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11/07/2004 - 10h15

Torben Grael vai à 6ª Olimpíada, bate recordes e diz que não pensa em parar

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GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo

Um colega de classe abordou Torben Grael no corredor da Universidade Federal Fluminense.

Preocupado com as seguidas faltas do velejador no curso de administração, resolveu colocá-lo contra a parede. "Você leva muito a sério esse lance de esporte. Acha que vai viver de vento?"

Grael nem ligou para o alerta e continuou a passar boa parte dos dias dentro de um barco à vela.

Hoje, 16 anos após o episódio, tem convicção de que o vento conduziu sua vida a um porto seguro. Ele se prepara para competir na sexta Olimpíada, recorde histórico entre atletas brasileiros.

Em Atenas, quer estender a marca de esportista mais premiado do país --tem quatro medalhas, mesma soma do nadador Gustavo Borges, mas leva vantagem por possuir uma de ouro.

E, desta vez, ainda carrega outra façanha na bagagem: em agosto, terá 44 anos. Será o mais velho integrante da delegação.

Parecem motivos significativos para comemorar e mostrar a cara. Só que Grael se mantém cuidadosamente longe dos holofotes. "Não sinto necessidade de aparecer. Nunca quis ser ídolo", conta.

Tarde demais. Ao menos no mundo do iatismo, não há quem deixe de venerá-lo. Até Robert Scheidt, heptacampeão mundial da laser e nome mais famoso da categoria, derrama elogios.

"Se o colocarem no leme de uma jangada ou de uma banheira com vela, pode apostar suas fichas que ele ganha. O Torben é o velejador mais versátil do Brasil", diz.

Não há exagero na avaliação de Scheidt. Desde 1976, Grael coleciona títulos nacionais e continentais em quase todas as classes.

Nos Jogos, concentrou-se em dois barcos. Com o soling, foi prata em Los Angeles-1984. Dentro do star, levou o bronze em Seul-1988 e Sydney-2000 e o ouro em Atlanta-1996. O currículo deu-lhe credencial para se aventurar nos torneios de vela oceânica.

Grael já participou da America's Cup e da Volvo Ocean Race, disputas em veleiros com mais de 15 metros e consideradas as provas mais complexas do iatismo.

"Busco sempre me renovar. Desde moleque, gosto de testar coisas novas, de inventar desafios que me consumam", diz o atleta.

O caráter errante vem do berço. Torben e os irmãos Lars e Axel nasceram em São Paulo e rodaram muitas cidades na infância. Motivo: o pai, Dickson, era integrante de um grupo de pára-quedistas do Exército brasileiro.

Ao lado da mulher, Ingrid, ex-miss Estado do Rio, o militar deixou São Paulo e viveu com os rebentos em Belém (PA), Uruguaiana (RS) e Brasília (DF), antes de fixar base em Niterói (RJ).

Na infância, Grael adorava velejar com os tios Axel e Eric. Prebben, seu avô dinamarquês, selou de vez a parceria do menino com o mar aos seis anos, quando o presenteou com um barco de 4 m. Foi o marco inicial de sua carreira.

Prateleira

Quando cresceu, Grael encontrou nortes para seus caminhos na literatura. Na estante dos livros favoritos estão guardados os relatos do navegador brasileiro Amyr Klink e a epopéia do britânico Ernest Shackleton (1874-1922) nas explorações do pólo Sul.

Há também lugar para a ficção. "Gosto muito de "O Velho e o Mar'", conta ele, sobre a obra de Ernest Hemingway (1899-1961).

No livro, um envelhecido pescador chamado Santiago quer recuperar o prestígio e provar que não está acabado. Após um longo período sem fisgar peixes, parte para uma solitária busca em alto-mar.

Assim como o personagem do livro, Grael entra no barco em Atenas para se livrar de uma lembrança que o incomoda. Ao lado de Marcelo Ferreira, seu parceiro desde 1989, ele tenta exorcizar a trajetória percorrida em Sydney.

Na Olimpíada de 2000, a dupla perdeu o ouro na derradeira regata da classe star. "Não estávamos muito treinados. Agora, pudemos praticar mais. Não cometeremos os mesmos erros", explica.

Um novo ouro olímpico seria o ponto final da carreira? "Não penso em parar. Estou em forma. A aposentadoria fica para depois."

Especial
  • Arquivo: Veja o que já foi publicado sobre Torben Grael
  • Arquivo: Veja o que já foi publicado sobre os Jogos Olímpicos
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