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31/10/2004 - 09h02

"Vou jogar bola de qualquer jeito. É a única coisa que sei fazer", disse Serginho

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FÁBIO VICTOR
da Folha S.Paulo

Quando foi submetido à segunda bateria de exames cardíacos no Incor, em junho passado, o zagueiro Serginho deixou claro para os médicos que continuaria a jogar futebol independentemente do resultado dos testes.

A Folha conversou com cardiologistas que examinaram o jogador do São Caetano na época. Por duas ocasiões, durante e depois da realização de um dos exames, Serginho revelou oposição à possibilidade de ter de se aposentar por causa de problemas de saúde.

"Vou jogar bola de qualquer jeito. É a única coisa que sei fazer, e tenho família para sustentar. Preciso ganhar mais um dinheiro até conseguir me aposentar", disse o zagueiro, segundo relato de um dos médicos do hospital.

A frase foi pronunciada depois que o próprio Serginho questionou o cardiologista sobre o seu futuro. Diante do alerta de que haveria, sim, riscos caso ele continuasse a jogar, o atleta expressou seu inconformismo.

Serginho, que tinha 30 anos, sustentava a mulher, Helaine, e o filho, Paulo Sérgio Júnior, de 4 anos, e ajudava os numerosos parentes que vivem em Serra, na região metropolitana de Vitória (ES). A família é pobre. O jogador deixou dez irmãos. O pai, Virgílio, tem uma banquinha que vende balas e miudezas no bairro Parque Residencial Laranjeiras.

Sem documento

Após a trágica morte do zagueiro, durante o segundo tempo de São Paulo x São Caetano, na quarta-feira passada, no estádio do Morumbi, pelo Brasileiro, surgiram especulações de que ele havia assinado um documento isentando o seu clube de culpa no caso de problemas em campo. A mulher de Serginho negou a existência do termo de responsabilidade.

De acordo com o atestado de óbito, a morte foi causada por edema pulmonar e hipertrofia miocárdica, decorrentes de doença congênita que causa o engrossamento das fibras do coração.

A primeira bateria de exames, em fevereiro --da qual participou todo o elenco do São Caetano, pois o clube alegou preocupação com a morte de dois jogadores em campo--, já detectara problemas cardíacos no jogador, entre eles uma limitação na atividade do ventrículo esquerdo, que injeta sangue na artéria aorta.

O Incor (Instituto do Coração, do Hospital das Clínicas da USP) então solicitou novos testes, entre os quais um cateterismo, que verifica a situação das artérias coronárias por meio de imagens obtidas com processamento digital, e um holter, aparelho usado por 24 horas para avaliar a atividade elétrica do coração.

Ambos foram realizados em junho, mês em que Serginho atuou quatro vezes pelo Brasileiro.

O cateterismo é o último procedimento que se faz em pacientes com suspeita de problemas cardíacos antes que sejam necessárias angioplastias ou cirurgias.

Ou seja, se alguém precisa fazer o cateterismo, também conhecido como cineangiocoronariografia, é sinal de que exames anteriores apontaram algum distúrbio nas funções ou na capacidade muscular do coração.

O cateterismo não apontou entupimentos nas coronárias, mas diagnosticou um enfraquecimento no músculo do coração. Já o holter apresentou sucessivas extra-sístoles (arritmias).

Com os resultados dos exames prontos, Serginho e o médico do São Caetano, Paulo Forte, foram alertados por uma equipe do Incor que a continuação da carreira do jogador representaria um risco para a vida dele.

Forte ---que atendeu Serginho ainda no gramado do Morumbi, tentando reanimá-lo com respiração boca a boca-- não tem dado entrevistas. O clube e amigos informam que ele ainda está muito traumatizado com o episódio.

A interlocutores, o médico declarou que o Incor não entregou ao clube nenhum documento atestando a impossibilidade de Serginho jogar futebol.

Ainda segundo a versão do médico relatada a amigos, o hospital informou que o atleta corria riscos semelhantes aos que correm a maioria dos jogadores, mas em nenhum momento alertou que a situação fosse grave ou que ele devesse parar de atuar.

Guerra de versões

O conflito entre os relatos de médicos do Incor, de dirigentes do São Caetano e de profissionais que surgem a todo instante na imprensa para opinar sobre o caso deve ser destrinchado na Justiça e no Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

Na quinta-feira, um dia após a morte, a Polícia Civil do Estado instaurou inquérito para apurar o caso. O presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza --que no dia do episódio disse que Serginho não tinha problema nenhum no coração e depois voltou atrás--, será um dos intimados a depor. O médico Paulo Forte também vai ser ouvido, assim como jogadores do time do ABC.

Sexta-feira, o CRM abriu sindicância para apurar responsabilidades de médicos no episódio.

Integrantes da equipe do Incor estão impacientes com a quantidade de palpites emitidos por colegas de profissão das mais diversas especialidades. Um dos médicos do hospital chegou a afirmar que 99% das informações sobre o caso divulgadas nos últimos dias pela mídia são falsas.

Especial
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