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30/12/2004 - 09h38

Atletas driblam buracos na São Silvestre sobre rodas

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EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO

da Folha de S.Paulo

Todos são forasteiros. Vão cumprir a São Silvestre sem colocar os pés no asfalto, alcançar 80 km/h nas ruas e rezar para que os buracos não causem danos graves à saúde e ao equipamento.

Ao final da disputa, não serão contemplados com prêmios em dinheiro. Só troféus e medalhas de participação serão concedidos.

É esse cenário repleto de adversidades que cinco atletas encontrarão ao encarar a prova de amanhã em cadeiras de rodas.

O número restrito de aventureiros já denota o quão árduo é o caminho. Os cadeirantes cumprem os mesmos 15 km do percurso tradicional. A largada ocorre às 15h --apenas 15 minutos antes do início da prova feminina.

"Algumas mulheres conseguem nos alcançar, mas a maioria a gente deixa para trás. Pensa que nós somos lentos? Que nada. Quase voamos em São Paulo", diz Francisco Amora da Silva, que chega hoje de Fortaleza para competir na São Silvestre pela segunda vez --terminou em quinto em 2003.

"Voar" pode soar exagerado. Em alguns trechos, contudo, os cadeirantes atingem uma velocidade impensável para quem pretende percorrer a distância a pé.

O trecho mais rápido é a descida da rua da Consolação. Durante dois quilômetros, os atletas alcançam até 80 km/h. É hora de ganhar tempo, recuperar o fôlego e também redobrar os cuidados.

Tudo porque fica mais difícil desviar dos buracos nos terrenos inclinados. "No ano passado, eu caí. Minha cadeira embalou numa descida, eu passei por um desnível e desabei na pista", explica Marcio Aparecido de Queiroz.

Vereador eleito em Votorantim (102 km a oeste de São Paulo), ele ajuda a elencar os motivos que tornam tão minguada a lista de concorrentes em sua categoria.

"Falta estímulo, não há prêmio, não há um sistema de classificação. No ano passado, só descobri minha colocação porque contei os que chegaram depois. Não encontrei nada, nenhum resultado no site oficial da prova."

Ex-jogador de basquete em cadeira de rodas e oitavo colocado na última edição, Queiroz tem ao menos um alento em relação aos adversários: seu périplo até a largada não será tão extenuante.

Ele viajará até a capital de ônibus e pretende voltar para sua cidade logo após o término do evento. É quase nada se comparado a epopéia que o cearense Amora da Silva será obrigado a tramar.

Com apoio de colegas e patrocinadores, conseguiu o dinheiro para deixar Fortaleza de avião. Mas ele não faz idéia de como vai se hospedar em São Paulo antes da prova. "Não tive tempo de pensar nisso. Vou chegar, ligar para uns amigos, parentes, sei lá. Pelo menos vivo uma situação melhor do que em 2003", conta.

Na temporada passada, Amora da Silva levou a cadeira aos cruzamentos mais movimentados de sua cidade. De carro em carro, pedia uma ajuda para competir em São Paulo. "Foi um sacrifício danado que deu certo. Sorte que não precisei passar por isso de novo."

Sua preocupação é a mesma dos companheiros: livrar-se das fendas nas ruas para preservar o físico e o equipamento. "Minha roda já está desgastada por causa de uma queda que sofri no ano passado. Não quero vê-la destruída", conta Amora da Silva.

Além dele e de Queiroz, a prova terá um cadeirante de Ananindeua (Pará), um de Manaus (Amazonas) e outro de Votorantim. A São Silvestre também abriga categorias para deficientes visuais (devem correr ao lado de um guia) e atletas com deficiência nos membros inferiores (competem apoiados em muletas).

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