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27/12/2004 - 10h00

"Darwinismo" dá vantagem a quenianos em provas de longa distância

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ADALBERTO LEISTER FILHO
da Folha de S.Paulo

Uma espécie de "seleção natural" pode ser a origem do domínio queniano em provas de longa distância, como a São Silvestre, competição de 15 km, que terá sua 80ª edição na sexta, em São Paulo.

O conceito de seleção natural foi formulado pelo britânico Charles Darwin (1809-1882). Para ele, os indivíduos mais adaptados ao ambiente são selecionados e passam suas características aos filhos.

A teoria de Darwin ajudaria a explicar a revelação de tantos talentos para corridas de rua. Segundo os ingleses John Bale e Joe Sang, a região do Rift Valley é o berço de 72% dos fundistas bem-sucedidos do Quênia --o local abriga 20% da população do país.

"O Rift Valley é um território relativamente grande. Mas, se o dividirmos por regiões, veremos que alguns locais revelaram muitos corredores e outros, um número reduzido", diz Bale, professor da Universidade de Keele.

A tradição individualista de algumas tribos, como os kalenjin, ajudou a forjar uma geração de corredores com bons resultados.

"Os nandis, um subgrupo dos kalenjin, produziram 23 vezes mais atletas de longa distância do que poderíamos esperar pelo tamanho de sua população", diz ele.

A tribo tinha como costume a caça. O homem capaz de retornar à aldeia com maior quantidade de animais tinha o direito a ter mais mulheres. Assim, os bons corredores faziam mais descendentes.

Quando os colonizadores ingleses chegaram à região, no século 19, tiveram dificuldade em dominar o local, já que o povo nandi era guerreiro. Só apaziguaram os ânimos e desenvolveram boas relações com a tribo quando começaram a incentivar o esporte.

De acordo com outro pesquisador do tema, Tim Noakes, professor de fisiologia na Universidade da Cidade do Cabo (África do Sul), o ambiente também ajudou a desenvolver bons corredores.

O Rift Valley conta com altas altitudes (de até 2.400 m) e ar rarefeito, que favorece os treinos. "O ambiente ajuda e deve ter promovido algumas adaptações genéticas em um momento inicial, há milhares de anos. Mas hoje muitos quenianos vivem e se preparam na Europa e nos EUA, em locais de altitude baixa", pondera.

É esse o ponto de discordância entre os dois. Para Bale, a genética, isoladamente, não explica o predomínio do Quênia em corridas que exijam resistência.

"Não sou médico, mas não creio na tese de que há um gene para a corrida. Senão, vamos descobrir um gene do basquete, um gene do salto em distância, um gene do salto em altura...", enumera.

Já Noakes defende que alguns componentes genéticos concedem vantagem aos quenianos.

"A aptidão para as corridas não pode ser explicada apenas pelos treinos. Se fosse só isso, os quenianos também seriam bons em provas velozes, como os 100 m, mas não são", argumenta o professor.

Noakes afirma que os negros e, em especial os quenianos, são capazes de correr por mais tempo sem apresentar sinais de fadiga.

"Isso ocorre porque seus músculos têm algumas adaptações especiais que os permitem acelerar por mais tempo antes de o cérebro avisar ao corpo que é hora de diminuir o ritmo. Nos europeus, a fadiga é mais rápida", afirma.

Para o pesquisador, tal vantagem pode ter data para acabar.
"Se encontrarmos os genes que explicam a superioridade dos negros, é só transferi-los aos corredores europeus. Isso poderá acontecer no futuro", acredita.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre o Darwinismo
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