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da Folha Online
Adriana
Elias/Folha Imagem
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André
Singer, durante o debate "Esquerda e direita no eleitorado brasileiro" |
"A intuição ideológica serve para orientar o voto, mas ela não garante o
voto sozinha." A afirmação é do professor André Singer, do departamento
de ciências políticas da USP, que lançou, quarta-feira (17/5), em debate
promovido pela Folha e pela Edusp, o livro "Esquerda e direita no
eleitorado brasileiro". O evento foi realizado às 19h30, no auditório da
Folha.
Participaram do debate, além de André Singer, Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente de honra do PT, Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do departamento
de economia da USP, e Antonio Manuel Teixeira Mendes, que é superintendente
do Grupo Folha e foi diretor do Datafolha de 1985 a 91.
Segundo Singer, há uma correlação entre fatores como renda familiar ou escolaridade
e a escolha do eleitor na hora do voto. "Os eleitores de baixa renda, no
Brasil, têm uma tendência a se identificar com a direita, porque buscam
a ordem, e acreditam que essa ordem só vai ser conseguida por meio de uma
autoridade forte, vinda de cima", explica.
Para o presidente de honra do PT, a definição de tendência política do eleitorado
acontece à medida que o eleitorado se organiza. "É claro que, quem tem o
que conservar, vai ser conservador politicamente. O desafio que é imposto
à esquerda é não deixar que a população de baixa renda se torne conservadora",
diz Lula.
Ele diz reconhecer que, muitas vezes, o que a esquerda oferece não é o que
o eleitor está disposto a aceitar. "Nós oferecemos uma carga ideológica
grande, mas se o eleitor quer cesta básica, e nós não temos cesta básica
para dar a ele, fica difícil convencer a quem está com fome."
O professor Eduardo Giannetti diz que nem sempre a polarização entre esquerda
e direita é latente. "O mundo não é sempre bipolar, é multidimensional.
Há fatores de curto prazo que podem interferir no resultado de uma eleição.
O carisma de um candidato como Collor, por exemplo, reverteu o resultado:
em maio ele tinha apenas 4% das intenções de voto e, alguns meses depois,
foi eleito", afirma.
Singer afirma que não subestima as razões de curto prazo, mas diz acreditar
que a orientação ideológica tem peso na hora do voto. "Se não tivesse, como
explicaríamos que, com todo o sucesso do Plano Real em 94, a esquerda tenha
tido um terço dos votos?". Para ele, "o desempenho macroeconômico do governo
não muda a orientação ideológica do eleitorado".
Segundo o superintendente do Grupo Folha, Antonio Manuel Teixeira Mendes,
do ponto de vista do eleitorado, de acordo com pesquisas feitas pelo Datafolha,
o eleitorado em geral não considera tão negativamente a posição direitista
dos políticos quanto eles próprios. Ele citou uma pesquisa do Datafolha
que mostrou que é bem maior o número de pessoas que posicionam à direita
do que o número de parlamentares que assumem o mesmo perfil ideológico.
"Só 3% dos congressistas se colocaram à direita na época das pesquisas",
disse, referindo-se às pesquisas eleitorais de 1989.
Questionados se seria possível prever resultados para as próximas eleições,
os debatedores concordaram que não é possivel imaginar um resultado para
o próximo pleito presidencial. "A eleição em dois turnos pune quem tem maior
rejeição, por isso os votos do centro", diz Eduardo Giannetti.
"Eu não acredito em dois candidatos de esquerda no segundo turno. Por enquanto,
os candidatos que se apresentam como mais fortalecidos são o Lula e o Ciro
Gomes, mas a direita não se estruturou ainda. Hoje, a própria esquerda sabe
que precisa dos votos dos eleitores de centro", concorda André Singer.
(Adriana Resende)
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