24/12/2005 - 12h51

Internet já guarda a história do esporte

LÚCIO RIBEIRO
Colunista da Folha de S.Paulo

É bola na rede. Na rede de computadores. Na carona da revolução musical causada pela troca de arquivos na internet, o futebol já tem no mundo virtual sua história mostrada e documentada em alta velocidade e de diversas formas.

Um computador básico com uma placa de vídeo e outra de som e você tem ao alcance de alguns cliques os gols do tricampeonato mundial do São Paulo, os dribles de Ronaldinho nos tempos do Grêmio, o chapéu e o gol de Marcelinho pelo Corinthians contra o Santos na Vila, o pênalti perdido pelo mesmo contra o Palmeiras na Libertadores-00, o primeiro gol da história das Copas do Mundo, a campanha do Arsenal no título inglês de 1990/91, os famosos gols perdidos do Pelé ou bobagens como a cantora Diana Ross perdendo pênalti na abertura da Copa de 1994. Isso em vídeo.

Em áudio dá para conseguir a narração de gols (por exemplo, os gremistas podem baixar o gol da "ascensão", do Anderson, de narrador gaúcho e pernambucano), qualquer hino de qualquer clube, a torcida Raça Rubro-Negra cantando "Oh, Meu Mengão", a banda Quiss fazendo uma versão tecno brega do hino do Fluminense.

As possibilidades são infinitas. Com o simples digitar da palavra "Arsenal" em programas como Emule ou Soulseek você encontra imagens oficiais e amadoras de jogos, lances, personagens do time inglês, tiradas de DVDs, telejornais de TV ou de um mero celular com câmera. É muita informação? É assim a internet.

Mas nem tudo reside em programas de troca de arquivos. Sites, blogs e fotologs sobre futebol reproduzem grandes momentos do futebol de 50 anos ou cinco dias atrás, como no americano You Tube (www.youtube.com).

O site foi inaugurado em fevereiro deste ano para ser o "lar" dos vídeos amadores, dos tiradores-de-sarro de som e imagem. Com a massificação das máquinas digitais e dos celulares com câmera, é um centro virtual para quem vive no exterior gravar mensagens ou algo do dia-a-dia, para mostrar para pessoas distantes. Com isso dá para "subir" vídeos de qualquer coisa. Inclusive futebol.

No dia seguinte ao título mundial conquistado pelo São Paulo, o You Tube tinha coisas "simples" como o gol de Mineiro e imagens pessoais captadas por gente que esteve no estádio. O torcedor Lúcio Oshima, por exemplo, colocou quatro vídeos para celebrar o tri. Ele mostrou: o aquecimento da torcida antes de pegar o ônibus e ir para o estádio; imagens do meio da Independente, cantando gritos de incentivo; parte da festa de cerimônia; e como a torcida se comportou enquanto os times estavam perfilados na hora do hino.

Pierre Moreno, personagem aleatório pego pela reportagem da Folha baixando vídeo do craque brasileiro Ronaldinho, é um francês de 25 anos que coleciona lances de futebol na internet.

"Eu sempre procuro gols bonitos e dribles fantásticos", diz ele, que trabalha numa biblioteca de uma universidade em Montpellier. "Procuro música também, mas, de uns tempos para cá, fiz CDs com imagens de futebol."

Moreno diz que, se antes o amante do esporte colecionava revistas que falava sobre lances e gols, hoje ele já guarda as imagens dos lances e dos gols em si.

O jornalista brasileiro Maurício Teixeira, 28, é outro caçador de futebol na rede de computadores. "Faço isso principalmente quando perco os gols de uma rodada de futebol internacional", afirma ele, que mantém há três anos um blog sobre futebol chamado Blog de Bola (http://blogdebola.blig.ig.com.br/).

Teixeira diz que surfa atrás de bola na rede por consumo próprio. Não sobe vídeos em seu blog, por causa da discussão de ser pirataria ou não usar imagens esportivas na internet. "O máximo que faço é indicar links onde tenha vídeos interessantes", afirma.

"Outro dia, um fã grego do Rivaldo reuniu vários lances dele em jogos do Olympiakos, do Barcelona, da seleção e montou um documentário de oito minutos em vídeo. Subiu no Google Video. Indiquei no blog."

"Tenho um amigo de Portugal que me manda gols do Sporting pelo MSN. 'Quer ver o gol do Liédson de agora há pouco? Eu tenho aqui', ele fala."