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18/05/2004 - 08h31

Atenas taxa voluntários e põe antidoping em risco

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JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
da Folha de S.Paulo

Na Olimpíada de maior preocupação com o doping da história, uma economia dos organizadores de Atenas põe em risco a eficiência dos controles na competição.

É que eles não pretendem bancar a hospedagem e a alimentação dos voluntários, que ajudam a realizar os exames. Decidiram cobrar € 70 por dia de cada um, cerca de R$ 258 reais, e a maioria resolveu não ir à Olimpíada, que começa em 13 de agosto.

Segundo o médico brasileiro Eduardo de Rose, membro do conselho principal da Agência Mundial Antidoping, se a organização dos Jogos não mudar de idéia, "ela poderá ter problemas".

"Os voluntários são pessoas experientes, gabaritadas, sem dúvida é melhor tê-los lá do que não contar com eles", afirmou. "Já conversei [com os organizadores], mas ainda nem acabaram de construir as instalações, talvez seja essa, no momento, a prioridade dos gregos. Vamos esperar."

A situação preocupa o COI (Comitê Olímpico Internacional), já que os Jogos de Atenas serão os primeiros após a descoberta de um novo esteróide, o THG, e também os primeiros após os norte-americanos terem sido acusados de encobrir vários casos de doping entre Seul-1988 e Sydney-2000.

Na Grécia, pela primeira vez na história será feito controle sistemático para EPO, substância que estimula a produção de glóbulos vermelhos e melhora a oxigenação sangüínea dos atletas.

Segundo o COI, nas últimas três Olimpíadas os voluntários estrangeiros pagavam a parte aérea, mas nunca hospedagem ou alimentação. O comitê já fez um pedido para a organização mudar de postura e, pelo menos, reduzir a diária de € 70 pela metade.

"Para nós, da América do Sul, é ainda mais difícil. Tem voluntário europeu que até pode pagar, mas não é o caso de muito brasileiro", afirmou De Rose.

Uma das baixas na equipe do médico deve ser o professor de educação física Alexandre Nunes, 45, que trabalha há 12 anos com ele e foi o escolta no antidoping dos judocas Aurélio Miguel e Henrique Guimarães, ambos bronze em Atlanta-96, e de Rogério Sampaio, ouro em Barcelona-92.

"Sou professor de duas universidades e treinador de judô. Dificilmente poderei me afastar do Brasil se tiver que pagar do próprio bolso."

Nunes lembrou que não só nos Jogos de Barcelona, Atlanta e Sydney as despesas dos voluntários do antidoping eram cobertas. Até no Pan de Santo Domingo, evento que penou com falta de recursos da República Dominicana, os gastos que tiveram ficaram por conta dos organizadores.

A equipe responsável pelo sistema de controle de doping de Sydney-00 diz que, na Austrália, a organização arcou com as despesas de cerca de 250 voluntários estrangeiros, "experts em controle de doping", 160 dos quais não iriam a Atenas se tivessem que pagar para trabalhar.

Para justificar a economia que quer fazer com os voluntários do antidoping, o Athoc cita os aumentos de investimentos que teve em outros setores, como o de segurança, que pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos ultrapassou a casa de US$ 1 bilhão.

Além do grupo de De Rose, que tem dez profissionais de Brasil, Guatemala, Panamá, Uruguai e EUA, equipes de Cuba, África do Sul, Portugal, Espanha e Rússia têm reclamado da política do Athoc de não subsidiar os voluntários estrangeiros --cerca de 300 eram esperados para viajar à Grécia e acompanhar o antidoping.

De acordo com Nunes, o trabalho dos voluntários não é simples "como pode parecer". Em Atenas, assim como já aconteceu em Sydney, um dos maiores problemas é realizar os chamados controles fora de competição.

"Achar [alguns] caras é praticamente impossível", disse o brasileiro. Os mais difíceis de serem encontrados, conta, são os ciclistas, que "treinam em trajetos de cerca de 120 km". "Na Austrália, quando chegávamos a um hotel, eles já estavam em outra cidade."

Quando acabaram encontrando os ciclistas que procuravam para fazer os exames, novo problema. "Eram todos da região da ex-Iugoslávia, e os voluntários, menos eu, tinham como língua materna o inglês. Resultado, não conseguíamos nos comunicar com eles. Aí alguém disse que um ciclista falava polonês. e eu descobri que ele competia por uma equipe de Portugal."

"Fiz o controle dele falando português, e meus colegas ficaram surpresos com o que acharam que era minha fluência em polonês. Com isso, pelo menos, fiz meu nome."
 

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