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08/06/2004 - 08h50

Fenômeno teen do atletismo começa a desafiar mundo dos adultos

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FÁBIO SEIXAS
da Folha de S.Paulo

Nunca um moleque de 15 anos correu 200 m tão rápido como ele. Em 2002, fez a prova em 20s58, novo recorde mundial da idade.

Nunca, também, nenhum moleque de 16 anos foi tão veloz. Em 2003, correu os 200 m em 20s13.

Neste ano, a história se repetiu. Em abril, aos 17 anos, o moleque percorreu a distância em 19s93. Quebrou um recorde que já durava 18 anos. Mais velho do que ele.

Nesta terça-feira, Usain Bolt deixa tudo isso para trás. Deixa, principalmente, de ser moleque. Em Ostrava, na República Tcheca, correrá pela primeira vez na Europa. Correrá pela primeira vez entre adultos.

Ao seu lado, no evento da categoria Super Grand Prix, a segunda em importância do circuito do atletismo, estarão velocistas como Shawn Crawford, JJ Johnson e Frankie Fredericks. Todos com Olimpíadas e Mundiais no currículo. Bolt, porém, não se assusta.

"Uma hora eu tinha que desafiar os caras. Acho que chegou a hora. Mas não sei se vou ganhar na minha primeira competição. Se eu correr bem, já estarei feliz", declarou à Folha, por telefone.

Jamaicano, ainda 17, Bolt tem tudo planejado até os Jogos de Atenas. Quer repetir o que os adolescentes Michael Phelps e Ian Thorpe fizeram nas piscinas: destruir recordes, aposentar veteranos, mudar a cara do esporte.

Uma era que pode já ter começado. Os 19s93 conquistados em um evento sub-20, nas Bermudas, são a melhor marca dos últimos dois anos. Desde 2002, nenhum atleta correu os 200 m abaixo de 20 segundos. Apenas Bolt.

Para efeito de comparação, Michael Johnson, recordista mundial com 19s32, tinha marca de 21s30 aos 17 anos. Dos atletas em atividade, só dez já fizeram menos de 19s93. A maioria, porém, está em declínio técnico ou chega aos Jogos recém-saída de lesões.

A melhor marca desse grupo é de Fredericks: 19s68, cravados em 1996. Aos 36 anos, o namibiano deve estar em sua última temporada. O segundo, Ato Boldon, 31, de Trinidad e Tobago, já correu 19s77, mas possui só a 121ª marca deste ano. Depois, aparece Francis Obikwelu, 25, que correu 19s84 em 1999, mas que é apenas o 55º na temporada. André Domingos, único brasileiro classificado, tem 20s49, 21º do ano. E por aí vai...

"Fiquei surpreso quando consegui baixar dos 20 segundos. Principalmente porque ainda estava na metade da minha fase de preparação para os Jogos. Sei que há muita coisa pela frente ainda, mas acho que tenho chances reais de buscar o pódio olímpico", disse.

Tudo conspira a favor de Bolt. E ele não foi o único a perceber. A Puma, empresa americana de materiais esportivos, já o garantiu como um de seus principais garotos-propaganda. E a imprensa internacional já cunhou um apelido. Lightning Bolt. Relâmpago.

A família também aproveita o momento de fama. Entre no site de busca Google e digite o nome do velocista. A primeira referência que surge é a do "Miss Lilly's", bar que sua tia, Lilly Bolt, dirige em Coxheath, norte da Jamaica.

Foi lá perto, em Trelawny, sua cidade natal, que Bolt começou a correr. Chutando e arremessando bolas. Antes de escolher o atletismo, queria jogar futebol ou basquete. Na escola, porém, começou com os 100 m e os 400 m até que seu técnico, Dwight Barnett, o convenceu a disputar só os 200 m. "Foi perfeito para o meu ritmo, para a minha velocidade", disse.

Seu primeiro momento de glória veio também em casa, na Jamaica. Em 2002, o país recebeu o Mundial juvenil. E foi lá, diante de um público vibrante de 35 mil pessoas, que Bolt cravou os 20s58 que lhe deram o ouro e o recorde.

O próximo, ele acredita, ainda está por vir. Bem longe de casa. Antes dos Jogos, Bolt correrá alguns eventos para se acostumar a disputar baterias classificatórias, raridade em torneios menores.

Depois, disputará as seletivas jamaicanas, mera formalidade. No mês que vem, correrá o Mundial sub-20 na Itália. Já em Atenas, no dia 21 de agosto, fará 18 anos. Mas isso não é problema, pois no atletismo só há limite de idade (20) na maratona e na marcha de 50 km.

Três dias depois, começa a disputa dos 200 m. Se nada der errado, ele vai estar lá. Oficialmente adulto. Mas louco para aprontar, como nos tempos de moleque.

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