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03/12/2004 - 09h03

Viúva de Serginho rompe silêncio e culpa médico do Incor

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KLEBER TOMAZ
LUÍS FERRARRI
da Folha de S.Paulo

Na primeira entrevista desde a morte do zagueiro Serginho, a viúva Helaine Cristina de Castro Cunha, 28, disse na quinta-feira que o marido "foi uma vítima" e que, alheio ao risco de morte, negociava com o Olympique de Marselha (França).

Ela diz que pretende acionar judicialmente o médico Edimar Bocchi e o Incor e inocenta o São Caetano da responsabilidade pela morte do atleta, ocorrida em 27 de outubro, após sofrer parada cardiorrespiratória no Morumbi.

Em quase duas horas de conversa em seu apartamento em São Caetano, chorou duas vezes. Uma, ao rever o uniforme que o zagueiro vestia quando morreu; a outra, ao falar que guarda consigo a camisa de concentração dele.

A camisa 5 azul do São Caetano (rasgada para a aplicação do desfibrilador) fora guardada pela mãe de Helaine e só deixou a gaveta a pedido da Folha --que, entretanto, não obteve autorização para fotografá-la.

Folha - O que acha da possibilidade de o presidente Nairo Ferreira de Souza e o médico Paulo Forte, do São Caetano, responderem por homicídio doloso na Justiça?

Helaine Cristina de Castro Cunha - Acho uma injustiça. É fácil culpar os dois por um papel em que o médico [Edimar Bocchi, do Incor, que chefiou os exames cardíacos do atleta] escreveu o que quis.

Folha - Qual a sua maior mágoa sobre o tratamento do caso?

Helaine - Pintaram o Serginho como uma pessoa que não era. Pessoas tratam-no como se fosse um mercenário, como alguém que coloca o dinheiro e a carreira acima de qualquer coisa.

Folha - Eles quem?

Helaine - O médico do Incor, que disse ter avisado que ele estava doente. Ele começou essa confusão toda, e parte da imprensa.

Folha - Você pretende processar Bocchi e o Incor?

Helaine - Vamos pedir o inquérito, que será analisado por um advogado criminalista. Não é questão de dinheiro. É erro mesmo. Quero o CRM [registro no Conselho Regional de Medicina] dele se for preciso. Ninguém fica 30 dias falando uma coisa e depois muda o que havia dito. Ele perdeu a credibilidade. Isso comprova que o Serginho não sabia de nada.

Folha - Mas, no prontuário médico, Bocchi escreve que Serginho e Forte foram alertados do risco de morte.

Helaine - Soube desse prontuário. É ridículo! Não tem nenhuma assinatura do São Caetano ou do Serginho. "Se tiver sorte não terá nada", isso não é coisa que um médico escreva. Por que tenho que acreditar nisso?

Folha - E você sabia que ele corria risco de morte?

Helaine - Se tinha risco de morte, ele [Bocchi] não passou para o Serginho. Ele não tinha dor. Agora, vejo jornais tratando o jogo do Flamengo [empate por 1 a 1, dia 2 de maio, em Volta Redonda] como problema cardíaco. Ele passou mal porque comeu um misto-quente. Ele vomitou e teve desarranjo intestinal. Se tinha problema de coração, não foi passado para ele.

Folha - À polícia, você disse que Serginho negociava com um time da França. Qual?

Helaine - Ele falou: "Preta [apelido de Helaine; o de Serginho era Preto], tem um time interessado em mim que virá ver jogos contra o Paysandu e Fluminense". Era o Olympique de Marselha.

Folha - O São Caetano sabia que o Serginho corria risco de morte?

Helaine - Acho que a diretoria do São Caetano também não sabia. Como ia negociá-lo sabendo que estava doente e poderia ser devolvido na hora?

Folha - O que o Serginho disse sobre os resultados dos exames que detectaram arritmia nele?

Helaine - No dia em que ele fez cateterismo, fui buscá-lo de carro e perguntei ao doutor Paulo se estava tudo bem com meu marido. Ele disse: "Pode seguir a vida normal". Na hora abracei o Serginho e agradeci a Deus.

Folha - Mas não preocupava o fato de ele ter uma arritmia?

Helaine - Fiquei um pouco preocupada sim, mas, após o cateterismo, o médico [Bocchi] falou para ele: "Serginho você tem arritmia insignificante, não precisa tomar remédio, é só evitar de tomar Coca-Cola e café, que têm cafeína".

Folha - Você viu o Serginho cair no gramado do Morumbi?

Helaine - Eu estava vindo da cozinha e vi na TV que ele estava caído. Na hora pensei que ele tivesse batido a cabeça com outro jogador. Mas quando o médico [Paulo Forte] chegou e fez massagem cardíaca nele, vi que a coisa era séria. Fui para o hospital [São Luiz] e quando cheguei lá, me disseram que o Serginho havia morrido.

Folha - Como seguiu a vida depois disso tudo?

Helaine - Parei de ver televisão. Só ficavam mostrando a imagem dele o tempo todo. Só agora voltei a assistir com mais freqüência.

Folha - Como seu filho reagiu à morte do pai?

Helaine - No dia da morte, ele [Paulo Sérgio Sérgio Oliveira da Silva Júnior, o "Paulão", 3] ficou brincando com uns amigos. Dentro do avião, ele me falou: "Papai morreu". Levei um susto, porque até então não havíamos falado disso para ele. O Paulão disse que morrer é desmaiar, depois dormir e ir para o céu. Agora está melhor.

Folha - Você pretende ficar em São Caetano até quando?

Helaine - Voltarei para Coronel Fabriciano [MG] só em 2006, porque vou esperar minha irmã se formar na faculdade. Lá pretendo abrir um instituto [Serginho 3] para ajudar crianças carentes e cursar assitência social. O São Caetano vai cumprir o contrato do Serginho até o final de 2005, pagando seus salários e aluguel do apartamento.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a morte do jogador Serginho
  • Leia o que já foi publicado sobre o São Caetano no Nacional
  • Leia mais notícias no especial do Brasileiro-2004
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