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21/04/2005 - 10h56

Leitura labial de argentino é contestada; amigos de Grafite recuam

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LUÍS FERRARI
da Folha de S.Paulo

Um dia após Grafite recuar e mostrar que não deve levar adiante o caso contra Leandro Desábato, as duas testemunhas ouvidas pela polícia na investigação também mudaram suas versões.

Após serem informados pela Folha que especialistas em leitura labial consultados pela reportagem contestavam o testemunho que apresentaram há uma semana no 34º DP, Fabio Bolla e Eduardo Sorrentino se retrataram.

Na noite em que o zagueiro do Quilmes foi preso por injúria contra o são-paulino, os dois --o primeiro, assessor de imprensa, o segundo, amigo pessoal de Grafite-- disseram ter visto nitidamente, por meio de leitura labial das imagens da TV, Desábato xingar Grafite de "negro de merda".

A Folha então levou a cópia da imagem da vitória do São Paulo sobre o Quilmes por 3 a 1 para três fontes distintas, que declararam ser impossível a conclusão que as testemunhas apresentaram.

As imagens foram analisadas pelo perito foneticista Ricardo Molina, por Erika Eguti, fonoaudióloga do setor de audiologia educacional da Santa Casa de São Paulo, e pela equipe de professoras do Instituto Severino Fabriani, escola para jovens com deficiência auditiva com mais de 25 anos de tradição no oralismo.

"Fui indagado se vira uma imagem de Desábato xingando o Grafite e confirmei ter visto nitidamente a palavra "negro". Então disseram que os outros depoimentos haviam registrado "negro de merda", e eu falei: "Esse foi o xingamento'", contou Bolla sobre o que testemunhou na delegacia.

Ontem, porém, disse que não leu nada além de "negro" nos lábios de Desábato. Só soube do "de merda" após falar com Grafite.

Sorrentino também afirmou não ter visto o argentino usar a expressão na TV. "Quando o Desábato falou o "de merda", Grafite já estava empurrando a cabeça dele, o que não permitiu ler os lábios."

Bolla e Sorrentino foram acusados por dirigentes argentinos de terem comido pizza e trocado abraços com os policiais dentro do distrito após os depoimentos.

O próprio Grafite também confirmou ser impossível ver, nas imagens transmitidas na noite do jogo, a ofensa "completa". "O "de merda" foi dito quando eu empurrava o rosto do adversário."

"As imagens mostram a articulação de uma única palavra. Não houve tempo hábil para Desábato ter afirmado "negro de merda" no vídeo exibido", afirmou Molina. O perito digitalizou e examinou as imagens em câmara lenta.

"Há uma imagem de Desábato de costas e de perfil, em que é impossível identificar sua articulação labial. Quando é flagrado de frente pela câmera, já gritava com Grafite. Deve ser um fragmento de palavra, no qual é impossível identificar 'negro'", explicou ele.

Molina também mandou as imagens para a análise de um colega argentino, para evitar ser traído por erros na identificação de alguma gíria em espanhol.

Eguti descartou a possibilidade da palavra "merda" ter sido flagrada pelas câmaras. "Nessa fala, com certeza, não vi "negro de merda" nos lábios do argentino. Seu movimento labial indica que proferiu uma palavra terminada em "o". Se tivesse dito algo com "a" no final, sua boca teria que estar bem mais aberta", afirmou ela.

A fonoaudióloga disse que a leitura labial do que é dito numa partida de futebol é muito difícil, até para seus pacientes mais experimentados na prática, acrescentando que as imagens talvez nem mostrem uma palavra inteira.

As especialistas no ensino de leitura labial Sonia Eugênio, Marisa Antunes e Simoni Borges da Silva concordam com Eguti. Elas foram unânimes ao identificar apenas a sílaba "inho" na boca do zagueiro argentino.

Isso também confronta a versão de Desábato, que ontem afirmou ter chamado Grafite de "cagón", palavra que exige uma expressão facial distinta da registrada pelas imagens da TV.

Especial
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