Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
14/02/2004 - 00h32

Jogadores do Nacional de basquete cruzam o país de ônibus

Publicidade

MARIANA LAJOLO
da Folha de S.Paulo

Dor nas costas, comida estragada, assaltos, estradas cheias de buracos, noites mal dormidas.

Quase obrigatórios na aventura de quem decide cruzar o Brasil com uma mochila nas costas, os inconvenientes das longas viagens de ônibus se tornaram rotina para os jogadores que disputam o Nacional masculino de basquete.

Com o corte feito pela Confederação Brasileira de Basquete na concessão de passagens aéreas, as equipes estão sendo obrigadas a enfrentar verdadeiras maratonas pelas estradas para jogar fora de casa. É o que faz agora o Brasília.

A equipe chegou nesta sexta a Mogi das Cruzes, penúltimo ponto de uma peregrinação que passou por Uberlândia e São Paulo e que segue neste sábado para Casa Branca.

Quando pisarem de novo na capital federal, os jogadores terão percorrido quase 1.400 km.

"Não dá para cobrar motivação dos jogadores. Do jeito que está, vamos chegar a Brasília de ambulância", brinca o técnico Milton Setrini, o Carioquinha, que volta à quadra neste sábado, às 11h.

Até agora, sua equipe só coleciona derrotas "na excursão". E recorrentes reclamações.

"Disputo o Nacional há oito anos e nunca vi um tão mal estruturado", reclama Paulão. "Nós somos muito grandes (a média de altura é 1,97 m). Por melhor que seja o ônibus, você não acha posição para dormir, a perna não cabe... Chegamos estourados."

Não é só o desgaste físico que os atletas de Brasília têm enfrentado. Na viagem entre Uberlândia e São Paulo, viram o ônibus que viaja à sua frente ser baleado. O episódio mudou os planos da equipe, que decidiu evitar viagens noturnas.

Mas mesmo o susto se transformou em gozação, prática recorrente entre os atletas que tentam parar de contar os quilômetros.

"Se os ladrões entrassem no ônibus, iam ver um monte de marmanjo de dois metros de altura se enfiando embaixo dos bancos", diverte-se o ala Paulão.

O "pinga-pinga" pelas estradas não é exclusividade do time de Brasília. Muitas equipes já enfrentaram maratonas semelhantes e têm tentado amenizar a situação.

Para diminuir o desgaste dos atletas, o Ribeirão Preto decidiu investir na nova "estrela" do torneio. A equipe vai reformar o ônibus e aumentar o espaço dos assentos --serão três por fileira, e não quatro, como hoje.

O técnico Aluísio Ferreira, o Lula, também ganhará ajuda. Ele terá uma mesa com energia elétrica, em que poderá editar fitas de vídeo e usar o computador.

"A situação está ruim para todo mundo. Vamos ver se ganhamos alguma vantagem", conta.

O pouco conforto do ônibus semileito perdeu a importância para a equipe de Araraquara após uma viagem, na volta de Brasília.

Em uma das paradas, os jogadores esqueceram as recomendações e abusaram dos quitutes. Tiveram de ser levados às pressas ao hospital com diarréia. Para alguns, foram quatro dias de cama. Nunca a equipe viu tantos atletas caírem ao mesmo tempo.

Mesmo com as baixas, o técnico do Araraquara, Tom Zé, continua achando melhor viajar de ônibus. "Morro de medo de avião. Pago para não entrar em um", conta.

Medo também é um dos argumentos que o pivô Fabião, de Brasília, usa para reivindicar o fim da peregrinação pelas estradas.

Em 1998, quando defendia o Corinthians, o jogador de 2 m viu o ônibus perder o freio na descida para o litoral paulista. Até hoje ainda sofre com o trauma.

"Eu não consigo pregar o olho. Se o ônibus balança, cai em um buraco, eu dou um pulo", conta.

Quem consegue descansar mesmo é Alexey. O ala é invejado pelos companheiros por viajar no "quarto do líder", brincadeira feita em alusão ao programa Big Brother. Uma poltrona vazia ao lado da sua deixa o jogador esticar as pernas durante as viagens.

Mas a mordomia não o faz deixar de criticar a situação. Como muitos, acredita que a situação poderia ser diferente se Oscar ainda jogasse. Este é o primeiro campeonato sem o principal estrela do basquete nacional.

"Não sei se fariam isso com ele aí. Mas, se o Oscar reclamasse, poderia seria diferente."

Na sexta, Alexey e seus companheiros ganharam um tempo extra de recuperação. Carioquinha mudou os planos, desistiu de viajar de madrugada e deixou os atletas dormirem até mais tarde. O motivo não era o cansaço: queria economizar uma diária de hotel.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página