mal se envolvem com os jogadores.

Branco atuou ao lado de Ricardo Gomes no Fluminense na conquista do Brasileiro de 1984, quando eram atletas de Carlos Alberto Parreira, mas sua participação direta na orientação dos atletas no jogo não era prevista.

"Sou da comissão técnica. Aqui não tem estrelismo. É todo mundo igual. Senti que o grupo está ótimo. Vim para ajudar", diz o coordenador das categorias de base da CBF, posto que assumiu em 2003. Sob sua gestão, a seleção brasileira conseguiu os títulos dos Mundiais sub-17 e sub-20.

"Passo para todos os atletas, que em 99% dos casos têm origem humilde, que eles têm uma chance de ajudar suas famílias. No Mundial, colocamos imagens com depoimentos dos familiares dos jogadores. Foi muito legal."

A conversa de Branco com Diego no intervalo foi especialmente importante. O meia santista foi decisivo para a vitória que deixou o Brasil na liderança do Grupo A. Classificam-se para a fase final os primeiros de cada grupo. Segundos e terceiros vão à repescagem.

"Opinião sempre é válida. Conheço o Branco desde os juniores do Fluminense. É normal que alguém que venha do futebol tenha uma ligação maior com os jogadores. Mas, no final, quem decide sou eu", disse Gomes, que não se queixou de ingerência.

Quando mal havia assumido seu atual cargo na CBF, Branco interferiu no comando da seleção sub-20. "A decisão de colocar o Marcos Paquetá como treinador foi minha. O Valinhos [antigo técnico] estava meio desgastado. Pedi que ele continuasse como observador, mas ele não quis." Paquetá se tornou o primeiro técnico a vencer dois Mundiais da Fifa no mesmo.

Branco destacou observadores para competições de jovens, como a Copa São Paulo. "A emoção de ganhar o Mundial sub-17 foi a mesma da Copa nos EUA. É como se fosse sempre a primeira vez", disse o cartola, que não traz em seu currículo passagem olímpica.

Ele foi ao estádio de terno e gravata, como um cartola, mas promete ir aos treino com roupa esportiva. Descontraído, é um "amigão" dos atletas.

Após o jogo com a Venezuela, acompanhou Diego, Robinho e Nilmar, que tocavam pagode com alguns instrumentos, até seus quartos.

"O que você tocava quando era jogador, Branco?", perguntou Diego ao "chapa" que é chefe da delegação, sem formalidade.

BRASIL
Gomes; Maicon, Edu Dracena, Alex e Maxwell; Elano, Paulo Almeida e Fábio Rochemback (Daniel Carvalho); Robinho e Diego; Dagoberto.
Técnico: Ricardo Gomes

PARAGUAI
Diego Barreto; Emilio Martínez, José Devaca, Julio Manzur; Gilberto Velásquez, Aureliano Torres, Edgar Barreto, Diego Figueredo, Osvaldo Díaz; Fredy Bareiro e Pablo Giménez.
Técnico: Carlos Jara Saguier

Estádio: Municipal de Concepción (CHI)
Horário: 23h10 (Brasília)
Juiz: Gilberto Hidalgo (PER)

Leia mais

Embalado, Chile pega a Venezuela no Pré-Olímpico

Destaque da seleção, Diego nega contusão

Rochemback deve ser titular da seleção sub-23 contra o Paraguai

Argentina e Peru empatam pelo Torneio Pré-Olímpico

Especial