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18/02/2003 - 04h03

Ex-diretora de museu fala sobre a cultura no governo de Chávez

SYLVIA COLOMBO
editora-adjunta da Ilustrada

A editora estatal Monte Avila já foi uma das mais importantes da América hispânica. Em termos de publicações, perdia apenas para a gigante mexicana Fondo de Cultura Económica. Nos anos 2001 e 2002, porém, a Monte Avila lançou pouco mais de uma dúzia de livros, sendo a maioria reedições.

A agonia da tradicional editora -que chegou a publicar autores espanhóis perseguidos pelo franquismo quando esses eram proibidos na Espanha- é um dos sinais de como a cultura vem sofrendo na Venezuela, por falta de recursos, por descaso governamental ou pelos dois juntos.

"Em seus discursos, jamais escutei Chávez pronunciar a palavra cultura como preocupação real. Tudo o que diz são frases de efeito, como a idéia de que a cultura deve servir de instrumento para a sua revolução bolivariana."

Quem observa é Sofia Imber, 78, ex-diretora do Museu de Arte Contemporânea de Caracas Sofia Imber (Maccsi) em entrevista à Folha, por telefone, de Caracas. "Nos anos 70, a Venezuela viveu um período de extrema criatividade artística e abriu-se para exposições internacionais. Hoje, só se fala de cultura 'patriótica'", diz.

Imber criou o Maccsi em 1971. Depois, este passou a pertencer ao governo por obter crescentes subsídios estatais. Transformou-se num dos mais importantes acervos de arte contemporânea da América Latina. Conta com cerca de 3.000 obras (há Picasso, Chagall, Bacon, Vasarely e outros).

Imber se manteve à frente da instituição por quase 30 anos. Em janeiro de 2001, Chávez anunciou a destituição de dirigentes de 36 instituições culturais ligadas ao governo por considerá-las elitistas. Imber foi um deles. À época, os opositores de Chávez compararam o processo à Revolução Cultural chinesa. O presidente disse que sua revolução era "bolivariana", o que em suas palavras significava que a cultura deveria "ser popular e criadora da libertação dos venezuelanos."

Hoje, dois anos depois do afastamento, Imber, que também é jornalista, prepara o lançamento de um livro sobre a importância dos museus no Terceiro Mundo e a edição de entrevistas que fez para a TV com personalidades políticas do país nos últimos 20 anos.

"Até hoje, só o que foi feito pelos que ficaram responsáveis pelo museu foi discutir, nada aconteceu", diz Imber. A nova direção do Maccsi apresenta como proposta a valorização da produção artística e do artesanato nacionais. "É algo parecido com a propaganda soviética", diz. "Crêem que a agricultura, o trabalho urbano, devem estar representados na arte, como na época de Stálin e do realismo socialista, operários trabalhando nas fábricas, mulheres com crianças..."

Por uma ironia do destino, Imber vem a ser filha de um casal de imigrantes russos que fugiu justamente do bolchevismo. Viúva de um dos mais destacados pensadores venezuelanos, Carlos Rangel, Imber nasceu na Rússia, e chegou à Venezuela em 1930.

Além de dirigir o Maccsi, Imber foi editora de cultura do jornal "El Universal" -um dos mais importantes da Venezuela. "Existe uma impressão muito daninha de que há liberdade de expressão pelo fato de os jornais publicarem artigos contra Chávez. Mas, a cada artigo, aumenta o ódio que ele alimenta pelos jornalistas e a retaliação não tarda. Acusa-nos de fascistas, mas sei que não sabe o que significa essa palavra."

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