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31/08/2004
-
08h29
PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo
A China ameaçou a supremacia americana. O Japão foi o que mais aumentou o número de ouros, 11 a mais que em Sydney. O Brasil voltou ao G-20 das medalhas após 20 anos e, no grupo, destacou-se como o que mais galgou posições.
Em comum, os emergentes que brilharam em Atenas-2004, encerrada no domingo, têm por trás das delegações olímpicas a sombra acolhedora do Estado, atletas e equipes técnicas mantidos basicamente com verba do governo.
Na rota contrária, estão os países do Leste Europeu, que trocaram o suporte público pelo da livre iniciativa --o comitê russo tem 18 parceiros privados-- e fizeram seu pior papel histórico.
Ou a União Européia. Há quatro anos, os então 15 integrantes do bloco acumularam 79 ouros. Na Grécia, eles somaram 68.
Cruzar o quadro de medalhas com a origem dos recursos mostra que a Olimpíada foi pródiga para as "delegações estatais".
O Brasil está no olho do furacão do debate. O comitê olímpico nacional depende como nunca do governo, com quem mantém estreita relação, por meio do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.
Desde 2001, o COB recebeu R$ 158 milhões da Lei Piva, verba das loterias federais. Só a "operação Atenas" consumiu R$ 10 milhões, na mais cara Olimpíada da história. Houve mais dinheiro e mais ouros, mas menos medalhas e menos esportes premiados.
Além da Lei Piva, cinco estatais patrocinam seis confederações (150 atletas). Dos 10 pódios, 6 foram do grupo, incluídos os ouros.
E, sob o governo Lula, tudo aponta para uma intervenção crescente do Estado. Nuzman e Agnelo estão certos de que, no dia 7, quando o presidente receber a delegação olímpica em Brasília, anunciará o envio ao Congresso do projeto de lei de incentivo fiscal para o esporte --que poderá gerar até R$ 300 milhões/ano.
Às vésperas dos Jogos, Lula sancionou a Bolsa-Atleta, que provém competidores sem patrocínio com auxílios mensais de R$ 300 a R$ 2.500. Em 2005, o governo deve gastar até R$ 10 milhões.
Na China, o quadro está consolidado. Sem contar aportes diretos do governo, nos últimos dez anos a loteria esportiva arrecadou US$ 600 milhões, dos quais US$ 150 milhões foram para massificar a prática de atividades físicas. Neste mês, duas loterias surgiram para capitalizar Pequim-2008.
O apetite chinês, aliás, sacudiu os EUA. O comitê olímpico do país agora faz reservas ao modelo privado e pede ajuda ao governo.
Até o Japão, segunda economia do planeta, deve muito do êxito na Grécia à escora do Estado. Em 1998, foi aprovada uma lei de fomento ao esporte via concursos esportivos. Desde 2001, quando surgiu uma bem-sucedida loteria da liga de futebol, mais de US$ 100 milhões foram repassados a sete modalidades, que faturaram dois terços dos 16 ouros do país.
A confirmar a tendência está Cuba, única nação à margem da globalização a se manter competitiva entre as potências, raspando nos "top ten" --foi 11ª em Atenas.
Especial
Leia mais notícias no especial dos Jogos Olímpicos-2004
Olimpíada de emergentes premia quem banca atleta com dinheiro público
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da Folha de S.Paulo
A China ameaçou a supremacia americana. O Japão foi o que mais aumentou o número de ouros, 11 a mais que em Sydney. O Brasil voltou ao G-20 das medalhas após 20 anos e, no grupo, destacou-se como o que mais galgou posições.
Em comum, os emergentes que brilharam em Atenas-2004, encerrada no domingo, têm por trás das delegações olímpicas a sombra acolhedora do Estado, atletas e equipes técnicas mantidos basicamente com verba do governo.
Na rota contrária, estão os países do Leste Europeu, que trocaram o suporte público pelo da livre iniciativa --o comitê russo tem 18 parceiros privados-- e fizeram seu pior papel histórico.
Ou a União Européia. Há quatro anos, os então 15 integrantes do bloco acumularam 79 ouros. Na Grécia, eles somaram 68.
Cruzar o quadro de medalhas com a origem dos recursos mostra que a Olimpíada foi pródiga para as "delegações estatais".
O Brasil está no olho do furacão do debate. O comitê olímpico nacional depende como nunca do governo, com quem mantém estreita relação, por meio do ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.
Desde 2001, o COB recebeu R$ 158 milhões da Lei Piva, verba das loterias federais. Só a "operação Atenas" consumiu R$ 10 milhões, na mais cara Olimpíada da história. Houve mais dinheiro e mais ouros, mas menos medalhas e menos esportes premiados.
Além da Lei Piva, cinco estatais patrocinam seis confederações (150 atletas). Dos 10 pódios, 6 foram do grupo, incluídos os ouros.
E, sob o governo Lula, tudo aponta para uma intervenção crescente do Estado. Nuzman e Agnelo estão certos de que, no dia 7, quando o presidente receber a delegação olímpica em Brasília, anunciará o envio ao Congresso do projeto de lei de incentivo fiscal para o esporte --que poderá gerar até R$ 300 milhões/ano.
Às vésperas dos Jogos, Lula sancionou a Bolsa-Atleta, que provém competidores sem patrocínio com auxílios mensais de R$ 300 a R$ 2.500. Em 2005, o governo deve gastar até R$ 10 milhões.
Na China, o quadro está consolidado. Sem contar aportes diretos do governo, nos últimos dez anos a loteria esportiva arrecadou US$ 600 milhões, dos quais US$ 150 milhões foram para massificar a prática de atividades físicas. Neste mês, duas loterias surgiram para capitalizar Pequim-2008.
O apetite chinês, aliás, sacudiu os EUA. O comitê olímpico do país agora faz reservas ao modelo privado e pede ajuda ao governo.
Até o Japão, segunda economia do planeta, deve muito do êxito na Grécia à escora do Estado. Em 1998, foi aprovada uma lei de fomento ao esporte via concursos esportivos. Desde 2001, quando surgiu uma bem-sucedida loteria da liga de futebol, mais de US$ 100 milhões foram repassados a sete modalidades, que faturaram dois terços dos 16 ouros do país.
A confirmar a tendência está Cuba, única nação à margem da globalização a se manter competitiva entre as potências, raspando nos "top ten" --foi 11ª em Atenas.
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