Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
15/04/2005 - 10h21

Daniel Passarella vê Argentina de todas as raças

Publicidade

EDUARDO ARRUDA
da Folha de S.Paulo

O argentino Daniel Passarella, 51, disse que seu país não é racista, mas multirracial, ao ser questionado sobre as ofensas feitas por seu compatriota, o zagueiro Desábato, do Quilmes, ao são-paulino Grafite. O técnico do Corinthians, em entrevista exclusiva à Folha, também disse que não conhece o santista Robinho, fez lobby para Carlitos Tevez voltar à seleção argentina e disse que pretende voltar a dirigir o time nacional.

Folha - O que você achou da atitude do zagueiro Desábato?

Daniel Passarella - É muito difícil dar uma opinião. São coisas que acontecem dentro de campo, não sei o que aconteceu.

Folha - Esse problema tem acontecido com freqüência...

Passarella - A Argentina não é um país racista, absolutamente. Depois da Segunda Guerra, recebeu muitos estrangeiros. Acredito que, proporcionalmente, é um dos países que mais têm estrangeiros. Somos todos descendentes de italianos, espanhóis, tem muita colônia alemã, há peruanos, bolivianos, paraguaios, chilenos, uruguaios e também brasileiros. Só que, em um jogo de futebol, a mentalidade está acelerada, se quer ganhar, mas é uma coisa momentânea pela pulsação alta, e não uma opinião definida do que se está dizendo.

Folha - Quem assimila melhor a tática: o brasileiro ou o argentino?

Passarella - Os dois assimilam. Jogador brasileiro, argentino e uruguaio se destacam em relação ao resto do mundo. Estão mais acostumados a jogar com linha de três, linha de quatro, com muitas variações. Eles captam rapidamente o que quer o técnico.

Folha - Como é o Kia Joorabchian [presidente da MSI] em relação aos outros dirigentes com os quais você trabalhou?

Passarella - Sempre trabalhei com dirigentes mais velhos. Estou contente em trabalhar com o Kia e com o Corinthians. Ele é impetuoso. O Corinthians tem uma placa aqui, se você joga, está escrito "Deportivo ganhar". O Kia tem uma placa "Deportivo ganhar", ele quer ganhar e eu também.

Folha - Você já sabia que o Corinthians era assim?

Passarella - Eu sabia que o Corinthians era assim antes de vir. Que o objetivo é ganhar, ir à Libertadores e ganhar. Se não ganharmos a Copa do Brasil e, no Brasileirão, não nos classificarmos para a Libertadores, minha experiência no Brasil vai terminar. Mas eu gosto desse desafio.

Folha - Você tinha fama de ser um técnico muito rígido, disciplinador, mal-humorado. Mas aqui tem se mostrado bem diferente disso...

Passarella - Alguma coisa eu mudei. Creio que tem o aspecto sentimental, já que passei por problemas familiares muito graves [as mortes do filho e do pai], mas no futebol não acredito que tenho mudado. Eu respeito todos, meus colaboradores, os repórteres, a torcida, só não gosto que não me respeitem. Quando não sinto o mesmo respeito da outra parte, aí sim sou difícil.

Folha - Você pretende voltar a dirigir a seleção argentina?

Passarella - Eu gostaria de voltar, mas tenho um problema. Se volto para trabalhar na seleção argentina, tenho que encontrar uma nova mulher. Vai ser um problema. Há 35 anos estou com a mesma mulher e ela não quer mais que dirija a Argentina.

Folha - E a seleção brasileira? Já passou pela sua cabeça?

Passarella - Não vai ser possível. Eu acredito que por muitos anos nenhum argentino vai dirigir a seleção brasileira, e nenhum brasileiro vai dirigir a seleção argentina. Pela rivalidade, seria muito difícil de acontecer.

Folha - Quais as diferenças entre técnicos brasileiros e argentinos?

Passarella - Não conheço muito os técnicos brasileiros. Os treinadores argentinos são capazes, têm boa formação. Tem uma quantidade enorme de argentinos que trabalham na Europeu. O argentino se adapta muito ao que pede o ambiente do futebol.

Folha - O Tevez do Corinthians é o mesmo que jogava na Argentina?

Passarella - Carlitos é um jogador regular, atua sempre em um nível alto. Agora está jogando no futebol mais competitivo que há no mundo, o brasileiro, e se destaca. Carlitos é um jogador de seleção, me chama a atenção o fato de que não esteja sendo convocado para a seleção. Pela maneira de jogar, ele está merecendo. Ele não precisa que eu peça por ele, mas não tenho dúvida de que ele deve ser chamado no próximo jogo.

Folha - Quem é melhor: Tevez ou Robinho?

Passarella - Eu não conheço o Robinho, não posso fazer uma comparação. E as comparações não são boas. Posso falar de Carlitos porque estou próximo, sei como trabalha, é um jogador excepcional fisicamente, que estou feliz em trabalhar. Ele está entre os dois ou três melhores jogadores argentinos da atualidade.

Folha - Você já tem a dimensão do que é o Corinthians?

Passarella - Eu recebo elogios da gente do Corinthians, que dizem que estou trabalhando bem. Kia também afirma que está feliz com o meu trabalho. As pessoas têm me elogiado nas ruas. Ainda não estou totalmente integrado ao clube, mas estou caminhando bem para isso.

Folha - Era o que você esperava?

Passarella - Estou satisfeito, sinto-me muito bem. Para mim, quando decido trabalhar com uma equipe, existe uma possibilidade de se equivocar, mas não me equivoquei. Estou convencido de que foi um acerto trabalhar no Corinthians. Está bom para mim, para a minha mulher, com a minha família. O pessoal da MSI e do Corinthians me deu muita responsabilidade, mas muito apoio também.

Especial
  • Saiba o que já foi publicado sobre o Corinthians no Estadual
  • Leia mais notícias no especial do Campeonato Paulista-2005
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página