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13/07/2004 - 11h00

Dentista abandona clínica para tentar o ouro olímpico no tiro pelo Brasil

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FÁBIO FLEURY
da Folha Online

Viver de esporte no Brasil é uma tarefa complicada. Quando se trata de um esporte quase desconhecido da maioria das pessoas, a missão requer ainda mais persistência e força de vontade. Mas uma prata nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, no ano passado, permitiu que o dentista paranaense Rodrigo Bastos, 36, deixasse a clínica odontológica de lado para se dedicar exclusivamente aos treinos de tiro esportivo para os Jogos Olímpicos de Atenas-04.

Washington Alves/COB
Equipe brasileira de boxe
Bastos festeja prata no Pan
Depois de mais de uma década longe das competições internacionais, o atirador conseguiu um grande desempenho na capital da República Dominicana. Ele igualou o recorde olímpico ao acertar 124 dos 125 pratos lançados na primeira série. Com esse resultado, teria conquistado a medalha de prata em Sydney-2000.

Bastos é especialista na fossa olímpica, modalidade em que o atirador usa uma escopeta e tem de atingir pratos de 11 cm de largura lançados a 150 km/h, a uma distância de 76 a 80 metros.

"O recorde mundial é de 100% de acertos em 125 pratos, mas foi obtido na regra antiga, quando os pratos eram lançados a 76 metros no máximo. Hoje a distância aumentou. Não dá para apontar um motivo em particular para esse resultado. Em tiro, os resultados dependem muito do dia, de como você está, tudo influencia. Nesse dia, deu tudo certo, estava bem psicologicamente", analisa o atirador, que com o resultado conquistou vaga em Atenas-04. "É difícil apontar favoritos ou prognósticos para a Olimpíada."

A carreira de Bastos no tiro esportivo começou aos 12 anos, já na fossa olímpica. Em 1988, o paranaense teve o primeiro bom ano da carreira. Disputou os Jogos de Seul, na Coréia do Sul, e terminou na sétima colocação. Alguns meses depois, na Cidade do México, conquistou o primeiro lugar no Campeonato Mundial --acertando 197 dos 200 disparos que fez. No ano seguinte, novamente na capital mexicana, ficou em terceiro no Mundial e foi obrigado a parar com a carreira esportiva para poder estudar.

"Eram outros tempos, não tínhamos o estímulo para treinamentos que temos hoje. Tive de parar para poder cursar a faculdade de odontologia. Depois disso, eu raramente competia, mas sempre tive a vontade de voltar para disputar mais Mundiais, Olimpíadas. Então treinei muito para o Pan de Santo Domingo, consegui o resultado e entrei numa nova fase. Hoje, posso me dedicar mais aos treinos", afirma Bastos.

Até o início deste ano, para poder praticar, ele tinha de se deslocar de Guarapuava, onde mora, para Curitiba, num percurso de cerca de 200 quilômetros. Mas uma ação conjunta entre o Comitê Olímpico Brasileiro, a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo e um de seus patrocinadores deu a Bastos a possibilidade de montar um centro de treinamentos na sua própria cidade.

"O estande de tiros não fica devendo nada ao de Curitiba, é até melhor. Com isso, pude me afastar um pouco da odontologia [ele tem uma clínica e deixou a maioria dos atendimentos para os sócios] e treinar mais para tentar buscar um bom resultado em Atenas", conta.

O principal problema para praticar o tiro esportivo no Brasil, afirma ele, é a burocracia. "O Estatuto do Desarmamento dificultou muito as coisas para nós. O tratamento que temos é o mesmo de bandidos. Temos uma dificuldade muito grande para transportar as armas e a munição dentro do país. Existe uma legislação específica para esse tipo de arma especial, mas a burocracia é muito grande."

"O lugar mais difícil para se fazer esse transporte é dentro do Brasil. Nem mesmo nos Estados Unidos, onde há leis antiterroristas, temos esse problema. Basta apresentar os documentos que eles liberam o transporte dos equipamentos", relata Bastos.

Gostinho da Olimpíada

Em abril deste ano, Rodrigo Bastos teve uma prévia do que vai encontrar em agosto, durante as Olimpíadas. O atirador participou do Pré-Olímpico da categoria, disputado no Centro Olímpico de Tiro Markopoulo, onde acontecerão as competições de tiro.

O brasileiro terminou na 11ª colocação no torneio, que era aberto a atiradores que não estarão nos Jogos, e reuniu 150 participantes.

"As instalações ainda não estavam finalizadas, faltava colocarem a grama e acertarem alguns detalhes. Mas deu para ver que o local vai ficar bonito para os Jogos", elogia.

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