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28/03/2003 - 08h30

Sucesso no Carnaval, Cláudia Leite é nova voz feminina da Bahia

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MARCELO BARTOLOMEI
Editor de entretenimento da Folha Online

Há uma nova voz feminina em Salvador. Cláudia Leite, 22, vocalista do grupo Babado Novo, é a nova promessa da música, voz e performance que surgiram graças ao fenômeno da pirataria no Nordeste e começa a ganhar corpo no Sul do país.

A história do Babado Novo, empresariada pelo mesmo grupo de pessoas que lançou o "É o Tchan!", começou com uma gravação não-autorizada durante um show na Paraíba e já rendeu um contrato com a gravadora Universal Music.

A vocalista, que incendiou os trios elétricos com os quais passou na avenida durante o Carnaval em Salvador, confundindo os ouvidos do folião desavisado. "Quem está vindo aí? Daniela ou Ivete?", perguntavam. Nenhuma das duas.

A voz soa entre Daniela Mercury e Ivete Sangalo. A cantora nega. "Não acho meu timbre de voz igual ao de Ivete. Não sou uma cópia de Ivete. Peço que as pessoas tenham paciência para me conhecer melhor", diz a jovem loira que, à frente do grupo, não pensa em outra coisa que não seja animar o público.

"Nossa letra é simples, mas não considero pobre", resume, ao falar sobre a qualidade --ou a falta de-- musical do grupo.

Confira trechos da entrevista com a cantora:

Divulgação
A cantora Cláudia Leite
Folha Online - Você fez sucesso no Carnaval de Salvador...

Cláudia -
Desde 1996 eu faço Carnaval em Salvador em cima de blocos independentes. Este foi o Carnaval mais feliz. Todo artista quer atrair a atenção para a sua arte. Desta vez, isso aconteceu de fato. Foi a coisa mais fantástica... ser ovacionada por tanta gente... nunca esperei receber tanto carinho e tanta atenção das pessoas. Receber o carinho das pessoas é melhor do que cantar.

Folha Online - Como começou esta carreira?

Cláudia -
Cheguei a puxar dois blocos em seguida. Cantei em trio independente, fiz participação em alguns blocos e fiz Carnaval de bairro, nos palcos que a prefeitura monta.

Canto desde os 3 anos. Minha mãe me colocou para cantar uma música da Emília, do "Sítio do Picapau Amarelo". Com 7 anos eu fiz parte de um grupo infantil, chamado Piaçã em Salvador e, com 12 anos, eu fiz parte da banda de Nando Borges, um compositor baiano, como backing vocal.

Folha Online - Então começou muito cedo...

Cláudia -
Eu já era bem desenvolvida. O dom de cantar é um arquétipo, um presente divino.

Folha Online - Como surgiu o Babado Novo?

Cláudia -
Eu fazia barzinho simultaneamente a todos os trabalhos que eu tinha com banda. Eu tinha vontade de fazer música pop com minha banda, onde eu tivesse direção artística e musical. Eu conversei sobre isso com o Sérgio Rocha, que é o nosso diretor atualmente. Ele me disse que se a gente fosse fazer música pop a gente jamais poderia tocar em trio. E eu nasci em trio elétrico e não poderia aceitar isso.

Foi quando a gente resolveu fazer esta mistura de música pop com música baiana, que harmonicamente é muito simples e percussivamente é simples demais. A gente não se preocupa em fazer grandes arranjos, mas com que haja interação e que as pessoas nos entendam. Assim é nossa verdade, eu sempre fiz isso. O Babado Novo é esta mistura.

Folha Online - O público lhe ovacionou no Carnaval, mas desde o início da banda você conquistou seu lugar em Salvador. Onde está a chave do sucesso?

Cláudia -
Na franqueza, na verdade. Sempre acontecem coisas inusitadas no nosso palco. Sobre tudo isso eu acredito, piamente, que Deus abriu as portas para a gente. O público se identifica com a verdade e nós todos somos abençoados por Deus. Estas duas coisas associadas fizeram a gente interagir muito bem com o público.

Folha Online - Quando você identifica a empatia do público?

Cláudia -
Vai desde o gritinho até o que eu falo. A musicalidade da banda é direta. Nossa letra é simples, não considero pobre. Ela fala diretamente, não faz rodeio. A gente não se preocupa em ser muito poético, embora sejamos. Não consigo definir a qualidade dos músicos que trabalham comigo, mas a gente consegue fazer uma coisa simples e espontânea. O nosso objetivo é ser feliz.

Folha Online - Você toca violão. Qual é sua base de estudo?

Cláudia -
Eu aprendi com revistinha. Eu até fui para a faculdade de música, mas não dá muito tempo de aprender muita coisa na prática com a teoria musical. Agora eu estou aprendendo também. Eu só aprendo.

Folha Online - Mas você tem experiência em bares e palcos, como você mesma já disse?

Cláudia -
Eu já cantei bastante em Salvador, Aracaju, Feira de Santana e em outras cidades vizinhas.

Folha Online - Você chegou a um nível onde muita gente ainda batalha para chegar. Qual a dica que você dá para o artista que tenta uma oportunidade e ainda toca pelos bares?

Cláudia -
Em barzinho, o cara vai para ficar conversando e manda um bilhetinho para pedir uma música que ele queira ouvir com a namorada. Você não é o centro das atenções. Todo artista necessita disso, tanto o pintor quanto o cantor, o artista de televisão. Quando você faz um show com a banda você consegue prender a atenção.

O conselho que eu dou para quem faz música, independente de onde seja, é que, acima de tudo, acredite e seja apaixonado por isso. O caminho, às vezes, é ardiloso, mas o sabor da vitória é muito bom e merece a paciência para alcançar isso. É necessário que se passe por algumas dificuldades.

Eu acho que ainda tem muita coisa para enfrentar na minha vida, até chegar mais à frente. Estou subindo degrauzinho por degrauzinho e cada passo que eu dou é uma vitória para mim. O que aconteceu no Carnaval foi divino, maravilhoso, e foi graças à persistência.

Folha Online - Quais foram as maiores dificuldades da sua carreira?

Cláudia -
Tiveram várias. A gente rala muito. Há preconceito e a gente se auto-discrimina. Eu ia preencher ficha em hotel e colocava que eu era estudante, não cantora. Quando o artista não é reconhecido, ele se auto-deprecia. Isso já é uma dificuldade a ser enfrentada.

Para conseguir espaço é muito complicado. As portas não se abrem tão facilmente. O mercado está competição pura. Aqui na Bahia, onde todo mundo é muito bom e muito artista, é dificílimo. Aqui é o palco das celebridades com Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Timbalada, Chiclete com Banana... só tem gente de porte, de firmeza... Fora os outros artistas que existem em cada canto de Salvador. Eu acreditei muito que eu conseguiria.

Folha Online - Alguma história marcou muito o seu trabalho?

Cláudia -
Tem, sim. Uma vez eu estava em São Paulo e pedi para dar uma "canja" em um show de uma banda, cujo nome nem vem ao caso. Eles disseram que sim, mas não me chamavam. Eu andei até o fundo do palco escondida e subi, fui lá e cantei. Disse: "E aí, beleza? Vim cantar com você". A maior cara-de-pau. Hoje eu não faria isso. Mas foi massa. Eu pedia, implorava para poder cantar. Foi numa dessas, inclusive, que eu fui vista por Cal Adan [o criador do "É o Tchan!"], que é sócio de Manoel Castro, que é meu empresário também.

Folha Online - Você tem uma energia especial em cima do trio elétrico...

Cláudia -
Foi Deus que me deu isso.

Folha Online - Como é comandar uma multidão?

Cláudia -
Não sei explicar. É algo que acontece. Vamos cantar? Vamos dançar? Muita coisa eu me espelhei em outros artistas, mas muita coisa vem de dentro.

Folha Online - Você compõe também? No que você pensa para fazer uma letra?

Cláudia -
Dizem que é coisa de canceriano... Eu gosto muito de falar de amor. O Sérgio reclama comigo, mas eu não consigo não falar disso. Eu me espelho em Djavan, que é minha inspiração, minha ponte. Ele tem o poder de transformar uma poesia em música, em fazer algo ritmicamente rica, poderosa na letra e fantástica na melodia. Não tenho este domínio que ele tem, mas procuro me espelhar.

Folha Online - Usa experiência própria para falar nas músicas?

Cláudia -
Às vezes acontece de eu falar de uma situação minha ou de algum amigo. Às vezes surge uma coisa bonita e eu chamo o Sérgio e a gente faz junto. Eu faço muita letra "troncha", mas ele me corrige e daí a gente chega numa solução.

Folha Online - O Carnaval acabou e vocês devem ter uma agenda cheia para cumprir... Como vai ser agora, quantos shows vocês têm feito por mês?

Cláudia -
Começou com um show, foi para oito e depois para 20 por mês. Depois daquele CD pirata, a carreira decolou. No início de tudo, em março de 2001, com aquele show, eu ouvi o que eu cantei e fiquei desesperada porque era horrível, deprimente... E as pessoas me dizendo que não. Mas todo mundo cresceu depois daquilo. Hoje eu amo. Teve um dia que eu estava tão cansada e eu tinha folga até sábado. Quando chegou na sexta eu já estava com gás e queria cantar.

Agora a gente vai para o Maranhão. Por enquanto a gente vai fazer só Nordeste. Já fizemos uma vez em Belo Horizonte e em Brasília. Fazemos micaretas como Pré-Natal, Précaju... A gente gravou dois programas "Domingão do Faustão", na Globo. Em função disso, começaram a crescer os pedidos. O pessoal de São Paulo e do Rio quer levar a gente, mas vai ser bem mais para a frente.

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