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05/12/2002 - 02h55

Em "Pietá", Milton retribui Elis Regina e dá voz a sua filha

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S. Paulo, no Rio de Janeiro

Um ciclo mítico se fecha em "Pietá", novo álbum de Milton Nascimento. Em 1966, Elis Regina (1945-82) foi a primeira artista a dar visibilidade à sua música, gravando "Canção do Sal". Desde então estiveram para sempre ligados musicalmente. Hoje Milton, 60, dá o troco e se torna o primeiro a dar voz, em disco, à filha caçula de Elis, Maria Rita Mariano.

"Estive pouquíssimas vezes com Rita na vida, e de repente ela me apareceu com um CDzinho, pedindo para eu dizer o que ia ser da vida dela. Acho que há o dedo de Elis aí. Foi a pessoa que me lançou, eu agora sou uma espécie de Elis da Maria Rita", ele justifica.

Arredia a entrevistas até aqui, Maria Rita, 25, fala e confirma a empatia mítica entre os dois: "Ele diz que só me viu quando eu tinha três anos, mas tenho outra lembrança. Lembro-me dele em casa com meu pai [o músico Cesar Camargo Mariano], e eu, muito tímida, indo pedir autógrafo. Sempre me senti ligada a Milton. A primeira música que lembro ter ouvido e me tocado na vida é "Bola de Meia, Bola de Gude'".

Maria Rita canta em duas faixas de "Pietá", assim como duas outras intérpretes que Milton pretende desvendar num projeto de homenagem às vozes femininas.

Assim como Maria Rita, a mineira Marina Machado, 30, e a paulista Simone Guimarães, 36, receberam duas canções cada para dividir com o padrinho. Juntas, as três se unem ainda na canção final do CD, "Vozes do Vento".

A excitação da visibilidade que Milton pode lhes proporcionar coloca as moças à flor da pele. É o que acontece quando falam da discrepância de Marina e Simone estarem há mais de década na estrada, com vários discos lançados, e de ser a filha de Elis que desperta curiosidade prévia e instantânea.

Maria Rita (que perdeu a mãe aos quatro anos e estudou dos 16 aos 24 no exterior) enfrenta a delicada situação: "Não posso me culpar por isso. Se fosse filha do Fernando Collor, fugiria do país. Mas minha mãe nunca fez mal a ninguém. Já caio de balão no centro desse negócio, e estou crua, totalmente. Gravando essas músicas, choro. Não estou trabalhada".

"Por opção fiquei em Belo Horizonte, de onde é mais difícil ser vista pelo Brasil todo. Mas vejo que quanto mais alimento minha arte mais tenho ganhado em troca", afirma Marina, as lágrimas correndo pela face. "Só agora começo a tomar consciência do que está acontecendo.
Nunca imaginei que ia chegar perto de pessoas assim, como Milton e a filha da minha cantora predileta."

Maria Rita completa: "Poderia achar que tenho um diferencial, mas para mim o fundamental foi o momento em que eu me descobri cantando e me apaixonei por isso, sozinha. Estou fazendo, indo, tentando recuperar o tempo vivido numa outra situação".

Agora estão no rosto de Maria Rita as lágrimas que correm. Simone, os olhos brilhando, fotografa seu choro. "Sou bem paparazzo", brinca.

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