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30/12/2002 - 06h05

Era FHC: Controle remoto reduz as opções na televisão

IVAN FINOTTI
da Folha de S. Paulo

Ratinho, Gugu, Fausto Silva? Pegadinhas, videocassetadas, exames de DNA? Latininho, sushi erótico? Se há um ícone que marcou a televisão nos anos FHC, não foi nenhum desses. De certa forma, o ícone foi todos eles ao mesmo tempo: foi o controle remoto.

O pequeno aparelho transformou as estratégias das redes e o hábito dos telespectadores. Acirrou a concorrência e obrigou as emissoras a estimular os espectadores de forma cada vez mais intensa. E contribuiu para que as fórmulas e as opções de programação ficassem mais reduzidas.

"Há dez anos, a estratégia das emissoras era uma grade estável, para que o espectador estivesse sempre ali, no mesmo horário", afirma Flavio Ferrari, diretor-executivo do Ibope Mídia.

Mas, há dez anos, apenas 25% dos aparelhos de televisão no país possuíam controle remoto. Agora são 80%. "Hoje, o paradigma é a permanência do espectador no canal, fazer ele esquecer que o controle remoto existe. E, para isso, as estratégias são outras."

São mais agressivas, já que, numa sociedade globalizada e cada vez mais rápida, os estímulos necessários para cada um se desligar de seus próprios problemas -e se ligar na programação da TV- têm que ser cada vez maiores.

Em meados dos anos 90, a Globo notou queda de audiência nas novelas. Uma pesquisa culpou o controle remoto. As novelas estavam lentas demais para a nova mania: o zapear de canais.

A saída foi criar mais histórias dentro dos núcleos de apoio, mais participações curtas e mais reviravoltas. Hoje há sempre algo acontecendo nas novelas, no lugar do extinto "A seguir, cenas dos próximos capítulos".

Os telejornais também. Se antes noticiavam os acontecimentos importantes logo no início, os jornalistas de TV aprenderam a manter o espectador em suspense ("Nesta edição, você vai ver...").

Reclama-se que nunca houve tanto sexo e violência na TV como hoje, mas há dez anos dizia-se o mesmo. "Existe igual. O que não existe mais é a sutileza", opina Ferrari. Se uma cena de beijo era o bastante para prender nossas avós à televisão, hoje o programa precisa ser mais contundente.

Outra mudança é a democratização da audiência. Nos anos FHC, 13,9 milhões de pessoas migraram de classes de menor para as de maior poder aquisitivo. Em 93, 87% das famílias possuíam TV em casa. Em 2000, já eram 94%.

Assim, ao subir um degrau na escala social e adquirir televisões, essa nova fatia de telespectadores também passou a ser medida pelo Ibope. Ao mesmo tempo, um público mais abastado migrou para a TV paga, cujo número de assinantes saltou de 400 mil (94) para 3,5 milhões (2001).

O problema é que a noção de entretenimento e diversão varia de um para outro. Impossível agradar a todos, melhor exibir o que dá mais audiência.
Se uma fração dos brasileiros tacha a televisão hoje como popularesca, outra grande parcela a entende apenas como popular. "Você tem que olhar a TV olhando para o povo que tem", resume o diretor do Ibope. Afinal, é tudo entretenimento.

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