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Marco
Ankosqui/Folha Imagem
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Debate
realizado no auditório da Folha |
Os portugueses não conhecem os brasileiros
e vice-versa. E, o que talvez seja pior, os dois povos muitas vezes se equivocam
na hora de realizar uma auto-análise. Essas foram as conclusões do debate
"A recusa do olhar", realizado sexta-feira (5/5), às 19h30, com promoção
da Folha e do Icep (Investimentos, Comércio e turismo de Portugal).
Participaram do debate os historiadores portugueses António Hespanha, comissário-geral
da Comissão Nacional para as comemorações dos Descobrimentos Portugueses,
e Francisco Bethencourt, professor da Escola de Altos Estudos de Paris,
além do ensaísta português Eduardo Lourenço, autor do livro "Mitologia da
Saudade".
"Os portugueses acham que não fizeram mal nenhum ao mundo porque são amorosos.
E alguns brasileiros dizem que meus avós são responsáveis pelas mazelas
do Brasil, mas não percebem que foram os avós deles, portugueses que foram
para o Brasil, não os meus, que ficaram", afirmou Hespanha.
"E essa atenção, essa importância que o Brasil daria a Portugal é excessiva",
completou Lourenço. Para ele, a discussão sobre a interação entre os países
existe no círculo de historiadores, mas não encontra respaldo na população,
de um modo geral. "Para falar dessas relações, primeiro teríamos de definir
sobre quem estamos falando. Até que ponto as populações dos países estão
envolvidas nesse debate?", completou e questionou Bethencourt.
Como prova dessa falta de interesse entre os países, foi citado por um dos
participantes do público da palestra a inexistência na USP (Universidade
de São Paulo) de uma cadeira de estudos da história de Portugal. Em outro
momento do debate, Lourenço começou a discorrer sobre a falta de inimigos
do Brasil, afirmando que o país nunca entrou em guerra contra outra nação.
A jornalista e colaboradora da Folha Cynara Menezes, que mediou o
encontro, interrompeu e lembrou o ensaísta da guerra do Paraguai. "Sim,
foi algo horrível, vergonhoso para a América Latina", disse Lourenço, antes
de continuar suas afirmações sobre a falta de guerras envolvendo o Brasil.
Aparentemente, "a recusa do olhar", refletida na falta de conhecimento histórico
entre os países, vai mesmo muito além.
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