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11/08/2004 - 09h05

Michael Phelps tenta superar recorde de ouros na natação em Atenas

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GUILHERME ROSEGUINI
da Folha de S.Paulo, em Atenas

Os detalhes da primeira vez ainda estão frescos na memória. Ele estava quieto em um ônibus. Tinha 16 anos. Súbito, decidiu romper o silêncio, voltou-se para seu técnico e perguntou: "Quem foi esse tal de Mark Spitz?".

Enfurecido, Bob Bowman pareceu não acreditar na indagação do pupilo. A resposta veio em tom de bronca: "Quem quer ganhar um ouro olímpico não pode ter uma dúvida dessas".

Ele atende pelo nome de Michael Phelps, tem hoje 19 anos e já sabe muito bem quem foi Spitz.

E quer ser igual a ele. Talvez maior. Justo para dividir espaço na história com o personagem que descobriu numa despretensiosa conversa de ônibus.

"Até aquele momento, eu e meu técnico nunca havíamos parado para pensar em Spitz. Eu estava concentrado na minha carreira. E ainda estou", diz Phelps, em entrevista à Folha.

Agora, ele já sabe a história na ponta da língua. Nos Jogos de Munique, em 1972, um rapaz bigodudo de 22 anos disputou sete provas na natação. Ganhou todas e quebrou sete recordes mundiais. Foi a performance mais arrebatadora de todos os tempos.

"Claro que Spitz foi um excepcional nadador. Mas eu só quero ser eu mesmo e conseguir alcançar meus objetivos", conta o jovem norte-americano.

Phelps já está na Grécia e dá início sábado ao seu garimpo de oito pódios. A meta soaria como um completo ultraje não fosse o currículo construído pelo garoto nas últimas temporadas.

Só em 2003, ele quebrou oito recordes mundiais. Os especialistas começaram a quebrar a cabeça para entender suas aptidões.

Versatilidade e fôlego

A primeira virtude é a versatilidade. Phelps é competitivo nos quatro estilos da natação -borboleta, costas, peito e crawl. Durante a seletiva norte-americana, obteve vaga olímpica em seis provas individuais.

Spitz, que nadava dois estilos --borboleta e crawl--, conseguiu apenas quatro lugares para Munique-72. As outras medalhas vieram em revezamentos.

Nadar tantas modalidades obriga Phelps a cair na água com poucos minutos de descanso entre uma prova e outra. Mas é aí que reside o seu maior trunfo: fôlego.

Os médicos costumam quantificar o cansaço muscular de um atleta medindo o nível de ácido láctico em seu sangue.

Em 2003, especialistas dos EUA coletaram uma amostra de Phelps três minutos depois de ele completar os 200 m costas próximo ao recorde mundial da distância. Resultado: 5,6 milimols de ácido por litro de sangue.

"Esse número é baixo demais. Ele se recupera rápido, muito rápido. Pouco tempo após nadar, já está 100% para competir de novo", diz Marcos Bernhoefit, médico da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos.

Em nadadores do Brasil, sob as mesmas circunstâncias, ele nunca mensurou quantidades inferiores a 9 milimols por litro.

Os valores surpreendem até o próprio Michael Phelps. "Não sei porque minha contagem é tão baixa. Ninguém consegue explicar."

Mas nem um organismo tão bem preparado pode agüentar íntegro uma rotina como a que ele pretende cumprir em Atenas. Diferentemente da época de Spitz, a natação prevê eliminatórias, semifinais e finais. Se quiser oito medalhas, ele precisará cair na piscina ao menos 20 vezes em oito dias.

Pior: em algumas provas, não está nem garantido.

Seu lugar nos revezamentos 4 x 100 m livre e 4 x 100 m medley está condicionado à decisão do treinador Eddie Reese, que ainda não escolheu os titulares.

Só que é tarde demais para o fracasso. As apostas já estão feitas. Michael Phelps é o favorito da mídia e o mais badalado atleta dos Jogos Olímpicos de Atenas.

Carrega sozinho uma imensa pressão e um objetivo: se igualar a um homem que, há três anos, nem sabia quem era.

Especial
  • Arquivo: Veja o que já foi publicado sobre MIchael Phelps
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